Não pelo dia de calendário que esse é amanhã, mas pelo dia da semana.
Era um Domingo frio. E ainda ficou mais frio quando o meu filho me chamou à garagem para constatar uma evidência que eu já sabia que haveria de acontecer, mais dia menos dia.
Nada temos na vida como garantido a não ser o nosso passado e a morte. Mas quando a Ceifeira leva quem nos preenche fica a dor, a tristeza e uma incapacidade de lidar com o impossível.
Faz hoje um ano que a Lupi adormeceu para sempre.
Mesmo depois deste tempo decorrido ainda não me habituei à tua partida.
Prometo que este será o último texto que escrevo sobre a minha cadela desaparecida há precisamente uma semana.
Todavia estes últimos sete dias foram demasiado amargurados e tristes.
Imagino que muitos de vós dirão: tanta coisa por causa de uma simples cadela.
Pois até pode ser pieguice ou somente parvoíce (até rima!), mas nunca tal me aconteceu. A ligação que havia entre nós cá de casa e a nossa amiga era quase umbilical.
Por tudo isto tenho saudades dos passos dela, das orelhas sempre espetadas e atentas , do olhar altivo e acima de tudo da forma como ela tomava os comprimidos directamente da minha mão.
Diz o povo na sua profunda sabedoria: quanto mais conheço os homens mais gosto dos animais!
Porque concordo com esta máxima popular é que senti muito e ainda sinto a partida da minha idosa cadela. Todavia fui incapaz de escrever uma bonita homenagem à minha amiga. Faltou-me claramente competência.
Mas houve alguém que o fez, num texto longo, emotivo mas carregado de grande realidade e que podem ler aqui.
O filme infra foi reproduzido pela primeira vez neste postal em 2016. A sua concepção, realização e montagem foi da responsabilidade do meu filho mais novo.
O mesmo que ontem a encontrou já sem vida. O mesmo que hoje a entregou numa clínica para ser cremada.
Mas estes breves 4 minutos serão para sempre uma gratíssima recordação.
Deliciem-se porque vale a pena!
Obrigado Lupi pela companhia, amizade, alegria e fidelidade.
A gente não se verá por aí. Mas morarás para sempre no meu coração!
Estávamos no fim do Domingo de Páscoa. Após um excelente almoço com a mesa repleta de família e acepipes cada um regressou aos seus lares.
Na cozinha já arrumada e limpa, após o respasto, ficara em cima da bancada somente metade de um folar transmontano devidamente tapado. Bem saboroso, por sinal.
Só que já noite dentro fui chamado para ser testemunha de um "crime" perpetado pela mais idosa cá de casa...
Primeiro aborreci-me mas no fim acabei por achar piada... A natureza será sempre mas sempre mais forte que a vontade humana.
O meu filho mais novo fez por isso o filme seguinte!
Já referi neste espaço que ela é a verdadeira dona da casa e que tudo roda à sua volta.
O carinho que todos lá em casa lhe devotam é retribuído através de um ladrar doce ou uma lambidela.
A Lupi é uma simples cadela.
De facto ela é somente um animal. Todavia o seu instinto, a remontar ao selvagem, surgiu esta semana mas apenas hoje revelado.
Um queijo curado ficou ao ar livre após ter sido indevidamente baptizado com a água da chuva. Descuidadamente ficou ao alcance da "menina" Lupi.
A verdade é que durante dias procurei, em vão, pelo queijo.
Mas só hoje o mistério foi revelado após se ter descoberto na sua casota os "restos" do que fora um queijo. Curiosamente esses nacos semi comidos estavam envoltos em alguma terra.
Foi nessa altura que se percebeu o que havia acontecido: de barriga cheia a cadela não quis perder a oportunidade de ferrar o dente num belo queijo Beirão. Assim raptou-o e cavando um buraco na terra do jardim lá deixou o acepipe para mais tarde... comer.
O verdadeiro instinto animal veio ao de cima! Perfeitamente normal pois ela não passa de uma cadela.