Cada dia que passa e cada relação que tenho com serviços médicos privados, mais fico convencido que o melhor que poderia ter acontecido aos hospitais privados foi esta pandemia.
Se formos usar um serviço médico de forma particular pagamos e bem por ele. Mas se usarmos debaixo de algum acordo esse valor baixa drasticamente o que não interessa nada aos hospitais, mesmo que estes publicamente assumam o contrário.
Já aqui falei do abuso que é a diferença de preços para o kit sanitário. Depois fica a ideia de que já se encontra instituído o pagamento desse valor e que, tirando raras excepções, aquele não será passível de comparticipação.
Mas o pior de tudo prende-se com a lata dos hospitais privados em fazerem-se pagar dos ditos kits, nomeadamente nas cirurgias, como se fosse uma coisa extra quando o faziam naturalmente antes da pandemia.
Mas tenho mais… Um destes dias fui a um hospital a uma consulta. Já no gabinete o médico pede-me para passarmos para a sala ao lado para fazer um exame. Nem o médico nem eu fomos “desinfectados” nem mesmo o equipamento o foi, nem antes de mim nem depois. Pelo menos não vi ninguém que o tivesse feito nem com indicação para o fazer. No final paguei 2 euros por algo que não aconteceu nem se fez. Nem é que 2 euros seja muito dinheiro, mas é tão-somente a acção, a postura do hospital, cujo único interesse é ganhar dinheiro “à pala” de uma eventual doença.
Depois não há uma entitade reguladora que olhe para estes casos, que fiscalize e que coloque estes hospitais privados em sentido. Talvez por tudo isto estou cada vez mais convicto que a saúde, a par da água potável, será o grande negócio do futuro.
É uma mera coincidência termos na nossa linguagem popular esta expressão que toda a gente sabe o que significa e a origem deste virus. Mas pronto coincidências à parte vamos ao que interessa.
Hoje fui à primeira consulta após desconfinamento, ainda por cima… dentista. Uma consulta que obriga normalmente a contactos evidentes entre paciente, médico e assistentes.
A consulta estava marcada para as nove e meia da manhã. Cheguei às nove e vinte e cinco. Dei entrada na recepção e mandaram-me aguardar na sala de espera.
Pelo que me haviam dito seria o primeiro a ser atendido. “Boa” – pensei eu até porque tinha mais coisas a fazer nesta manhã.
A verdade é que só entrei no gabinete eram 10 e 15. Inaceitável, mas enfim... Cumprimentos para aqui e para ali encontrei a médica devidamente protegida. Todavia… ela já o fazia antes deste vírus surgir. Pelo menos sempre a vi de máscara, bata, touca e luvas. Desta vez, para além destes paramentos, tinha somente mais uma viseira de plástico. A assistente vestia-se da mesma maneira.
A meio da consulta um percalço pois tive de mudar de gabinete já que o equipamento não se encontrava em condições. No fim tudo correu bem e regressarei lá para o fim do ano! Saí!
Fui pagar e de repente apresentam-me duas contas… A primeira respeitante ao “kit” sanitário e a segunda que correspondeu aos tratamentos. Paguei.
Sei que este procedimento do pagamento dos “kit’s” tem sido adoptado por todos os hospitais e clinicas privadas, mas deixem-me desabafar: é um verdadeiro abuso.
No fundo, no fundo não percebo se o tal “kit” serve para defender o doente do médico ou o médico do doente.
Mais… tive a oportunidade de reparar que a médica que me assistiu não despiu os paramentos para o próximo paciente. Isto é… mais um doente a pagar um “kit” sem ter sido utilizado.
Curiosamente a minha mulher vai semanalmente à esteticista que apresenta as mesmas defesas sanitárias (bata, luvas, máscaras e viseira) mas não se cobra disso.
Depois os preços são de uma amplitude inaceitável. Há quem se cobre de sete euros e meio enquanto outros cobram de 10 euros…