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Espaço de reflexões, opiniões e demais sensações!

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Em viagem! #4

Cheguei ontem ao fim da tarde à capital após 1110 quilómetros percorridos em quatro dias. Se fizer uma média diária até que nem andei muito... mas as estatísticas servem para isto: diluir no tempo a nossa vida.

Posto isto, levantei-me ontem cedo pois desejava chegar o mais cedo possível a Lisboa acima de tudo por causa do volume de trânsito que sempre surge por estas alturas na estrada, sejam pelas férias, praias ou festas da aldeia!

Mas o dia começaria com uma enormíssima surpresa. A ideia não era nova em mim, mas guardei-a. Porém o meu bom amigo João-Afonso abriu as portas à vontade e ao desejo de constatar uma das mais surprendentes visões deste Douro. Um mar de natureza, um oceano de sensações, uma galáxia de beleza imensurável ou simplesmente uma obra divina. Já vi muitas coisas belas neste país, mas este olhar para uma imensidão e ficar sem saber respirar, deve ser difícil voltar a sentir.

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No miradouro de  S. Leonardo da Galafura que Torga adorava e escreveu sobre isso um belíssimo poema* é como se se avistasse o Mundo todo de uma só vez. Aquilo dói ao nosso olhar tão pouco habituado à beleza espontânea. E nem os rascos naúticos lhe retiram um mílimetro que seja. Nem o Sol que nunca deixou de brilhar colocando a névoa. 

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Há montes vísivéis e vales escondidos, mas mesmo assim adivinha-se a beleza nos socalcos rasgados de verde, primórdios de novos espíritos.

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Entretanto o local estava repleto de gente. A festa de S. Leonardo e de Santa Bárbara estaria prestes a principiar na aldeia antes. Uma pena... Porque a aparelhagem sonora disparava decibéis de som em todo o redor do monte enquanto os copos de cerveja e "panache" escorriam goleas abaixo na manhã quente e um grupo de bombos carregava mais nas peles esticadas.

Quebrada a magia do momento para mais uma festa popular parti para (re)ver Peso da Régua. Chegado à entrada da ponte velha a opção estava tomada e segui para Lamego. Quilómetros a deixar o belo Douro para trás.

Só que a cidade de Lamego não deixa também ninguém indiferente. A sua velhíssima Sé pode ser o primeiro exemplo, mas a Capela de Esp+irito Santo ali quase ao lado também parece relevante.

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onde se misturam diferentes estilos: românico, barroco, manuelino...

Só que Lamego é a cidade de Nossa Senhora dos Remédios. Um imponente templo encrustado no monte e onde se chega de diversas maneiras, mas normalmente a pé!

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Mas são necessários 656 degarus para no topo se avistar uma cidade que serenamente se ajoelha aos pés desta sua Padroeira. 

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A hora do almoço aproximava.se e decidido o espaço encontrei uma mesa... na rua! Nem em casa como no jardim quanto mais num restaurante. Contudo... ou isso ou nada!

Fiz-me à estrada mais tarde do que previra, mas felizmente os emigrantes parece que corriem em sentido contrário. É! Os franco-luso descendentes continuam, e não é de agora, a ser um perigo na estrada.

Cheguei bem e a horas de regar a minha sedenta horta!

 

São Leonardo de Galafura

À proa dum navio de penedos,
A navegar num doce mar de mosto,
Capitão no seu posto
De comando,
S. Leonardo vai sulcando
As ondas
Da eternidade,
Sem pressa de chegar ao seu destino.
Ancorado e feliz no cais humano,
É num antecipado desengano
Que ruma em drecção ao cais divino.
 
Lá não terá socalcos
Nem vinhedos
Na menina dos olhos deslumbrados;
Doiros desaguados
Serão charcos de luz
Envelhecida;
Rasos, todos os montes
Deixarão prolongar os horizontes
Até onde se extinga a cor da vida.
 
Por isso, é devagar que se aproxima
Da bem-aventurança.
É lentamente que o rabelo avança
Debaixo dos seus pés de marinheiro.
E cada hora a mais que gasta no caminho
É um sorvo a mais de cheiro
A terra e a rosmaninho!

Miguel Torga

Os meus autores - 2

Um dos meus escritores de eleição é sem dúvida Miguel Torga.

Um transmontano que carrega na sua escrita o peso de um povo.

Li "Os Contos da Montanha", "Novos contos da Montanha", "Bichos", "O senhor Ventura" e alguns volumes do seu "Diário". E alguns poemas dispersos.

De uma escrita simples e escorreita, Torga consegue transpor o limite da nossa imaginação e lança-nos em cada página, em cada livro uma série de questões que normalmente temos dificuldade em responder.

 

contos_montanha.pngdiario.jpgnovos_contos.jpg

 

A sua obra varia entre poemas, contos, romances, teatro e muitas outros escritos. Um dos Enormes escritores portugueses do século XX.

Fica aqui a referência.

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