Já náo é a primeira vez que sou enganado pelas oliveiras. Por isso procuro muitas vezes o olhar mais habituado e conhecedor como deveria ser o do meu pai. Mas seja pela idade avançada ou pela própria preguiça que a doença o obriga, já não disponibiliza informação credível.
Passo a explicar: em vésperas da saída de Lisboa para a aldeia pergunto se a azeitona estará madura e pronta a colher. Depois onde é que haverá mais e assim sucessivamente.
Pensava eu ontem mais ou menos por esta hora da noite que neste momento estaria fazer contas ao azeite que adviria da medura entregue no lagar hoje.
Mas tudo falhou... Primeiro a chuva dura e persistente que me forçou a regressar a casa mais cedo e completamente encharcado e a ideia de que no Vale (nome do pedaço de terra e pedras) só três oliveiras teriam alguma azeitona.
O problema é que de tarde corri mais de uma dezena de árvores e ainda tenho pelo menos mais 15 para colher. O resultado está lá dentro do barracão com um conjunto de caldeiros de plástico todos cheios até quase bordar. E amanhã lá regressarei ao terreno de maquinaria em punho tentando despachar trabalho.
Portanto o meu experiente e velho pai errou este ano nas previsões da campanha da azeitona pois estão muito acima do que era previsto.
Ainda bem para os apreciadores de azeite cá de casa.
Há alguns anos alguém me dizia que muitos de nós vivemos em modo sanduiche, já que por cima estão os pais com os seus problemas e por baixo os filhos com situações obviamente diferentes dos antecessores, mas ainda assim com problemas que acabam também por nos afectar!
Dito isto declaro que nesta altura gostaria de ter uma vida mais tranquila do que aquela que tenho, especialmente porque estou sempre preocupado com os meus velhotes. O meu pai de 91 anos ainda se considera um homem valente, já que gosta muito pouco ou nada de ser limitado na sua vida ainda autónoma. Porém os seus rins já não trabalham como deveriam e está por isso entregue aos cuidados da hemodiálise três vezes por semana. Uma situação que o coloca preso e dependente de tratamentos hospitalares e isso aborrece-o olimpicamente.
A minha mãe de 85 começa a dar sinais evidentes de uma arterioesclerose preocupante. Esquece-se onde deixa as coisas e das conversas tidas, principalmente comigo. Mas ainda consegue tomar conta de si de forma razoável!
Ora sendo eu filho único e estando eles na aldeia a 120 quilómetros da minha residência, estou sempre com o coração nas mãos temendo que algo de mal lhes aconteça. A verdade é que ambos sentem que conseguem viver a vida sozinhos e sem ajuda, mas é a mim que me bate o coração mais apressado sempre que a minha mãe me telefona. Nunca sei o que virá daquela conversa. Até agora as coisas, não obstante não serem perfeitas, ainda se vão resolvendo.
O meu pai chama-se António. Tem 91 anos. Viveu uma vida recheada de viagens por terras de África e não só. Navegou por muitos mares, muitos deles já navegados, umas vezes em mar chão, mas a maioria em malagueiro.
Nunca enjoou!
Na próxima segunda feira inicia mais uma aventura. Passará a receber no seu já idoso e gasto corpo o primeiro tratamento de hemodiálise.
Não imagino como virá do Hospital nem mesmo como se sentirá!
Olho para ele, os cabelos brancos como neve e diferentes traços de que a idade passou por ele. E dói-me o coração só de imaginar o estado em que chegará a casa.
Todavia esta noite, véspera de um Santo de Lisboa e de Pádua, sinto que o meu pai é o meu verdadeiro e genuíno Santo António!
Mas hoje quero homenagear o meu pai. Mais vale agora que está vivo do que daqui a uns tempos quando tiver partido. Aí as palavras escritas valerão somente para os outros.
Com a idade deixei de lhe oferecer coisas que não precisa. Todavia dou-lhe o carinho necessário para que se sinta sempre acompanhado.
No cimo dos seus 91 anos tem uma força de viver atípica mesmo para a sua idade. Gosto do meu pai como homem e exemplo que foi para mim.
Ensinou-me muita coisa, principamente a viver a vida com seriedade. Adorava e ainda adoro escutar as suas estórias (algumas já sei de cor!!!) do tempo da Marinha e por terras de África. Com ele, pela primeira vez, sentei-me à mesa com dois guineenses que faziam parte do seu pessoal.
