Há alguns anos alguém me dizia que muitos de nós vivemos em modo sanduiche, já que por cima estão os pais com os seus problemas e por baixo os filhos com situações obviamente diferentes dos antecessores, mas ainda assim com problemas que acabam também por nos afectar!
Dito isto declaro que nesta altura gostaria de ter uma vida mais tranquila do que aquela que tenho, especialmente porque estou sempre preocupado com os meus velhotes. O meu pai de 91 anos ainda se considera um homem valente, já que gosta muito pouco ou nada de ser limitado na sua vida ainda autónoma. Porém os seus rins já não trabalham como deveriam e está por isso entregue aos cuidados da hemodiálise três vezes por semana. Uma situação que o coloca preso e dependente de tratamentos hospitalares e isso aborrece-o olimpicamente.
A minha mãe de 85 começa a dar sinais evidentes de uma arterioesclerose preocupante. Esquece-se onde deixa as coisas e das conversas tidas, principalmente comigo. Mas ainda consegue tomar conta de si de forma razoável!
Ora sendo eu filho único e estando eles na aldeia a 120 quilómetros da minha residência, estou sempre com o coração nas mãos temendo que algo de mal lhes aconteça. A verdade é que ambos sentem que conseguem viver a vida sozinhos e sem ajuda, mas é a mim que me bate o coração mais apressado sempre que a minha mãe me telefona. Nunca sei o que virá daquela conversa. Até agora as coisas, não obstante não serem perfeitas, ainda se vão resolvendo.
Já o disse algures que o pior que se pode desejar a alguém que gostamos muito... é que ela morra. Esta é uma daquelas assumpções que ninguém gosta de assumir, mas a realidade por vezes é tão horrível que apenas sentimos isso.
Neste momento a minha sogra está entregue aos cuidados paleativos e vai sobrevivendo nem se sabe como. Está profundamente demente, vai para uns anos largos ao que lhe adveio em 2022 um tumor maligno num peito. Sujeita a cirurgia esta não teve o resultado mais desejado e no início deste ano andei com ela em diversas sessões de Radioterapia, não para curar a doença, mas unicamente para lhe dar a mínima qualidade de vida.
Todavia as coisas estão demasido evolutivas e neste momento o melhor mesmo para ela e para a restante família é que partisse de uma vez por todas.
Hoje a filha foi, mais uma vez, visitá-la ao lar onde reside desde 2021. Profundamente prostrada aguarda apenas que Deus se lembre dela. A minha mulher quando saiu do lar não conseguiu evitar uma lágrima enquanto desabafava: porque não parte ela? Sofre ela e sofremos nós!
Este é um triste desejo.
Porque a morte não escolhe dia nem hora. E eu que ainda não estou convicto da eutanásia, aceitaria neste caso presente a sua administração.
Eu sei que a minha sogra de 93 anos é ainda um ser vivo, mas há muito que deixou de ser alguém vivente!
Hoje organizei um almoço de família. Se todas as crianças se sentassem à mesa teria 14 pessoas. Porém algumas ainda são muito pequenas e assim os fedelhoos comeram antes dos adultos. Deste modo fomos uma dezena à mesa, com muita comida, muita bebida (a maioria sem álcool!), pão, queijo, entradas beirãs, sopa e finalmente um chambão estufado com batatas assadas no forno.
Para sobremesa um "cheesecake" feito pelo meu filho mais novo e serradura concebida cá em casa.
Tenho consciência que a organização destes respastos sobram sempre para alguém e por isso esta manhã levantei-me de madrugada para que tudo estivesse pronto à hora prevista. No final sabe bem olhar para a mesa e ver a família ali toda (ou quase!) reunida numa algazarra saborosa.
Tudo isto faz-me lembrar a minha mãe que quando organizada assim almoços ficava tão feliz! Mas tão feliz! Actualmente vive momentos menos esfusiantes e já organiza assim repastos.
Tenho uma idade que supostamente me deveria dar uma liberdade pessoal que... não tenho. Quando não é a neta ou até os filhos, surgem os pais!
Sou filho único de um pai nonagenário e uma mão octagenária. Portanto idosos.
Desde há uns tempos que o meu pai vem decaindo em termos de saúde. Principiou em 2019 com uma cirurgia ao coração para mais recentemente surgir uma anemia que se veio a descobrir ter origem em falhas renais!
Limitação na alimentação, especialmente ausência total de sal e em outras opções a evitar. Porém os rins continuam a ameaçar falhar. De tal forma que hoje tive de fazer 310 quilómetros para o ir buscar a casa, levá-lo ao hospital, ser visto e alertado para os diversos problemas que poderá via a ter e finalmente as opções que tinha entre mãos.
