Soube hoje do caso de um lar na Lourinhã. Um caso de maus tratos, incompetência e acima de tudo desleixo! Ainda por cima em pessoas doentes, idosas e na maioria sem capacidade de se quiexarem.
Infelizmente a minha sogra teve de ser internada num lar. A sua demência a isso obrigou pois tornou-se incapaz de se valer a si mesma nas funções mais básicos. Quase todos os dias alguém dea família a visita e seja a que hora for que se vá percebe-se que está a ser muito bem acompanhada.
Tal como as dezenas de utentes daquela residência.
As empregadas são de um carinho extremo, cuidadosas e sempre disponíveis para quem delas necessita. Se um dia tiver que acabar assim os meus dias que seja num lugar como este!
Os lares são, tal como os infantários e creches, lugares muito especiais. Se nestes últimos são os pais que depositam nas instituições os filhos para que possam trabalhar, nos primeiros são os filhos a entregarem a alguém a responsabilidade de cuidar dos antecessotres. Seja como for em ambos as situações o ser humano deve ser a medida certa, o centro de todos os cuidados e atenções.
Todavia para muitos dos responsáveis o dinheiro estará sempre primeiro. Primeiro que as crianças, primeiro que os idosos, pois a dignidade da vida não tem preço.
Vive-se numa sociedade triste, cobarde, podre e onde os valores humanos são, infelizmente, mera retórica!
Sempre que vou ao lar onde vive agora a minha demente sogra venho de lá muito triste. Vou olhando aqueles idosos que por ali deambulam e fico a imaginar como estarei eu daqui a dez ou quinze anos... se lá chegar!
Farei também parte desta malta ou conseguirei ainda aguentar este conjunto de ossos de pé? A resposta não está no vento que sopra como escreveu e cantou Bob Dylan, porque feliz ou infelizmente ninguém é dono do seu futuro antes de lá chegar.
Temo, não as doenças ou as dores (já cá moram algumas e que são devidamente tratadas com aguentocaína!!!), mas a falta de discernimento e juízo. Estar vivo, mas não ser vivente é algo que me aflige profundamente. Antes a morte que tal sorte diria a minha avó e que uma vez bem antes de partir me disse:
- Deveríamos morrer sempre novos!
Na altura considerei quase uma blasfémia, mas hoje e perante o que vou assistindo ao meu redor compreendo tão bem a ideia! O pior que pode acontecer a qualquer um de nós é desejarem a nossa morte para não nos verem mais a sofrer!
Enfim... aguardemos o que a vida terá para me oferecer!
Todas as semanas vou duas vezes ao lar visitar a minha sogra. De 91 anos e profundamente demente, não sabe quem lhe aparece na frente. Se filhas, netos, genros ou bisnetos.
Como não sabe o seu nome nem de nenhum familiar. Não se recorda de pai, mãe ou irmãos. É um ser vivo, mas não vivente.
As filhas perante um cenário profundamente decadente e com algumas limitações físicas não tiveram outra opção senão colocá-la num lugar sem luxos, mas onde receberia (e recebe) toda a atenção e carinho devidos à sua situaçáo. Quase oito meses passados, se bem que a demencia seja cada vez mais profunda e irreversível, certo é que parece minimamente feliz... se isso se poderá afirmar já que não tem qualquer consciência do que é a felicidade, muito menos de quem foi ou onde se encontra.
Observo este triste cenário e fico muitas vezes a pensar quantos anos me restarão para chegar a este estado? Sinceramente prefiro partir antes de tal fado. Que Deus se compadeça deste pobre...
Limito-me, e para terminar, evocar uma frase recorrente nestes casos: o que fomos e no que nos tornamos!