E depois não me venha cá dizer que a justiça em Portugal funciona!
Pelos vistos se eu tiver morto alguém há mais de quinze anos e que só agora se soubesse, não poderia ser acusado pois o tempo decorrido já fez prescrever o crime. Todavia e ainda assim serei ou não um criminoso?
Finalmente o PS puxou o tapete a José Sócrates. Primeiro foi Carlos César e hoje foi João Galamba, ambos deputados do Partido lider da geringonça, que publicamente declararam sentirem-se incomodados com o caso do ex-PM e em adenda o seu ex-Ministro da Economia.
José Sócrates, desde que foi preso, depressa percebeu o desconforto que causou no seu Partido. E nem as visitas que recebeu na prisão de alguns elementos ligados ao Partido (p.e. Dr. Mário Soares) conseguiu amenizar aquele mau estar.
Vêm aí agora Comissões de Inquérito e com elas muitas coisas mais virão a lume. Ou talvez não...
Certo é que António Costa deve andar desejoso que esta situação se resolva quanto antes, evitando com isso que ela rebente numa altura de eleições legislativas. Nada pior para os intuitos do PM que um escândalo em casa e à porta de um sufrágio. Lá se iria a maioria absoluta, que tanto persegue.
Obviamente que os partidos da oposição vão tentar arrastar este tema até para o ano que vem. Os dividendos eleitorais que poderão ganhar disto ainda estão muito longe de serem calculados, mas deixarão o PS em muitos maus lençóis.
Se no Partido do Largo do Rato ainda resistiam certas dúvidas quanto à involvência de JS em casos de corrupção, estas últimas investigações, envolvendo um Ministro de magistério de JS, deixaram tudo muito mais claro.
Agora é perceber até que ponto o PS conseguirá passar pelos "intervalos desta chuva" sem ficar realmente encharcado.
O número 2 do artigo 32º da Constituição da República Portuguesa diz textualmente o seguinte: “Todo o arguido se presume inocente até ao trânsito em julgado da sentença de condenação…”
Ao invés deste diploma a opinião pública é lesta em julgar e condenar aqueles que ainda não o foram pela justiça. Acrescento que esta postura não se trata de verdadeira justiça, mas pode deformar e de que maneira a vida futura do ou dos visados, mesmo que sejam declarados inocentes.
Trago este tema no seguimento do que tem vindo a lume sobre o antigo Ministro da Economia de José Sócrates, Manuel Pinho. As acusações que pairam sobre este antigo governante podem ser graves, mas é necessário que o Ministério Público faça o seu trabalho, antes de se assumirem condenações prévias.
Não bastava já a Portugal termos algumas feridas expostas com os casos José Sócrates e Ricardo Salgado, para agora surgir mais este conjunto de suspeitas sobre alguém que era, segundo li, um mero testa-de-ferro do Grupo Espírito Santo.
Muita gente critica o silêncio de Manuel Pinho. Eu acho que ele faz muito bem. Na verdade o antigo governante, que nunca foi uma sumidade em comunicação – relembro a sinalética taurina em pleno hemiciclo parlamentar e que lhe valeu a demissão, faz bem em manter-se calado. Não que esta postura o iliba, mas pelo menos não o enterra (ainda) mais.
Termino com a sensação de que, neste momento, as suspeitas que recaem sobre o antigo Ministro, são o pior que podia acontecer a José Sócrates.
A Operação Marquês voltou à ordem do dia. Parece que desta vez, e finalmente, o Ministério Público deduziu acusações contra o Ex Primeiro Ministro, José Sócrates e mais uma datas de “artistas desta bola lusa”.
Mas antes de tudo se encaminhar para a barra do tribunal muitos avanços e recuos virão a lume. Todavia há, desde o início desta trama, uma espécie de mau estar quanto às supostas acusações contra José Sócrates.
O curioso é que esta postura de dúvida e incerteza não seja usada, por exemplo, para Ricardo Salgado. Dito de outra maneira os mesmos que defendem a presunção da inocência para com JS, são os mesmos que consideram Ricardo Salgado culpado antes mesmo do julgamento e do trânsito em julgado.
E quem diz Ricardo Salgado diz todos os outros elementos chamados à liça.
Portanto, e antes de mais, deixem os tribunais fazerem o seu trabalho. A justiça pode demorar, mas vem. Custe o que custar, doa a quem doer.
Felizmente que opinião pública não tem voto nem influência nesta matéria.