Li há muitos anos que a melhor faculdade do ser humano será a capacidade que tem em... esquecer! Não sei se assino esta frase, até porque, como costumo dizer, tenho quase memória de elefante. Seja para os momentos bons ou menos bons!
Tenho a sensação de que as nossas memórias advêm, acima de tudo, da nossa postura perante a vida ou até da conveniência que possamos ter nisso. Passo a explicar:
Quem vê numa roseira mais espinhos que rosas terá mais tendência para guardar dentro de si os acontecimentos menos felizes, fazendo destes a razão anormal da sua triste vida. Ao invés quem se sente bafejado pela sorte simples de viver deixa a maioria das más memórias guardadas num cofre quase hermético, recorrendo a elas somente quando necessita e guarda à superfície da alma as recordações positivas.
Felizmente incluo-me no segundo grupo, já que tento não guardar (por vezes não consigo!) más memórias ou, como escrevi no início deste postal, inclino-me muito mais para esquecer. E quanto mais depressa melhor. Prefiro assim as boas memórias, recordações, eventos... Pois é com base nestas que viajo (ainda) neste Mundo!
Sou do tempo em que o sexo era considerado algo demoníaco. Actualmente passámos para o oposto e aquele é tão corriqueiro e tão banal que quase deixa de ter piada.
Entretanto morreu ontem Jane Birkin. É a vida... já que ninguém é eterno.
Lembrei-me então da canção de Birkin e que deixava os rapazes meio tontos e com a imaginação e as hormonas aos saltos. Não imagino as meninas do meu tempo como ficariam...
Independentemente de tudo o que possam dizer é uma fantástica música, excepcionalmente bem interpretada.
Hoje lembrei-me dos inos anos 70. Nesse tempo vivia e estudava (nem sei naturalmente se alguma vez estudei, mas isto agora não interessa para o caso) em Almada.
Aqueles anos a seguir ao 25 de Abril de 1974 foram tempos de descoberta especialmente para quem, como eu, era jovem e estava demasido fechado ao mundo. Desde a descoberta de filmes mais ousados (o Último Tango em Paris é disso um bom exemplo), à relação com o eterno feminino (até ali quase proibido em anos mais novos) através das implementação de turmas mistas, tudo parecia ser demais para absorver.
Mas o homem tem uma capacidade inata de poder facilmente adaptar-se à velocidade dos acontecimentos. Entretanto daquele tempo recordo algo sobre a qual eu havia criado uma enormíssima espectativa e que mais tarde quando experimentei foi uma... desilusão.
Falo da celebérrima Coca-Cola (passe a publicidade) que não tendo qualquer culpa no cartório foi bebida que nunca apreciei. Mesmo acompanhada, como era naquela alrura por uma rodela de limão. Cheguei mesmo a pensar que preferia o limão à bebida castanha!
Ainda hoje não a bebo! Nem a sua concorrente!
Naquele tempo bebia-se aquele refrigerante porque... todos bebíamos. Ai a moda!
Hoje deveria ter estado num churrasco com antigos colegas do último Departamento onde trabalhei. Mas uma série de condicionantes retiveram-me em casa sem poder sair.
Entretanto ontem à noite e após ter escrito este postal, encontrei algures a frase em entitula este texto. No fundo é um seguimento do texto anterior, pois após a morte física de alguém, deveria perdurar uma saudade ou no mínimo uma memória.
Só que há quem não deixe memórias quanto mais saudades... A sua passagem pelo Mundo foi uma longa travessia marcada por momentos e acções sofríveis para não dizer medíocres. São pessoas que quando partem levam consigo o corpo e não deixam rasto. São facilmente olvidadas e desaparecem em menos de nada da lembrança de quem com eles conviveu!
Entretanto e voltando ao início desta minha prosa fiquei deveras contente por ter sido (novamente!) convidado para um convívio com ex-colegas. Sinal evidente de que não me esqueceram, mesmo que já tenham passados dois anos desde que me reformei e acima de tudo que (ainda) gostam da minha presença.
Sempre disse a quem me quis ouvir que um dia quando saísse da empresa bastaria uma pessoa só lembrar-se de mim uma vez num ano que eu, mesmo não sabendo, ficaria feliz. Esta ideia pode ser também transposta para quando formos na derradeira viagem.
Assim podemos ser famosos, sermos imensamente ricos, mas se ninguém se lembrar de nós após a nossa morte, revela que fomos pouco ou nada importantes nesta vida.
A pobreza não é não ter, mas tão-somente ... não ser!
Esta manhã fui a uma feira aqui perto para comprara mais umas couves, nomeadamente bróculos e mais uma dúzia de "pencas"!
Comprei as couves, paguei e vim para casa.
A terra fora cavada ontem e portanto só me cabia hoje fazer o regos para plantar as ditas couves. Como vinham em sacos separados, retirei-as e contei-as... só porque sim!
Então contei 13 pés. Fui ao outro saco e contei também 13. Pronto era o que tinha e toca de plantar.
Mas enquanto dispunha as pequenas couves, este caso remeteu-me para uma época, por volta dos anos 70, altura em que ajudei o meu pai no seu trabalho de comprar e principalmente carregar as grades de legumes e sacos de cenouras para dentro da carrinha. O Mercado era o de S. Paulo em Lisboa e foi aí que eu percebi que na maioria das vezes uma dúzia... nunca correspondia a doze, mas treze ou até mais.