Não obstante a idade o meu pai ainda tem a cabeça no lugar. E sabe decidir sem necessidade de qualquer ajuda externa. Este dia foi totalmente dedicado a ele, à sua doença e tratamento.
Escolheu vir a fazer hemodiálise numa unidade hospitalar. Agora irá aguardar que o chamem para consultas preparatórias.
Tudo isto para dizer que tenho hoje mais uma responsabilidade acrescida: fazer com que o meu pai e obviamente a minha mãe vivam os dias que lhes restam com a melhor qualidade de vida possível.
Neste mesmo dia mas em 2017, portanto há meia dúzia de anos, estava em Fátima, na Cova da Iria nas comemorações do Centenário das Aparições.
Entre milhares de peregrinos presentes no recinto houve um que se destacou: o Papa Francisco. Um homem de fé, mas outrossim de cultura, conhecimento, racionalidade quanto baste e coragem.
Porém do dia 12 e 13 des te mês de Maio de 2017 guardo uma frase que emocionou os fiéis presentes e obviamente o Mundo, especialmente o Católico. Na homília da missa que consagraria os irmãos Francisca e Jacinta como santos da Igreja escutei o Papa dizer: temos Mãe!
Duas palavras que transbordam de realidade. Duas palavras que acrescentam à nossa vida um peso e uma consciência de finitude.
Uma Mãe que é omnipresente na vida de todos nós, que não vemos, não a sentimos fisicamente, mas que está sempre lá!
No início da semana foi o meu pai. No fim é a minha mãe!
Oitenta Outonos já vividos, feitos hoje!
Posso dizer que se sacrificou sempre por mim, que abandonou pai e mãe na aldeia para seguir o marido para a cidade desconhecida, que trabalhou muito para nos sustentar. Posso dizer tudo isto porque é verdade, mas muuuuuuuuuuuuito mais ficará por dizer.
É aos oitentas anos, e não obstante algumas mazelas inerentes aos anos já gozados, uma incrível força da natureza. A Ti'Leta (diminuitivo de Violeta e como é conhecida na família) é assim uma espécie de matriarca.
Este dia foi dela. Recebeu, ao que sei, muitas chamadas de parabéns, o que a enche certamente de alegria.
A minha mãe não é a melhor mãe do mundo, porque ela é só minha e não a trocaria por outra.
Não costumo falar nem opinar sobre algo que não entendo ou sobre o qual não tenho todos os dados.
Faço esta afirmação a propósito da actual lei de barriga de aluguer. Sei o que se pretende, mas fico-me por aí. Abstenho-me de fazer mais comentários já que a questão da maternidade é demasiado importante para ser discutida por um qualquer leigo como eu. Ainda por cima sou homem…
Porém, li hoje que uma mulher se voluntariou para gerar um filho dentro de si, que seria da sua própria filha. Portanto… gerará o próprio neto ou neta.
E é aqui que começam as minhas confusões. E não tem a ver com alguma visão religiosa da situação mas somente como factor da Natureza.
Com esta futura engenharia genética, perder-se-á toda a ideia genuína de… mãe. Neste caso a avó é só uma fábrica para fazer crescer um feto até poder ser verdadeiro bebe e vir ao mundo. Ou não? Ou será também ela mãe, para além dos filhos que já teve, muitos anos antes?
Confesso que também nunca fui muito a favor da fertilização invitro. Com tanta criança por esse mundo em busca de um lar, não seria mais fácil adoptar? Pergunto eu…
Este meu texto já leva demasiadas perguntas para as quais não consigo evidentemente arranjar (boas) respostas.
Sinto que, infelizmente, esta nova lei será uma fonte de disputas entre mães verdadeiras (as que geraram a criança) e as mães biológicas. Com consequências impensáveis.
No meio disto tudo onde fica a liberdade da mulher que carrega a criança? Estará sujeita à vontade da outra mulher?
Ui… alguns gabinetes de advogadas já devem ter equipas a estudar a coisa. Digo eu!
Todos os anos se vai repetindo (e espero que seja por muitos anos).
Primeiro foi o meu pai no dia 8 a completar 84 anos, hoje foi a minha mãe a fazer 78.
Dois jovens de outrora que me deram a vida, educação e formação.
São ambos um exemplo para toda a família e para a humilde aldeia onde vivem. Porque, não obstante a idade trazer algumas dificuldades, ainda não passam um sem o outro.
Amigos dos seus amigos. Amantes da família. Solidários e trabalhadores mesmo que algumas maleitas não ajudem.
Sei, pela lei natural das coisas, que um dia terão de partir. Viagem e,ssa para a qual eu não estou preparado... para ficar sozinho!
Obrigado paizinho e mãezinha (é assim que ainda os trato!) por tudo quanto fizeram por mim.