Quando chegamos a certa idade e começamos a ver os nossos a definhar, ficamos com aquela ideia ou será sensação: amanhã sou eu que estou assim!
Quer queiramos quer não, a idade tudo nos dá e tira.
Dá-nos sabedoria, mas tira-nos descernimento!
Dá-nos sensatez, mas esconde-nos memória!
Dá-nos calma, mas retira-nos a consciência!
Portanto cada dia será mais um dia. Vivido em plenitude ou muitas vezes nem isso.
Nesta altura da minha vida peço pouco da vida. Talvez um pouco mais de paz no coração, uma noite tranquila e saúde q.b.
Vejo neste mundo tanta demanda, tanta bravata que me sinto chocado. Seria bom que muitos ouvissem o que os chineses dizem após uma partida de xadrez: o peão e o rei encontram-se dentro da mesma caixa.
Esta é uma daquelas frases da cultura popular portuguesa (calculo que as outras culturas tenham frases com sentido semelhante) que é uma verdadeira imbecilidade. Desculpem-me a expressão, mas é o que penso.
Quando somos novos (quase) nada nos afecta! E se nos afecta dependendo da companhia ao nosso lado. damos disso conta... ou não! Na maioria omitimos até porque não queremos ficar envergonhados perante a nossa turba!
Todavia quando crescemos e iniciamos a pensar como gente adulta, é mais ou menos por essa altura que principiamos a ter consciência dos alimentos que afectam o nosso bem estar. E das duas uma: ou evitamos alimentos e/ou bebidas e passamos bem ou vamos em frente comendo e bebendo sem cuidado para dias depois pagarmos bem caro aquilo que não deveríamos ter ingerido.
Reafirmo o que disse no início: talvez esta seja uma das poucas expressões populares que não subscrevo. De todo!
Porque o nosso bem estar físico e mental deve estar acima de algo que dura somente breves segundos!
Aproxima-se o Verão e com ele as férias, as noites quentes e muita festa. Vai daqui fica o aviso sincero de quem já descobriu da pior maneira que não se perdoa o mal de fará para o bem que sabe!
Esta minha ideia resulta de muitos anos de vida, de demasiadas vicissitudes e de muitos exemplos que me são oferecidos ver!
Na verdade há gente jovem provavelmente mais velha que eu. Da mesma maneira que se poderá encontrar pessoas com muita idade bem mais novos que eu!
Um destes dias em conversa percebi que a minha mãe, com 84 anos, aceita pacificamente as opções que cada pessoa faz na sua sexualidade. O que tendo em conta a idade que tem e acima de tudo a sua educação religiosa (diria que roça a beatice!) que exibe, parece ser um caso raro de aceitação.
Portanto saio à minha mãe que por sua vez herdou os genes estranhos da minha avó, que sempre foi uma mulher muito à frente do tempo em que viveu.
Voltando à ideia da velhice gostaria de manter este meu espírito sempre aberto a aceitar aquilo que é mais jovem que eu... especialmente as ideias!
Há muitos anos andei com filhos, sobrinhos e até amigos destes no carro numa correria permanente para os levar à natação.
Entretanto alguns cresceram e passaram a optar por outras actividades, nomeadamente aulas de inglês! De maneira que naquele tempo os fins de tarde eram feitos a correr: deixava uns nas piscinas, levava outros ao inglês, regressava à natação para ir buscar os mais novos, levá-los a casa e voltar ao inglês para buscar os outros.
Portanto uma fantástica correria.
Passados que foram dezenas de anos eis-me novamente a caminhar para as piscinas, desta vez com mais calma e menos miúdos, unicamente a minha neta.
As piscinas são as mesmas, mas definitivamente já não conheço ninguém da antiga equipa que por ali mexia os cordelinhos. Gente boa e empenhada!
Um regresso ao passado com um gosto diferente... O da idade!
A única coisa da minha vida que está organizada é a minha escrita. De resto não me incomoda viver num caos!
Cada vez mais a experiência de vida me indica que é este o melhor caminho. Para quê ser arrumado, organizado, metódico para daqui a umas semanas andar-se em busca de qualquer coisa que está bem arrumada. Tão bem, tão bem que não se encontra.
Prefiro por isso a minha secretária cheia de papéis, pois sei quando necessitar de algo ali naquele monte há-de estar. Basta procurar!
É que bem vistas as coisas dá uma trabalheira enoooooooooooooorme arrumar os pertences, para depois ter outra trabalheira para os desarrumar. Dois trabalhos quando podia só ter um... E tendo em conta que caminho para velho... arrisco-me, se arrumar muito bem, a um destes dias nunca maisachar o que quero ou preciso.
Portanto bem vindo ao meu mundo bem desorganizado, mas obviamente feliz!
Sempre que vou o lar ver a minha demente sogra saio de lá sempre a pensar: quando serei eu a entrar aqui?
Tenho perfeita consciéncia que o meu caminho será naquele sentido, pois os filhos terão de trabalhar até mais tarde e provavelmente até estarão longe de mim.
Mas independentemente de todas as razões sinto-me sempre confrangido quando visito o lar. Mesmo sabendo que a idosa estará muito melhor ali que estaria em casa.