Doente como eu pelo nosso Sporting, tivemos a oportunidade de ver ao vivo a vitória do nosso clube numa final da Taça de Portugal em futebol.
Tanta coisa partlhada!
O meu pai não é perfeito, nem foi nem nunca será o melhor pai do Mundo, porque sinceramente não sei o que isso corresponde. Mas é o meu pai e isso deve ter algum valor.
Finalmente a quem ainda tem pai vivo digam-lhes que eu lhes envio um forte abraço.
Se de vez em quando conseguirmos parar e olhar para a nossa vida de um patamar superior conseguimos, quiçá, entender o que tem sido este nosso caminho.
Quando infantes e rebeldes tivemos nos pais a disciplina férrea para que nos mantivéssemos no caminho correcto, ao mesmo tempo que recebíamos uma catrefada de ensinamentos que melhor ou pior fomos aceitando. Ou não!
Crescemos sob a batuta dos pais que nos encaminhavam ou nos levavam ao esmeril da experiência e que tantas vezes detestávamos. Foi assim que nos tornámos cidadãos de pleno direito com capacidade e discernimento para saber fazer as escolhas correctas.
O tempo corre célere para todos. Os mais novos rapidamente se tornam pais e passam a ser eles os comandantes de outras vidas. Ao mesmo tempo os pais sempre tão eloquentes nos conselhor e recados mirram à força dos anos e doenças. É nesta altura da vida que os filhos começam a ser puxados para a vida dos pais... e a responderam por eles.
Hoje mais uma piscina de A1 até ao hospital de Torres Novas, para acompanhar o meu idoso pai a mais uma consulda de Nefrologia. Chamado à consulta a médica continua preocupada com a sua grave insuficiência renal que já originou a criação de uma fístula no braço direito para iniciar o tratamento de hemodiálise,555 quando fosse necessário.
Todavia a cada consulta a médica vai adiando o dito tratamento, não obstante as análises não mostrarem uma evolução positiva. Só que o restante estado geral continua normal, sem queixas e outros sintomas.
Na pequeno gabinete a competente médica acabou por me perguntar o que seria de fazer? Na opinião dela talvez não fosse mau iniciar o tratamento, mas perante a situação de não haver alterações insistiu comigo para que decidisse que caminho seguir.
Foram breves segundos, mas tempo suficiente para perceber que tinha às minhas costas a responsabilidade da vida do meu pai. Naquele milésimo tempo os papéis inverteram-se. Olhei-o e quase deixei que uma lágrima caísse.
A questão parecia simples, demasiado simples: e se corre mal?
A vida é uma enormíssima roda... hoje estamos cá em baixo, subimos e logo a seguir estamos onde começámos.
A próxima consulta ficou marcada para o dia 24 de Abril! Lá estaremos... ambos!
Neste país de gente pouco ousada, triste e muito invejosa, a crítica muitas vezes mal-intencionada e soez é o terreno perfeito daqueles que têm no seu umbigo o centro do Mundo.
Tudo é palco de crítica e todos têm soluções maravilhosas para os seus problemas. Então se falarmos da Saúde em Portugal (ou da falta dela!!) muito mais se critica e diz mal, começando obviamente nos médicos. Depois todo o resto do pessoal leva por tabela…
Neste mar de insatisfação em que este povo mal navega, onde fica então o lugar para o elogio? Não terá espaço nem direito? Certamente que deve ter lugar e deverá ser divulgado.
Deixem-me contrariar todos aqueles que dizem mal da nossa Saúde (eu mesmo já falei mal até porque nem tenho médico de família!), para contar uma estória verdadeira e sendo uma realidade poderia ser também espalhada aos quatro ventos. Podia ser que alguém aprendesse…
O meu pai já tem idade para ter juízo. Noventa e um anos creio ser tempo suficiente para deixar de fazer algumas asneiras.
Vive neste momento uma fase de transição, já que se encontra num estado de pré-falência renal. A sua consulta de rotina a uma nefrologista no CHMT (Centro Hospitalar Médio Tejo) em Torres Novas levou-o recentemente a decidir o que fazer no futuro, assim que os rins deixassem de funcionar.
A opção do meu pai, que não obstante a idade, pensa pela sua própria cabeça, foi de submeter-se a tratamentos de hemodiálise. Aberto o processo, rapidamente foi chamado ao Serviço de Nefrologia para uma consulta Multidisciplinar onde lhe explicaram detalhadamente o que seria necessário. Nesta consulta estiveram presentes: uma médica da especialidade que não a que o costuma seguir, uma enfermeira, uma nutricionista e uma assistente social.
