Neste mesmo dia mas em 2017, portanto há meia dúzia de anos, estava em Fátima, na Cova da Iria nas comemorações do Centenário das Aparições.
Entre milhares de peregrinos presentes no recinto houve um que se destacou: o Papa Francisco. Um homem de fé, mas outrossim de cultura, conhecimento, racionalidade quanto baste e coragem.
Porém do dia 12 e 13 des te mês de Maio de 2017 guardo uma frase que emocionou os fiéis presentes e obviamente o Mundo, especialmente o Católico. Na homília da missa que consagraria os irmãos Francisca e Jacinta como santos da Igreja escutei o Papa dizer: temos Mãe!
Duas palavras que transbordam de realidade. Duas palavras que acrescentam à nossa vida um peso e uma consciência de finitude.
Uma Mãe que é omnipresente na vida de todos nós, que não vemos, não a sentimos fisicamente, mas que está sempre lá!
Quem por aqui passa amiúde sabe que sou católico, professo uma fé, que peregrino, vou à missa sempre que o meu espírito manda. Mas nada desta minha postura me tolda o discernimento no que respeita à postura da instituição Igreja em face dos seus crentes e dos seus padres.
Sempre achei que ser-se padre não é para todos. É necessário sentir o tal “chamamento” do Espírito Santo. Mas como tudo na vida há momentos de dúvidas, incertezas, que podem originar dilemas pertinentes.
O celibato dos padres é uma das mais importantes questões que se levantam actualmente. Será que faz sentido os padres não poderem constituir a sua própria família?
Sinceramente e por aquilo que tenho observado sinto que os padres poderiam perfeitamente casar. Aceito que aquele que o fizesse ficaria sujeito a ser pároco toda a vida sem poder ascender a outro patamar dentro da igreja. Mas provavelmente seria muito melhor padre que seria como Bispo…
Na minha vida conheci, pelo menos, três exemplos de homens que abandonaram a vida eclesiástica para assumirem uma relação fora do contexto da igreja. São hoje homens felizes, realizados e não perderam, ao contrário do que muitas vezes se faz constar, não perderam repito, a fé!
A sociedade “civil” ganhou homens e pais fantásticos, exemplos únicos.
A igreja perdeu padres fabulosos, exemplos perfeitos de como a igreja não deve proceder.
Depois não se queixem de não haver vocações ou da população se afastar da fé católica apostólica romana e optando por vezes por congregações muito duvidosas!
Caberá futuramente ao Vaticano rever os seus dogmas. Assim queira o Papa Francisco e a Curia Romana!
A nossa classe política continua em descrença total. Também não admira com tantos casos envolvendo alguns governantes seria impensável que o povo continuasse a acreditar em tal gente.
Vem isto ao caso de Portugal ter sido escolhido para as próximas Jornadas Mundiais da Juventude que se realizarão em Lisboa em 2023.
Logo que se soube da escolha da capital Portuguesa para tal evento católico eis que surgiram os autarcas da região de Lisboa a chegarem-se à frente, ufanos e vaidosos, para receberem esta manifestação de fé católica. Curiosamente autarquias supostamente laicas ou mesmo anticlericais. Entretanto vão ter que olvidar ou quiçá esconder muitas teorias…
O Governo exulta assim pela perspectiva económica, a igreja portuguesa alegra-se com a responsabilidade da organização, os católicos agradecem a vinda do Papa, os autarcas esfregam as mãos. A fé fica assim para o fim...
Tudo porque este evento pode originar uma receita muito próxima dos mil milhões de... euros!
Já é por demais conhecida, falada e aplaudida a nova postura do Papa Francisco. Acima de tudo mostra ser um homem simples e profundamente humano.
Todos os dias chegam notícias da forma quase “incorrecta” como o Bispo de Roma vem lidando com a sociedade. Respeitador da individualidade de cada um, o novo Papa é uma pedrada no charco das tradições da igreja.
Como já aqui escrevi, este sucessor de S. Pedro, parece estar talhado para grandes feitos. Aquela postura serena pode ser o início de uma profunda alteração não só na estrutura da própria igreja, como da forma como esta se passará a relacionar com os leigos.
Sempre considerei a Igreja como uma entidade muito arreigada às suas tradições mais seculares e claramente pouco aberta a falar e discutir outros dogmas, quiçá incomodativos para a própria Santa Sé.
Só que Jorge Mario Bergoglio não parece temer as verdadeiras consequências dos seus próximos actos. E diz o que pensa sem qualquer receio!
A tão propalada abertura da biblioteca do Vaticano pode ser o pontapé de saída para um novo e aberto pontificado. E uma nova e mais aberta igreja.
Ainda estamos muuuuuuuito longe de saber o que o novo Papa quis dizer ao mundo quando escolheu o nome de Francisco. As teorias decorrem da vida de S. Francisco de Assis ou de S. Francisco Xavier, curiosamente (ou talvez não!) também este último, um jesuíta.
Seja como for, aparecer um nome diferente, que jamais fora escolhido, pode querer indiciar que o argentino, ora eleito Papa, pretende ser alguém diferente dos seus antecessores. E isso pode ser bom para a própria igreja, que muitas vezes surge demasiado longe dos seus próprios fiéis e assaz próxima de interesses dúbios.
Dizia-me uma vez um padre amigo que uma instituição que dura vai para mais de 2000 anos não podia ser só obra do acaso e dos homens. Algo haverá de muito forte para se manter como uma entidade e um polo congregador.
Creio, no entanto, que a Igreja ainda tem um longuíssimo caminho a percorrer até se tornar uma entidade que respire paz e harmonia. E as transpire para fora dos seus redutos.
O novo Papa deu ontem a imagem de um homem sereno. Aquela saudação de “boa-noite” a todo o mundo antes de qualquer discurso, desarmou qualquer céptico. Pois é nos gestos mais simples que se percebe os grandes homens.