A idade é uma coisa tramada! Quando pensamos que nada nos atinge, lá vêm os anos a colocar-nos no sítio devido para que não tenhamos ilusões ou renovadas esperanças.
Saber viver com a idade que temos é quase um luxo. Mas é aqui que reside essencialmente o meu maior receio: jamais conseguir assumir a minha idade e com ela as minhas reais limitações.
Não sei se já vos aconteceu saírem de casa e algures no caminho para um qualquer destino pensarem: será que fechei a porta de casa à chave? Ou pior… será que deixei a panela ao lume?
Mesmo com quase toda a certeza no nosso pensamento a verdade é que entrando o vírus da dúvida no nosso espírito… acabou-se o descanso.
Uma dúvida é um sinal de fraqueza da parte do ser humano. Ou se não é de fraqueza será sinónimo de alguma debilidade… psicológica.
Um dos grandes erros da juventude é nunca terem dúvidas… somente certezas. Sabem tudo, conhecem tudo (ou se não conhecem, sabem de quem conhece!!!), a vida assente em certezas jamais vividas. Do lado oposto da juventude há os idosos que também sabem tudo ou quase tudo. Mas porque viveram a vida e já têm muitos anos!
Uns e outros incorrem nesse erro da certeza e desvalorizam a dúvida, já que esta é, como já referi, um sinal menor!
Por aqui costumo dizer que só tenho duas certezas: a primeira é que partirei um dia e a segunda prende-se com o meu passado, que é obviamente imutável.
Tudo o resto é um mar de dúvidas que vivem comigo permanentemente.
Só Deus terá mais certezas sobre mim… mas não mas pretende revelar!
Chegar aos 90 anos ainda autónomo é obra! Pois o meu pai chegou a esta fantástica marca com tino, sempre acompanhado da minha mãe e a pensar pela sua própria cabeça.
Está surdo, muito surdo, mas ainda ouve o suficiente para falarmos com ele. Adora ler o jornal e sair de casa para ir a uma fazenda fazer... nunca sabemos o quê!!!
Hoje convidei-o para almoçar no restaurante. Toda a família esteve presente e foi com alegria que já em casa cantámos os parabéns. Para alegria da minha neta que adora as velas acesas como qualquer criança da idade dela!
Jamais saberei se chegarei alguma vez a este sublime número... ainda por cima neste (razoável) estado em que está o meu pai.
O mais engraçado é que quando cheguei a casa dele e lhe dei os parabéns ele devolveu:
- Há 65 anos fui multado em Ponta Delgada por acender um cigarro com isqueiro para o qual era obrigatório ter licença.
Sé ele!
Não foi o pai perfeito, nem eu o sou. Mas foi o que pode e que as circunstâncias da vida deixaram.
Sentado à secretária sob uma mansa luz amarela oriunda de um vestuto candeeiro, olho para uma fotografia com alguns anos dos meus filhos e sobrinhos.
Todos eles agora pais ou em vias disso!
Fico a pensar em como a vida se despacha e nos despacha. Ainda há pouco era um jovem cheio de vida e força para enfrentar os desafios, para nesta altura nem perceber que futuro me estará reservado. E temo-o sinceramente!
Mais o corpo que o cartão de cidadão denunciam-me a idade. As cãs, a pele enrugada, alguma impaciência para a estupidez sem sentido dos outros. Entretanto a par de muitas recordações que agora repousam neste meu espaço físico há também muitos livros que fui aduirindo ao longo do tempo.
Quantas vezes olho para eles e pergunto-lhes: o que será de vocês quando eu partir? Não é um diálogo, mas um monólogo... esta conversa entre mim e eles, cujas respostas jamais serão proferidas.
Tenho pena, porque também gostaria de saber o que os livros pensam acerca de mim!
Há quem náo viva bem com a idade que tem. Uns são novos e queriam ser mais velhos (também me aconteceu!!!) outras são mais velhos e julgam que ainda são novos (ainda não me aconteceu!!!).
Sempre achei que cada idade tem os seus momentos mais tristes. mas também momentos fantásticos. Talvez neste último caso esteja a capacidade que os mais velhos têm em antecipar os problemas.
Os mais novos geralmente sentem os dias de uma maneira mais eufórica o que equivale dizer que agem mais com o coração que com a cabeça. Faz parte!
Entretanto os mais velhos são geralmente mais pausados e reagem de uma forma cuidada aos estímulos que surgem. Só que nem toda a gente mais vivida pensa assim. Esquecem-se da idade que têm e pretendem, com a idade que têm, exibir das mesmas aptidões que os mais novos, olvidando muitas vezes o ridículo a que se propõem.
Chegando eu a esta idade, rapidamente percebi de algumas limitações com que fui brindado. Não me alimento com as quantidades de antigamente, bebo muito menos, tenho diversas dores ortopédicas e visto-me com roupas discretas próprias para esta idade.
Posto tudo isto assumo que gosto de ter a idade que tenho, sentir que perdi algumas competências, mas ganhei muitas outras.
A paz comigo mesmo é uma delas. E com os outros também!