O regresso na segunda-feira ao Continente foi demorado, como é quase sempre que se sai dos Açores ainda por cima de ilhas sem voos directos para Lisboa. Portanto "check-in! às 10 da manhã em Santa Cruz das Flores e chegada a casa às 20 horas! Posto isto é só para comunicar que as deslocações de e para os Açores dá quase sempre um dia perdido!
Mas regressemos ao que conta.
1 - As Flores e o Corvo são duas ilhas onde o tempo parece ter parado. Não no sentido evolutivo, mas unicamente na forma como se gere esse mesmo tempo. Dito de outra forma há tempo para tudo.
2 - Não há filas de trânsito. E se alguém pára, o carro que vier a seguir aguarda pacientemente. Assisti a um casal que parou a viatura à porta do café, deixou o carro a trabalhar, foi beber o café matinal e entrou no carro sem que ninguém barafustasse.
3 - Os restaurantes são razoáveis, mas anormalmente caros. Não sei a insularidade é uma (má) desculpa.
4 - As pessoas são muito simpáticas e tenho a certeza que se lá vivesse ao fim de pouco tempo conheceria a população toda.
5 - Quanto ao que vi... gostaria de fazer uma lista do mais bonito... todavia tornar-se-ia injusto para outros locais de uma beleza fantástica. No entanto reconheço que viajar para o Corvo acompanhado pelos golfinhos foi algo que deixou marcas.
6 - As hortenses ocupam grande parte da ilha. Dividem estradas, terrenos, cobrem os campos mais inóspitos para as vacas, enfim dão uma beleza quase infinita à ilha.
7 - Muita gente afirma que não gostaria de viver numa ilha devido â falta de assistência médica, por exemplo. A minha pergunta é esta: quantas pessoas morreram e que vivem perto dos hospitais? Teria mais receio de um tremor de terra que do resto. Mas isto sou eu!
8 - Não percebi grande agitação nocturna o que equivale dizer que a malta gosta de se deitar cedo. Os que desejam agitação terão de escolher outra ilha, provavelmente.
9 - As viagens não são baratas mesmo que algumas se possam fazer em "low-cost", mas continuo a dizer que vale a pena uma viagem ao local mais ocidental de Portugal e da Europa.
10 - As Ilhas perfeitas mais uma vez encheram o meu coração de imagens que jamais esquecerei! Ide, ide que não se arrependerão!
A ilha do Corvo é das nove ilhas que compreendem o arquipélago dos Açores, a mais pequena. Talvez por isso é muitas vezes colocada em segundo plano.
Porém quem como eu já conhecia a Ilha sabe que aquele pedaço de terra que se ergue de um mar tão azul merece uma visita. Porque também esta ilha tema sua beleza.
Mas vamos ao que importa. No primeiro dia e assim que cheguei ao apartamento encontrei um número de telefone para onde liguei a marcar viagem para o Corvo. Só tinham disponibilidade para sábado e para mim era totalmente indiferente. Marquei para Sábado e o embarque seria no Porto das Poças.
Assim à hora marcada lá estava a aguaradar a embarcação que me levasse até ao outro lado do canal. Já passava das onze da manhã quando surgiu a lancha.
Foi nesta embarcação aparentemente frágil que embarquei e durante mais de uma hora naveguei pelo belo mar anil dos Açores. A determinada altura os motores reduziram a força e durante muitos e saborosíssimos minutos pude apreciar isto:
Uma alegria esta companhia que durante algumas milhas nos acompanharam. Porém a foto que mais gosto desta singela viagem para o Corvo é esta.
Há neste vôo do cagarro uma liberdade que ninguém tem! Depois a ilha das Flores já distante e o azul do mar... sempre o azul!
Cheguei à ilha do Corvo por volta da hora do almoço. Eu e mais de duas dezenas de viajantes. Achei mais avisado ver o que queria ver e depois mais tarde almoçar. A subida para o caldeirão do Corvo não é fácil. Perto de sete quilómetros pela única estrada que existe foram da povoação.
Depois... bom depois é aquele choque, aquela sensação de pequenez perante tamanha beleza.
Não sei se o léxico português terá palavras suficientes para descrever o que se vê do alto daquele Caldeirão. Umas vezes límpido, outras ata+petado de umas nuvens que desaparecem rapidamente, mas que quase nada deixam ver!
Da primeira vez desci até lá abaixo junto à água, mas desta vez considerei arriscado até porque o chão estava molhado e uma queda naquele tapete não seria coisa de somenos! Fiquei pelo meio caminho... Donde aproveitei para fotografar mais de perto... hortenses!
E vacas!
Há quem faça a volta inteira ao cimo do Caldeirão, mas isso leva muitas horas porque são só... cinco quilómetros de perímetro.
Sair daqui, deste local tão belo quanto pacificador é quase uma violência, mas haveria que o fazer, até porque às duas e meia o restaurante deixaria de servir refeições.
A vila do Corvo é pequena, mas tem quase tudo o que as vilas têm! Supermercado, CTT, duas agências bancárias, para além, obviamente da Câmara Municipal e um conjunto de outros serviços públicos, todos a trabalhar no mesmo edifício onde o azul celeste (a exemplo da Fajãzinha nas Flores) é a cor predominante. Parece que a República aqui ainda não chegou...
A igreja é humilde mas bonita.
A vida por aqui faz-se à velocidade de chegada e partida dos turistas, seja de barco seja de avião, mesmo quw aeroporto seja do tamanho da vila.
