A ideia, já quase generalizada de que os verdadeiros amigos são aqueles que advêm dos bancos da escola não tem cabimento no meu espírito.
Acontece que durante o nosso palmilhar pelos caminhos da vida cruzamos com pessoas de quem nos tornamos amigos e que se tornam tão ou mais amigos que aqueles que nos viram crescer.
Digo porque aconteceu comigo e ainda acontece. Acresce esclarecer que na amizade a antiguidade não é um posto, já que um amigo recente pode tornar-se muito mais importante que outros mais antigos. No fundo é tudo uma questão de sensibilidade.
A blogosfera caíu-me nos braços (até parece aquele trecho humorístico do Toni numa das Conversas da Treta) e durante algum tempo pareceu-me um ambiente distante e frio. Enganei-me redondamente! E ainda bem!
Já em tempos falei desta amizade blogosférica neste texto recente.
Entretanto criou-se uma comunidade de bons amigos e que eu, faz hoje precisamente um ano, acabei por juntar num grupo de uotessape! Não me lembro do primeiro nome que o grupo teve, mas actualmente chama-se, e muito bem, "Desgovernados".
Somos apenas 15. Com maior ou menor actividade sei de antemão que estão todos presentes. Uns para os outros. No fundo, no fundo é isso que realmente conta.
Ora como o grupo está de parabéns venho agradecer:
Há muitos anos, ainda o 25 de Abril era uma tenra criança, tive uma conversa, com um colega assumidamente progressista, sobre política. Lembro-me bem dos temas desse início de tarde quando a caminho da escola debatemos ambos: partidos, democracia, liberdade, ditadura, censura e ideologias.
De todo o diálogo com este meu colega, hoje bom amigo e excelente médico, ficou apenas gravado na minha memóriaa uma frase que era mais uma filosofia ideológica. Assumiu ele:
- Jamais poderei ser um democrata!
- Como não és um democrata? Um ferveroso adepto da nossa esquerda mais radical.
Ele respondeu-me:
- Nunca poderei ser um democrata porque há ideologias e partidos com os quais eu nunca consigo conviver! Nomeadamente os partidos fascistas (naquele tempo a palavra direita era raramente usada).
- Mas não há disso em Portugal... Partidos fascistas...
- Isso julgas tu. Um dia verás.
Estranhamente só este fim de semana percebi quanto razão havia naquelas palavras proferidas pelo meu amigo.
Quando há meio século se fez o 25 de Abril logo surgiu o PCP, o PS comomaiores forças políticas. Com a evolução do golpe de estado e a quase certeza da democracia rapidamente surgiram novos partidos.
Nas primeiras eleições para a Assembleia Constituinte em 1975 o PCP teve cerca de 12% dos votos correspondendo a 711 935 eleitores.
Se dermos um salto no tempo para as últimas eleições em 2022 temos o mesmo Partido Comunista que não chega aos 5% correspondendo a 238 962 votos. Isto é o partido da Soeiro Pereira Gomes perdeu meio milhão de votantes. Ora se eu fosse líder do PCP ficaria deveras preocupado.
E não me venham dizer que a culpa é da Direita. A esquerda em Portugal, especialmente através do BE e do Livre, tem crescido. Não tanto quanto muitos gostariam e desejariam, mas a verdade é que desde 2015 é a esquerda que mexe os cordelinhos do poder.
No outro dia vi e ouvi o debate entre Paulo Raimundo e Pedro Nuno Santos. Sinceramente fiquei com a nítida ideia de que o Secretário Geral do PCP estava mal preparado para o debate. Muito mal...
A verdade é que os comunistas mantêm o discurso como estivessem ainda no PREC, olvidando que o Mundo se alterou, as pessoas mudaram e o acesso à informção generalizada está ali à mão de semear.
O PCP teve no seu auge o apoio do trabalhadores das indústrias, transportes e obviamente agricultura (esta mais reflectida no Alentejo). Actualmente muitos desses antigos operários e trabalhadores rurais já não existem e os operários mais jovens não se interessam por sindicalismos nem reindivicações. O que equivale dizer que o PCP perdeu influência a nível operário e agrícola. Depois faltaram ais comunistas renovarem-se, mudarem o discurso, olharem para os problemas com visão de futuro e não como se URSS ainda existisse.
Se se confirmarem as sondagens que tenho visto, Paulo Raimundo pode ver o seu partido a perder (ainda) mais deputados.
Termino então com esta ideia: o País está envelhecido e o PCP muito mais! E é pena!