Nem sequer calculo quanto terei escrito nesta vetusta máquina que necessita de arranjo.
Ela foi, de forma silenciosa, durante diversos anos a minha única confidente. A ela falei de amores e desamores, de tristezas e alegrias, de sonhos e realidades. Escutou-me sempre nem nada dizer!
Nesta máquina escrevi também muitos trabalhos para a escola. Daqeles que não interessavam a ninguém, mas tinha de os fazer. Também nela alguns escritores, poetas, e diversos jornalistas desfiaram as suas contas.
Hoje será um simples objecto do meu museu. Mas é também uma gratíssima recordação.
Hoje reencontrei uma velhissima amiga. Fazia tempo que não nos víamos.
Continua igual a si mesma e não obstante os anos terem passado mantém-se fantástica. Talvez com um achaque aqui e ali, mas tendo em conta a idade... ainda assim está muito bem.
Permanece ainda aquela amiga a quem podemos dizer tudo que ela jamais revela seja o que for.
Lembro-me quando jovem, naquela idade de todas as certezas e nenhumas dúvidas, que ela me escutava naquele seu semblante sereno, as minhas ideias, as minhas tristezas e alegrias, os meus amores e desamores, as minhas (poucas) vitórias e os meus infortúnios.
Actualmente falo-lhe pouco ou mesmo nada das minhas desventuras. Mas também é certo que ela nada me pergunta. Deixa que seja eu a abrir o meu livro da vida.
Será outrossim correcto afirmar que ora tenho outros amigos com quem desabafo e que, como ela, também são comedidos. Diria que talvez um ouco mais expeditos...
Mas ela continuará a ser a primeira. E quiçá a que mais coisas me aturou. Sem dúvida!
Curiosamente continua sem evidenciar um queixume.
A minha velha máquina de escrever foi sempre muito, mas muito minha amiga!.
Hoje sem saber porquê lembrei-me da minha velhinha máquina de escrever.
Sim, sim esta mesma que aparece na imagem e ilustra este espaço. Sei que jamais lá escreverei alguma coisa, mas durante muitos anos ela foi a minha grande confidente.
Hoje mora num sótão de memórias junto a muitos outros papéis com nacos de prosas e poesias, todas elas sem grande ou nenhuma qualidade. Mas independentemente disso aquela “Hermes 2000” que me foi oferecida pelo meu pai, é ainda uma amiga... discreta e silenciosa todavia sempre presente. Nunca avariou e se neste momento lá chegasse com uma folha certamente estaria pronta a trabalhar.
Nela passei a limpo alguns dos meus primeiros escritos, que mais tarde seriam publicados em diversos jornais. Nela escrevi as lágrimas de tristeza e de alegria que fui acomodando. Nela relatei o que o meu pensamento tinha para dizer.
Tenho saudades desse tempo. Do barulho característico ao lançar as letras contra a folha de papel, de sentir as ideias a tomarem forma, do som da campainha quando chegava ao fim da margem, da folha quando saía do rolo…
Pois é, tenho (muitas) saudades da minha máquina de escrever. Curiosamente não tenho qualquer sentimento pelo meu primeiro portátil…