Às cinco horas lá estou novamente da embarcação desta vez de regresso às Flores. Levantou-se uma nortada ligeira suficiente para nascesse alguma onulação no mar. Ainda assim nada de preocupante e a viagem fez-se muito bem.
Mas faltava ainda uma pequena surpresa. O responsável pela embarcação deu-nos a hipótese de ver mais maravilhas...
Para além das cascatas que caiam no mar, pude ver grutas onde o azul do mar ganhava novas tonalidades.
Simplesmente imperdível este fim de tarde no regresso à ilha e que mais uma vez surpreendeu por uma beleza invulgar.
Por telefone havia reservado, dias antes, viagem para a ilha do Corvo. Deste modo foi bem cedo que saímos da Fajã Grande para Santa Cruz das Flores, onde chegámos a tempo e horas, já que nos haviam avisado que o transportador para o Corvo detestava sair atrasado.
Cerca de um quarteirão de pessoas, todas turistas e de diversas nacionalidades, entraram à hora marcada na embarcação. Saímos devagar por entre as rochas que há milhares de anos foi lava incandescente.
A viagem não foi directa à ilha e fomos então brindados com uma volta ao redor da costa leste e norte da ilha das Flores, donde destaco as inúmeras quedas de água,
para além dos já falados ilhéus.
Outro dos eventos que sublimou este dia foi sem dúvida a visita a algumas cavernas, destacando delas a "Cathedral Cave" como o navegador gostou de lhe chamar.
Após mais de meia hora nesta inesquecível volta eis-nos então a caminho da ilha mais pequena do Arquipélago dos Açores.
Foram cerca de 45 minutos a uma velocidade constante de 22 nós marítimos (aproximadamente 40 quilómetros à hora), sem sobressaltos nem golfinhos.
A vila do Corvo apareceu finalmente no nosso horizonte. Todavia o cimo da ilha surgia forrada de uma cor plúmbea que nos fez temer o pior.
A embarcação atracou e tentámos logo arranjar transporte para o cima da montanha que sabíamos ser o local absolutamente imperdível. Após algum compasso de espera lá veio o carro que levou dois casais para o topo.
Tenho consciência que o ser humano nem sempre está bem preparado para o belo. E então se for oferecido pela Natureza, ainda menos. Talvez por isso me comovi ao ver este espectáculo,
A fotografia não consegue ser totalmente fiel à beleza do local. Mesmo que as nuvens se dissipem e se tente uma melhor perspectiva,
O que foi uma antiga cratera de um vulcão já extinto tem agora 5 quilómetros de perímetro e dois de diâmetro. As duas lagoas separadas por pequenas elevações no seu interior tornam a paisagem ainda mais bucólica. E o verde... essa cor tão brilhantemente natural é constante.
Senti-me totalmente esmagado pela visão desta paisagem.
Numa descida de mais de um quilómetro acabei por chegar bem perto da água onde as râs, impávidas e serenas coaxavam com alegria.
A vista de baixo é outrossim imperdível e não fosse o carro que nos traria para a vila estaria muito mais tempo naquele lugar. Um verdadeiro santuário de paz.
Aqui e ali salpicado por alguma vaca que na descida e subida nos olha com indiferença preferindo obviamente o pasto fresco e viçoso.
Subimos devagar a encosta, não sem antes voltar a fixar aquela paisagem perfeita.
Já no cimo as nuvens voltaram a cobrir o Caldeirão inibindo mais fotografias. Regressámos ao mundo dos homens onde no restaurante local "O Caldeirão" comi um "peixão" delicioso. A minha mulher optou por cherne. Não foi barato já que não comi entradas nem sobremesa, mas valeu a pena pela qualidade do prato.
Eram 16 horas quando regressámos a Santa Cruz das Flores, agora sem direito a mais brindes. Quiçá a visualização da tão perigosa "Caravela Portuguesa", mesmo a li à beira do cais.
Regressámos à Fajã Grande para já tarde irmos jantar à "Barraca C'abana".
Já conhecia o local do primeiro dia, mas faltava-me ainda ver algo neste dia tão preenchido e tão marcante: o pôr-do-sol!
Durante cinco dias fui aqui colocando uma palavra associada com uma foto, tentando de forma sucinta com ambas ilustrar cada dia vivido nos três ilhas do arquipélago dos Açores.
Cinco dias que, não fossem os transbordos de avião, teria dado tempo para ver muito mais. Mas enfim é o que temos.
De uma forma muito geral direi que as ilhas que visitei não são aquele reduto escondido algures no mar. Bem pelo contrário.
Vi muuuuuuuuuuuitos turistas, portugueses e não só. Gente que procurou encontrar beleza natural, desportos especiais e que não ficou certamente defraudada.
As Flores e depois o Corvo são dois monumentos à natureza. A água é uma constante e não fosse algum calor provavelmente seria ainda mais. Os ilhéus relacionam-se bem com o gado e com o mar. De um lado e de outro há riqueza e sustento. Basta trabalhar o suficiente.
Assim como o turismo que cada vez mais se torna menos sazonal.
Uma aposta na diversidade de oferta de lazer parece ter sido ganha. Já que descidas de falésias, mergulho e visitas temáticas às baleias têm tido um grande incremento. Faltarão alguns detalhes, quiçá menores, mas quem vive no Continente nem sempre tem tudo o que deseja.
Nas próximos textos vou alargar a ideia que transmiti cada dia. Para que percebam que no meio do Atlântico a Natureza ainda é a rainha.