Geralmente nunca um livro de seguida. Inicio com um para mais tarde passar para outro e algumas veses outro ainda.
Pelo meio ficam alguns livros de BD que leio de rejada.
Ler, tal como a escrita, é uma maneira de viajar! Quando lemos não estamos aqui... mas lá naquele local onde decorre a acção. É a maravilha da leitura. Algo que nenhuma Inteligência Artificial conseguirá substituir.
No entanto temo que os livros tendam a desaparecer. Dou um pequeno exemplo do que se passa cá em casa:
- desde os anos 70 que iniciei a compra de uma enciclopédia Luso-Brasileira da Cultura que tem vinte e tal grossíssimos volumes;
- sempre que pretendia saber alguma coisa consultava esses livros;
- actualmente só pego neles aquando das limpezas grandes do meu escritório.
Para além desta enciclopédia, comprei mais algumas obviamente mais actualizadas. Só que hoja há informação (a maioria desinformação!) à distância de um clique. Vai daí arrisco pensar que estas enciclopédias deixarão de existir unicamente porque estão desactualizadas e ocupam demasiado espaço numa casa.
Ainda assim adoro ler um livro, folheá-lo calmamente, poder inserir anotações importantes e por fim guardá-lo junto a muitos outros, após a sua leitura.
Ontem ofereci a um amigo o último livro com os Contos de Natal dos quais fui um dos co-autores. Ficou genuinamente agradecido e após ter percebido que estava autografado com a respectiva dedicatória acabou por dizer algo como isto:
- Quem escreve tem um dom!
Tentei dissuadi-lo dessa ideia pois não considero que a minha escrita advenha de um dom, mas tão-somente de muito empenho e muita dor.
Ele negava com a cabeça enquanto folheava novamente o livro. Por fim pegou num texto que escrevi e leu em voz alta a primeira frase.
- Explique-me como após esta curta frase consegue desenvolver para escrever uma estória? Eu jamais conseguiria.
Sendo ele um óptimo canalizador com uma carteira de clientes fabulosa devolvi:
- Pois é! Da mesma maneira que se me desse todas as peças e ferramentas para fazer uma canalização de uma casa eu jamais conseguiria...
No fundo quem escreve é um artesão. Todos as pessoas conhecem a maioria das palavras, no entanto essa capacidade de as juntar de determinada forma, para com elas contar uma simples estória não é apanágio de todos, apenas de alguns. Acresce também dizer que há muitas formas e todas elas diferentes de juntar as palavras. A esta diferenciação chama-se estilo.
Actualmente com tanta gente a escrever bem, sejam em blogues seja em livros, o leque de estilos é cada vez maior.
Mas ainda bem... assim sempre se contenta mais gente que lê.
Como posso viver a minha liberdade se não posso falar como sempre falei ou escrever como sempre o fiz?
Muitas vezes surge esta questão no meu espírito, assaz rebelde. Adormeço amiúde sobre esta problemática para acordar consciente que estamos a regredir em termos de liberdade. Especialmente verbal e escrita.
O que disser hoje pode ser altamente mal interpretado e ser até alvo de gravíssimas acusações pois alguém descobriu que no meio da minha inocente frase eu tentei atingir outrém.
Mais do que nunca o cuidado com o que dizemos ultrapassou a normalidade já que nem somos donos das nossas próprias palavras. Pensemos, mas não devemos proferir. Portanto uma censura camuflada de bons costumes...
Não imagino o que pensaria o malogrado Otelo Saraiva de Carvalho desta nova regra, mas certamente não terá sido para acabar neste exercício que aquele pensou e executou o 25 de Abril de 1974.
Andamos com a nossa liberdade ameaçada (e não é só devido à pandemia!!!), mas já ninguém se importa!