Tudo explicado ao pormenor e sempre com muitos esclarecimentos adicionais!
Entretanto a semana passada parece ter-se constipado e adquiriu uma tosse forte. Perdeu o apetite, tornou-se (mais) amorfo e parecia ter perdido algum discernimento. Daqui de longe aconselhei a minha mãe a levá-lo até ao serviço de urgência do Hospital de Torres Novas, enquanto eu partia de Lisboa também para lá.
Fui encontrá-lo horas mais tarde, no Serviço de Urgência, sentado numa cadeira a aguardar o resultado das análises que já lhe haviam feito. Entretanto antes de sair da capital enviei à médica Nefrologista que o segue no Hospital uma mensagem de correio electrónico contando, em traços gerais o que estava a acontecer.
Estava eu a fazer-lhe companhia quando um jovem médico se aproxima e pergunta pelo nome do meu pai, que ambos respondemos. Foi-nos comunicado que ele tinha uma infecção, cuja origem desconheciam e que tendo em conta os rins seria melhor ficar internado no Serviço de Nefrologia.
Achei que sim, que isso seria o melhor para ele e passada meia hora tenho o meu pai vestido com um pijama do hospital, tendo eu ficado com a sua roupa.
Para não me alongar o meu idoso pai esteve de segunda a segunda internado no hospital, tendo tido alta ontem!
Sei que este postal é maior que o costumo escrever, mas a VERDADE é para ser dita e com todas as letras.
Assim cabe-me como filho, mas também como doente noutras unidades hospitalares, elogiar, leram bem elogiar o Serviço de Nefrologia do CHMT de Torres Novas.
Acima de tudo há ali verdadeiros cuidados médicos! A saúde e o bem-estar dos doentes está primeiro. O Serviço zela pelos pacientes, deixando, com a sua forma de actuar, os familiares mais descansados, porque os doentes geralmente não gostam de ir estar! É normal!
Nas diversas vezes que liguei para a Nefrologia, para saber do estado de evolução de saúde do meu pai, fui sempre bem atendido e acima de tudo, esclarecido! Tanto por médicos como enfermeiras.
Portanto os médicos, enfermeiros, pessoal auxiliar e até o pessoal administrativo demonstraram sempre uma postura altamente competente e profissional, originando deste lado uma confiança e um descanso inusual.
Arrisco mesmo dizer que dificilmente, em hospitais privados, se encontrará um Serviço tão bem organizado.
Finalizo enviando os meus sinceros parabéns, a todo o pessoal médico e auxiliar, sem excepção, ao Director do Serviço de Nefrologia e consequentemente à própria Administração do Hospital.
Assim deveríamos trabalhar todos: em prol dos outros!
O meu pai ficou internado nos Hospital de Torres Novas na passada segunda feira. Os seus 91 anos, uma infecção a que se junta uma quase falência renal não aigurava nada de bom!
Perante esta situação em vez de levar o meu carro levei a carrinho e quando saí do hospital, já com o meu pai internado parti para a Beira Baixa já que estava a meio do caminho e onde fui dormir.
Então o dia de ontem principiou às 66 da manhã, quando fui buscar o pão à padaria. Tomei o pequeno-almoço calmamente para às 8 estar na quinta para ver os trabalhos aí realizados. Depoisfoi a vez de carregar a carrinha de lenha. Bem cheia e depois de tudo bem visto parti do Louriçal do Campo direito ao Covão do Feto para ir yter com a minha mãe. Caminho feito sem chuva,
Na aldeia:
- fui buscar batatas para a minha mãe fazer uma sopa;
- carreguei alguma lenhq da que trouxera para dentro de um barracão contíguo à casa;
- uma má disposição fez-me não almoçar;
- saí às diuas e meia com a minha mãe para ir ver o meu pai no Hospital;
- antes passei por uma loja, mas estava ainda fechada:
- fui para o hostpital onde âs três horas vimos o meu pai;
- uma hoira depois saímos e voltei à loja agora aberta;
- depois um supermercado para comprar víveres;
- regresso à aldeia onde pego na carrinha e parto para o Sul;
- a noite caía e a fila para passar a ponte iniciava em Campolide;
- uma hora depois estou do outro lado do Tejo;
- chego a casa e descarrego um monte de lenha no meio da garagem:
- o tempo piorara e a chuva mal deixava ver o caminho;
- chego a casa descarrego o essencial (o resto ficou para hoje);
- tomo banho e sem coragem para mais nada aterro na cama, ainda não seriam 10 da noite.
