Não costumo comprar jornais para ler. Sejam eles generalistas ou temáticos. Nem sequer revistas.
Todavia nos últimos dias e por causa do internamento hospitalar do meu pai tenho diariamente comprado um jornal do grupo Cofina mais propriamente o CM, para lhe oferecer.
Passei os olhos pelas gordas sem grande interesse até que a determinada altura deparei com a notícia da decisão de que todas as publicações do grupo adoptariam o NAO, a partir de 1 de Janeiro próximo.
Obriguei-me a ler a notícia e percebi que o Acordo está implementado há 10 anos e segundo declarações de um responsável do grupo editorial “… é inegável que a sua aceitação está estabilizada e é irreversível”.
Se já não gostava de algumas destas publicações pela dificuldade em perceber o interesse nas notícias que transmitem, desta vez ficarão definitivamente rasgadas das minhas opções por terem optado por esta via do AO.
No mínimo considero que deveriam dar aos autores o direito de escolheram sob qual o Acordo é que desejam escrever e não impor uma vontade com a qual os autores provavelmente nem concordam.
Escrito por Alexandre Dumas, A Furna do Inferno foi a última obra lida.
A história, passada no início do século XIX é um romance bem urdido e empolgante.
O mais curioso deste livro é que é uma publicação de 1913 feita pela Livraria Bertrand em colaboração com a sua congénere francesa a Editora Aillaud, Alves e Compª.
Mais invulgar que a data de edição é, sem margem para dúvidas, o seu português. Não na sua forma literária mas essencialmente pela sua forma escrita, já que o português ali apresentado requer alguma paciência e hábito de leitura.
Mas ainda assim prefiro este português (p.e. de duplas consoantes) ao actual, assente no N.A.O.
Portugal como é do conhecimento de todos nasceu enviesado. Quando um filho bate na própria mãe e nasce um país… Pobre povo!
Os séculos passaram e este rectângulo sempre viveu acima das suas possibilidades (não é de agora!)… Se numa altura vieram as especiarias da India, logo se seguiu o ouro do Brasil e mais tarde das Áfricas o petróleo e outras matérias primas.
Portanto neste país nunca houve a necessidade de se trabalhar muito! E esta ideia prevalece ainda hoje. Há quem tenha muito trabalho para não fazer nada…
Os nossos políticos não fogem, obviamente, a esta sina, fado ou seja lá o que for que lhe queiram chamar. Vendem-se por uns quaisquer Panamás e vivem o resto da vida na sua redoma, permanecendo intocáveis.
Escrevi estes parágrafos para anteceder o que aqui trago hoje. E outrossim para tentar perceber como aqui chegámos…
Um país que nasce torto, como já referi, jamais se endireita, digam lá o que disserem! Toda a vida fomos pobres (exceptuando algumas raridades!). E como bastam umas lérias que nos sabe bem ouvir, acreditamos sempre naquela velha máxima tão lusa: desta vez é que é! E nunca é. Nem nunca será! Porque simplesmente não queremos ter trabalho para mudar.
Um exemplo (quase) perfeito da filosofia de vida dos descendentes de Viriato é o actual Acordo Ortográfico. Durante anos algumas cabecinhas acharam que se deveriam adoptar novos procedimentos para a nossa escrita e não vai de modas há que “inventar” um tal de Novo Acordo.
As razões subjacentes a este acordo ainda estão longe de ser bem firmes, já que muita gente ainda não adoptou o dito (eu incluído), nem os próprios países envolvidos (CPLP) parecem deveras interessados na mudança. O que leva a perguntar o porquê da alteração?
Mas a “coisa” parece estar pior quando o actual Presidente da República publica um texto num jornal ainda sob o antigo Acordo mas os documentos oficiais de Belém aparecem com a nova grafia (basta ver o site da Presidência). Há aqui então uma divergência de acção. E pergunto: será correcto esta diferença de entendimentos sobre a nossa língua? Ou questionando de outra maneira: o novo Presidente escreve com erros?