O estigma do “filho único”
Durante muitos e muitos anos sofri na pele do estigma do “filho único”. Fosse na escola ou fora desta qualquer coisa que eu dissesse ou fizesse fora do normal, diziam logo que era por ser filho único. Como se esta realidade fosse culpa ou vontade minha.
Acrescentavam também que os filhos morgados eram invejosos e muito mimados. Outro mito sem sentido.
Na verdade, e no que me tocou, nunca invejei ninguém (talvez só aquele colega que tinha um sucesso especial com as raparigas…), nem nunca me senti mimado. Bem pelo contrário.
Até na aldeia alguém achava que eu era maluco, só por dar asas à minha liberdade quando por lá andava.
Mas o tempo e essencialmente a vida teve o condão de me iluminar para o realidade. E de súbito dei conta que o problema provavelmente seria de quem me invectivava.
Deixei por isso de me preocupar com aquilo que diziam de mim e fui fazendo a minha caminhada. Umas vezes caindo, outras erguendo, mas convicto das minhas ideias e desejos.
Quando em 1982 entrei para o Banco de Portugal após dois anos de ferozes testes, o meu prestígio como pessoa, entre aqueles que conviviam comigo, subiu muito. Mas eu continuava a ser o mesmo “maluco” ou o “filho único” que fora até ali. Não mudei…
A diferença residiu na forma como os outros me passaram a ver. Mas nisso eu fui totalmente inocente.
Hoje com 62 anos, reformado e avô dou por mim a pensar naqueles que durante tanto tempo me glosaram e acabo, sinceramente, por ter pena deles.
Porque, acima de tudo, eles nunca perceberam que a vida colocou-nos, para o bem e para o mal, nos trilhos que merecemos!
A gente lê-se por aí!