Para ajudar à festa confesso que estava febril e este terá sido um dos piores dias desde há alguns anos. Curiosamente no dia em que fiz 40 anos. Dia em que tirei a carta de condução.
A minha amiga Isabel deste espaço diz que tenho pilhas Durecell (passe a publicidade) muito por causa... das causas!
Ou são desafios de escrita, ou são livros, ou a agricultura, viagens, filhos, netas e mais setecentas mil coisas que me aparecem na frente... A todos tento brindar com o meu contributo.
Desde há uns meses a minha vida é passada na A1 entre Lisboa e a saída para a A23. A saúde do meu pai tem vindo a decair consideravelmente. É verdade que os seus 91 anos só ajudam a... piorar as situações que tem, mas há que aceitar.
No entanto como filho, ainda por cima único, não quero deixá-lo desamparado nem à minha mãe. Cabe-me por inerência do cargo e por amor dar-lhes o melhor de mim resumido no meu tempo e disponibilidade.
A semana passada fui com ele a uma consulta e deixei-o em casa em boas condições. A verdade é que desde esse dia até hoje o seu estado geral agravou-se, tendo sido brindado com uma gripe. Não sei se é a gripe A, Covid ou a gripe X, pois o que conta é que tem uma grave infecção. De tal forma que ficou internado.
Ora como estava a meio caminho da aldeia beirã acabei por partir de Torres Novas para Castelo Branco sob uma belíssima chuva. Amanhã vou levantar cedo, ir à padaria comprar pão e pizzas para o almoço, tomar o pequeno-almoço, carregar a carrinha de lenha, pagar a pessoal que tem andado a trabalhar para a família, regressar ao hospital de Torres Novas para ver o meu pai, partir depois para sul com destino à Aroeira onde deixarei toda a lenha. No dia seguinte regressarei finalmente à Amadora!
Portanto alta velocidade na minha vida como é apanágio quase todos os dias. Só espero nunca pagar uma multa por excesso de velocidade de ... viver.
Termino dizendo que levantei-me hoje às cinco e meia da manhã!
A cada dia que passa a questão da velhice preocupa-me. Não no sentido de lá chegar, mas tão-somente em que estado estarei se realmente alcançar esse desiderato!
Hoje mais uma consulta no hospital com o meu pai (já perdi o conto das piscinas de A1 Lisboa- Torres Novas e regresso, que tenho feito ultimamente). A sua saúde está em evidente declínio, mesmo que aparentemente não pareça. Hoje na consulta de Nefrologia assumiu que se tivesse pensado bem não teria aceite fazer a fístula no braço para os futuros tratamentos de hemodiálise até por que a idade já é muita (as palavras em itálico são do próprio).
Se bem que eu não gostasse de ouvir as suas declarações à médica, já no caminho para Lisboa percebi que de alguma forma aquilo fazia sentido.
Só que o meu pai está consciente e autónomo. Pior seria se estivesse demente! Talvez por isto reconheci-lhe coragem em assumir as tais palavras ditas à médica.
Quando somos jovens temos a parva ideia de que seremos eternos, que nada nem ninguém nos conseguirá destruir nem aos nossos sonhos e desejos.
Todavia e conquanto vamos crescendo percebemos que a tal certeza da juventude tem algumas (enormes) falhas. E é aí que surgem as primeiras dúvidas, para mais tarde, muito mais tarde, descobrimos que nada na vida é certo a não ser... o nosso próprio passado!
Só que há excepções!
O meu pai, por exemplo, tem 91 anos e um grave problema de insuficiência renal que o irá obrigar, brevemente, a submeter-se a hemodiálise. No entanto e não obstante a imensa idade que carrega nos ombros para além da doença, ainda pensa que está para durar mais uma imensidade de anos.
Por este lado já não penso assim e tenho consciência perfeita que a minha vida será muito mais curta que a do meu pai. Talvez por isso mantenho um ritmo de vida quase alucinante... pois o pior que me poderá acontecer é descobrir que tenho medo... da minha própria finitude!
O problema não será o fim pois a par do passado é uma certeza! Mas o trilho que terei de percorrer até lá chegar!