Foi uma lição de vida que aprendi na altura e que ainda hoje guardo nas minhas recordações.
Li com gosto este belíssimo naco de prosa do João-Afonso que me deixou quase invejoso das noitadas coimbrãs que jamais conheci, mas ao mesmo tempo divertido, depositando no meu espírito aquela bactéria de que é feita muita da escrita e que dá pelo nome de ... desafio.
As boleias da minha vida! Quem diria?
Um tema provavelmente interessante em outros gabirus, mas neste finório não passará de meras aventuras de palmo e meio. No entanto e para não ser juiz em causa própria eis-me a esgalhar esta prosa, tentando trazer à minha memória eventos que me marcaram para a vida.
Também andei à boleia como era apanágio nos anos 70, até porque não tinha carta, dinheiro ou carro para escolher outras opções que não fosse muitas vezes... a dita.
Curioso que em 1984 Roger Waters editaria o seu primeiro album a solo sob este curioso título: The Pros and Cons of Hitch Hiking e que se tornou um sucesso. Mas isto são outros "quinhentos"...
Mas voltando às minhas boleias recordo que a primeira começou nos escuteiros. Naquele tempo não havia limite de passageiros ou se havia ninguém ligava. Assim para certo acampamento acabei, mais não sei quantos jovens, enfiado num Morris 1300. Mais as mochilas e tendas, ainda hoje estou para perceber como coubemos todos.
Mais tarde fui à boleia para a Costa de Caparica num Ford Consul de origem belga tal como o dono e filhos, com uns amigos. Qual o problema? O condutor pesaria sem qualquer favor 150 quilos, a filha 100 e o filho 120. Imagine-se o espaço que ocupavam e o que sobrou para 4 ou 5 jovens lusos. Outras magrezas!!!!
Até 1987, quando adquiri o meu primeiro carro novo pela módica quantia de 1440 contos (nas contas de hoje pouco mais de 7000 euros), tive de andar sempre à boleia. De amigos, familiares e desconhecidos.
Mas em algumas dessas boleias conheci gente muito interessante. Lembro-me de ter andado também num Mini 1000 de alguém que era na altura director geral do tesouro.
Um dia parti, nem sei como tal era bebedeira, de Almada e parei em Moura onde fiquei uma série de dias... com a mesma roupa! Estão a imaginar não estão?
Não fossem umas jovens... que nos socorreram!
Bons tempos, boas recordações, grandes boleias e obrigado João-Afonso!
Passam os anos, mas o meu gosto por coisas velhas e rústicas não se perde. Diria de refina...
Na minha modesta casa que mandei erguer há 22 anos, este meu gosto torna-se por demais evidente. Desde logo pelo recheio feito de mobílias muito velhas, algumas dos tempos do casamentos dos meus pais há 64 anos. Uma mesa de cinco pés que foi de uma trisavó e mais uma série de pequenos objectos sem valor fiduciário de monta, mas que fazem parte da minha vida.
Ora bem... fora das paredes tenho também algumas peças que agora vou apresentar,
Um pequena pia de pedra esculpida a ponteiro por quem o sabia fazer e que pesa até até...
Um banco em pedra de granito beirão que foi outrora a soleira de uma porta de uma casa típica da Cova da Beira e recentemente arrasada.
Outra pia, esta também em granito beirão e que eu, com ajuda, retirei do chão onde se encontrava enterrada. Pesada, foi um trabalhão para a colocar neste sítio.
Esta foi uma pia de pedra destinada unicamente para o azeite e que foi da minha avó. Tal como a primeira foi esculpida a ponteiro numa pedra branca. Foi quase um trabalho de engenharia para a colocar naquele lugar. Uma curiosidade... o espaço entre as duas colunas foi suficiente, mas longe de mim na altura da construção pensar em colocar ali esta peça. Uma coincidência feliz!
Quem não tinha pias de pedra, era nestas talhas que se guardava o azeite. Esta foi da minha bisavó que eu conheci que dizia ter sido da mãe dela. Numas contas rápidas calculo que tenha perto de 200 anos.
Finalmente o meu jardim tem agora este aspecto mais rústico quase aldeão.
Faz hoje precisamente vinte e dois anos que eu estava em Barcelona. Dia 11 de Setembro, dia nacional da Catalunha.
Lembro-me muito bem desse dia. Era sábado, jogava o Barcelona e o Espanhol no Nou Camp. As ruas engalanadas de bandeiras condais, os adeptos vestiam-se a rigor do clube do coração fosse a idade que fosse.
Foi das primeiras vezes que fui a Barcelona e a primeira em que fiquei uns dias para passear na bela capital catalã.
A cidade estava em festa e por todo o lado a alegria dos locais era evidente.
Mais de duas dezenas de anos depois destes festejos, por mim presenciados, Barcelona ou melhor a Catalunha é um barril de pólvora pronto a rebentar e para o qual a brigada de minas e armadilhas do governo espanhol não tem solução.
É pena... Tenho realmnete pena que Barcelona se tenha tornado uma cidade demasiado encrespada.