O barbeiro e eu!
Ontem foi dia de eu ir ao barbeiro. O J. é um transmontano, (mau) tocador de concertina mas simpático e competente na sua profissão. Foi este o nosso diálogo de ontem:
- Boa noite J - cumprimentei quando cheguei.
- Boa noite J. Sente-se aqui se fizer favor - e apontou-me uma cadeira própria.
Sentei-me e ele logo enrolou à volta do meu pescoço um enorme e costumado babete. Pegou nas suas ferramentas e antes de iniciar a tosquia aqui deste animal, perguntou:
- O corte, é o do costume?
- Claro J.
Aí começou a destapar-me a nuca com gestos seguros e sabedores. Como qualquer barbeiro que se preze iniciou ele a conversa:
- Que me diz a esta história do novo governo?
Percebi a questão mas preferi não avançar um grande depoimento. Fiquei-me pelas palavras redondas...
- Não digo nada. Eles é que sabem o que andam a fazer...
- Será que sabem?
Silêncio meu. Ele continuou...
- A minha filha mais velha votou este ano pela primeira vez e perguntou-me onde deveria votar e eu disse-lhe para votar nas miúdas que até são giras...
- Pois são - confirmei.
Ele voltou à carga:
- Agora isto não se faz... Eles perdem as eleições e ainda assim querem ser governo... Não está nada bem!
Acabei por dar a minha opinião mais sincera e que vai no sentido daquilo que já aqui expressei. Ele concordou em parte para depois genuinamente dizer:
- Para a Presidênciais já sei em quem votar... Desta vez já náo me enganam.
Entrou novo cliente e a conversa morreu logo ali. Finalmente no regresso a casa percebi que o meu Barbeiro é o eleitor-tipo português. Mais... Por muito (bom) trabalho que o novo governo apresente, muitos eleitores vão sempre considerar que o voto no PS não é (já) um voto de confiança..