Hoje será inevitável escrever sobre este flagelo que nos atinge e que já causou vítimas mortais e demasiados danos em habitações e outras estruturas.
Todos os anos a história repete-se. Sai governo entra governo e nada muda. Os problemas são permanentemente recorrentes e sem solução à vista.
Muitas vezes falo aqui de uma aldeia beirã onde vou algumas vezes, onde tenho pedaços de terra e donde retiro alguns (poucos) proveitos. Pois desde sábado que a aldeia foi invadida pelo fogo, estando ainda em rescaldo pelos bombeiros.
Quase todos os anos há por lá tentativas de fogo posto, sendo que os Bombeitos chegam a tempo sem grandes devastações. Só que este ano e com este calor o fogo cresceu de forma desmesurada. Começou da freguesia de Louriçal do Campo e alastrou-se às freguesias vizinhas: S. Vicente da Beira e Sobral do Campo. As chamas devoraram tudo pelo caminho: eucaliptos, sobreiros, pinheiros, oliveiras, plantações de kiwis. No fundo consumiu tudo o que apareceu pela frente.
Ninguém sabe quem o fez ou se sabem não têm provas. E sem estas não há hipótese de alguém ser detido.
Perante esta aldeia que tão bem conheço e perante todos os outros casos pelo país fora, tenho a real consciência de que ninguém, seja que governo for, conseguirá parar este flagelo.
O problema pode estar na má gestão florestal sem dúvida, mas sem a mão humana para atear os incêndios provavelmente esta tragédia não existiria.
É neste ponto que o país e toda a sociedade tem de se unir para, de uma vez por todas, colocar um fim. Precisa-se obviamente de uma justiça mais célere e de um código Penal mais severo de forma impedir que alguns incendiários se mantenham em actividade e aos olhos de toda a gente.
Ano após ano, Verão atrás de Verão a história repete-se em Portugal! Falo como imaginam de fogos ou incêndios como lhe queiram chamar. Daqueles activados ou dos que nascem espontaneamente (pois também os há!!!).
Quando em Junho de 2017 aconteceu Pedrogão Grande com 66 mortos e mais umas dezenas em Outubro, como sempre muito se estudou, muito se prometeu, mas nada se fez. Ou o que foi feito foi insuficiente.
Recordo por aquela altura escutou-se amiúde um conhecedor da problemática dos incêndios florestais, o Professor Xavier Viegas, que denunciou publicamente a insuficiente capacidade de Portugal em lidar com os incêndios. Falou muitas vezes de como minimizar a situação propondo diversas soluções que eram obviamente onerosas e às quais o Governo disse que sim senhor, mas não passou para o papel... muito menos para a acção.
Este ano de 2022 foi pobre em água, o calor surgiu quase de repente e de um minuto para o outro Portugal pinta-se de vermelho dos avisos da Protecção Civil, mas acima de tudo pelos muitos fogos que vão devorando as poucas matas existentes.
Governo e PR mostram muita preocupação com o estado em que está o País nestes derradeiros dias, mas sabemos que passada esta crise voltam a esquecer-se das actuais preocupações e aguardamos pelo ano seguinte...
A par daquilo que não se faz no terreno e que se deveria fazer, há um pequeno detalhe e que se prende com a nossa justiça, especialmente no que se refere às condenações dos incêndiários que quase todos os anos repetem a "gracinha" de atear mais umas mechas...
Enquanto mantivermos esta justiça, demasiado branda para os criminosos e altamente injusta para as vítimas, jamais seremos capazes de por fim a este flagelo. Ou minimizá-lo!
Os incêndios já fazem parte do nosso dia a dia. As televisões carregam e sobrecarregam os tempos dos noticiários com imagens, algumas delas simplesmente dantescas, de matas e casas a arder, com a evacuação de aldeias, com um conjunto de episódios muito para além do que poderíamos sonhar nos nossos piores pesadelos.
Na mesma correria de notícias surge a informação de suspeitos detidos por fogo posto. São então presentes a juízes que, na maioria dos casos, os enviam para casa até aguardarem julgamento.
Há nesta (não) justiça algo profundamente errado. Ou sou eu que estou a ver mal?
Como pode um juiz deixar em liberdade alguém que cometeu um crime desta envergadura? O mais certo é voltar a fazer…
Se, entretanto, o criminoso arranjar um advogado com alguma experiência acaba por ser internado num qualquer hospício e solto passado pouco tempo.
O conceito de justiça dos compêndios difere, e muito, da realidade. Cada vez mais… É tempo de se olhar para a justiça com um cuidado redobrado de forma a evitarem-se males maiores.
Neste sentido seria bom, de uma vez por todas, que o Ministério Público passasse a ter um código penal específico para os incendiários, com uma moldura penal na medida exacta do crime cometido e que poderia passar muito bem pela prisão perpétua (esta gente não merece viver em liberdade!!!).
Termino com a infeliz ideia de que em Portugal a justiça jamais servirá a quem mais precisa dela.