Percorro as ruas neste fim de tarde. Estão desertas, únicas! O frio abraça-me e aperta-me contra a roupa.
Recolho as mãos em lugar quente.
Diz o povo que "Deus dá a roupa conforme o frio". Triste aquele que hoje não tiver roupa, pois morrerá de frio, certamente!
Um cão ladrou ao ver-me passar. Um outro respondeu acolá e mais um, lá longe, fez coro. Sopra uma brisa cortante.
No horizonte que consigo perceber o sol é somente uma luz laranja que se vai desvanecendo conforme a noite vai se aproximando.
Respiro o ar frio e olho em meu redor!
As casas parecem fantasmas imóveis. Uma ou outra moradia tem luz e da chaminé sai um fumo cinza que o fim de tarde mal deixa perceber. Mas paira no ar o aroma da lenha a arder na lareira. Tal como na minha casa a lareira deverá estar acesa ! Imagino-a crepitante, forte e quente.
Apresso o passo ao ritmo do desejo do calor. Um carro passa por mim devagar.
Saio do passeio para a estrada. Há escavações de uma obra. Regresso ao passeio repleto de malvas crescidas.
Chego finalmente a casa. Meto a chave à porta, rodo-a e entro… desejoso!
Fazia tempo que não passava uma tarde à lareira. Já tinha saudades.
Gravei este pequeno filme com o telemóvel acima de tudo para recordar daqui a uns dias ou semanas esta tarde. O calor da lenha de oliveira velha misturada com a de mimosa é reconfortante.
Há nestes momentos uma serenidade e uma paz que enfeitam os meus sonhos, desejos e vontades. A vida é feita destes pequenos prazeres.
Não voltarei a passar aqui outro fim de semana antes de 2022. Daí estar a aproveitar o dia.
Parti na quarta-feira para uma viagem relâmpago à aldeia beirã. Havia umas coisas para resolver, mas perante a perspectiva de não poder sair de casa nos próximos fins-se-semana, aproveitei para fazer 600 quilómetros no sentido de finalizar uns assuntos pendentes que deixara em aberto por altura da azeitona.
Ontem todo santo dia foi de chuva. Mas nada que impedisse de dar a volta às fazendas na perspectiva de encontrar sobreiros para se retirar a cortiça no próximo Verão... Especialmente nas árvores mais jovens.
Ainda assim aproveitei para fotografar esta minha laranjeira.
Regressei à capital já hoje, para poder passar, finalmente, um fim de semana na minha casa, poder comer umas castanhas assadas e acima de tudo poder ver estas imagens.
...vem a bonança, diz o povo, na sua já sobejamente conhecida sabedoria.
Depois de há uns dias ter aqui desabafado a minha tristeza e impotência para resolver algumas situações da minha vida, eis-me hoje à lareira a ler, escrever, beberricar jeropiga (mesmo sem castanhas), na companhia da mulher da minha vida.
Uma das características da Beira Baixa é o frio. O frio que gela as águas nas beiras dos caminhos, que gela o orvalho da madrugada, que coze os repolhos de verde pálido da horta.
Talvez por isso que a jeropiga sabe melhor agora ou a aguardente parece menos áspera neste tempo.
O vento que desce hoje da serra é tão gelado que arrefece quem anda pela rua. Nem um sol límpido parece aquecer estes dias.
Tudo piora no entanto com a noite: o vento e o frio quase congela... até a alma!
É hora de acender a lareira. Acolhedora e quente o calor que exala daquele nicho sabe a vida restaurada.