Hoje aproveitei o dia com sol para finalmente dar conta da minha horta. É que contas feitas há mais de uma semana que não tinha consciência de como estavam as couves para este Natal, tal foi a chuva contínua e assaz persistente.
Sinceramente.... do que vi gostei. É que a dez dias do Natal as minhas couves apresentam já este bom aspecto.
Faltou-lhes quiçá o frio e a geada que certamente ajudaria na sua cozedura futura.
Tradicionalmente no início do mês de Setembro costumo plantar as costumadas "couves brancas" para serem servidas e saboreadas no próxima consoada (e não só!!!).
Para tal, arrancaram-se os tomateiros, cavou-se fundo a terra rija e seca, ancinhou-se e finalmente estava pronta para receber as abençoadas couves.
A tradição caseira manda plantar diversos tipos de couves. Deste modo plantaram-se: "Pencas de Chaves", "Pão de Açúcar", bróculos, couve flor e couve galega.
Todos temos consciência que o mês de Setembro foi muito seco, quase sem água. Talvez por isso arranjou-se uma solução de forma a aproveitar a água da próxima chuva e que cai no telhado de uma pequena casa de arrumos, ao fazê-la correr para um depósito de mil litros.
Portanto se tudo correr a preceito ficaremos com água para as próximas regas... E não será da companhia.
Entretanto nem imagino a alegria das minhas couves ao receberem desde ontem à noite a benfaseja água caída do céu.
Quando descíamos com o carro da Espalamaca para dar uma vez mais ao cais, reparei que um dos veleiros que havia visto no dia anterior fizera-se ao mar.
O "Tres hombres" içara já parte das suas velas para seguir viagem. Todavia deixara a sua marca na marina. Tradição é tradição e será sempre para manter|
Quando cheguei ao Porto Pim para almoçar a chuva, que toda a manhã fustigara com mais ou menos violência a cidade da Horta, parecia ter amainado.
A conselho de um outro bloguer acabei por ir almoçar ao Genuíno. Sinceramente não me arrependi. Boa comida, bom serviço, simpatia a rodos e um lobo-do-mar à porta para se despedir da gente. Um privilégio ter podido apertar a mão àquele homem.
Genuíno Goulart Madruga nasceu no Pico mas cedo se instalou no Faial. Pescador e marinheiro Genuíno foi o primeiro açoriano a dar a volta ao mundo num solitário.
Uma história de vida que ninguém deverá esquecer.
O tempo entretanto levantara. O sol lançava-se agora com força sobre a cidade. Após o almoço voltei ao porto. Definitivamente não me cansava de ver aquele mundo...
Percorri calmamente muralhas de betão onde os veleiros estavam encostados. Encontrei um pai e três crianças que haviam partido de Le Havre em França no passado mês de Agosto para ir até às Antilhas, no seu "jubilé" de cor azul, estando agora de regresso ao país natal quase um ano passado.
Mais um mestre que encontrei a cumprir a tradição.
Aproximava-se o fim da tarde. No dia anterior soubera de uma missa na Igreja Matriz da Horta seguida de procissão por algumas artérias da cidade.
Chegámos mesmo a tempo de ainda ver os padres a chegarem à Matriz onde foram recebidos com uma enorme fanfarra. Lá dentro os fiéis enchiam o templo aguardando a chegada dos padres. A rua surgiu muito bem enfeitada num trabalho que deve ter sido moroso.
A devoção que todos os presentes mostraram nas cerimónias do dia Santo foi óbvio sinal de muita fé e crença. Um exemplo para muitos dos continentais...
A noite aproximava-se e com ela a aventura do dia seguinte.
A cidade da Horta acordou sob uma chuva miudinha na quinta feira. Dia importante para os católicos mas apenas mais um feriado para os outros. Após um pequeno almoço onde o queijo da Ilha de S. Jorge foi a estrela e um bom café, peguei no carro e fomos até ao Monte da Guia.
As "Caldeirinhas" apreciadas do cimo do Monte têm outra beleza.
O vento soprava com força e a chuva molhava com alguma intensidade. A vista da cidade do lado contrário à Espalamaca, especialmente para o Porto Pim denuncia uma vista única, não obstante o cinzentismo da manhã.
A descida para o porto fez-se devagar tendo em conta a queda de terras que cortaram o caminho. Procurei o Aquário e o Museu da Baleia. Mas quer um quer outro encontravam-se encerrados por via do feriado...
Virei à esquerda e percorri diversos quilómetros à beira-mar. O negro das rochas destacavam-se como gumes no mar revolto. Apanhei finalmente a estrada que me levaria ao aeroporto. Pelo caminho apanhei diversos Impérios ao Divino Espírito Santo, devoção muito enraizada neste povo insular.
Até que a seta indicava o local...
Vira-o ao longe lá do Monte da Guia, mas não calculava ver algo tão especial. Um istmo que entra pelo mar dentro. Uma espécie de castelo construído sem intervenção humana, maioritariamente habitado por muitas aves especialmente os já conhecidos e anteriormente referidos cagarros,
e que conjuntamente com a restante passarada que por ali vive faz-nos sentir a beleza do que é puro em todo o seu esplendor. As vacas que por ali vão pastando perto são outrossim testemenhas desta imensidão de Natureza, em estado genuíno.
Após uma visita à queijaria do "Morro" onde acabámos por comprar uma série de queijos eis que é tempo de regressar à cidade. A povoação Flamengos surge nos painéis identificativos e depressa chego ao Jardim Botânico.
Outro local fantástico onde se tenta preservar e até desenvolver espécies endémicas
como é o caso da flor "não-me-esqueças" ou mais conhecida por Miosótis.
Pena foi que o Orquidário não estivesse já aberto. Mas valeu a visita... Demorada.
Entretanto antes da visita percebemos que bem perto dali existiam os charcos de Pedro Miguel. Decidimos assim que saímos pormo-nos a caminho em busca dos ditos...
O tempo continuava plúmbeo e desagradável mas nada nos demoveu. Sobe e desce curva e mais curva, alcatrão e terra, gado atravessado na estrada, para pararmos em... nenhures. A chuva continuava a cair, o vento a soprar com força mas o som que emanava daquele lugar tornou-se inesquecível e inanarrável.
Aproximou-se a hora do almoço... Era o momento de experimentar o restaurante Genuíno.
Após um ligeiro petisco numa esplanada na Taberna de Pim ao sabor de uma fresca brisa da tarde, foi o momento de voltarmos ao porto da cidade da Horta.
Desde traineiras
a veleiros
passando pelos iates de luxo,
todos ali repousam até que novas viagens e renovadas aventuras surgam no horizonte marítimo.
Eu que jamais naveguei em qualquer veleiro, tendo tido apenas a experiência de muitos anos de atravessar o Tejo nos Cacilheiros, comovo-me a olhar aquela fantástica paisagem náutica.
Muitos turistas podem aqui chegar, ver, admirar, tirar um conjunto de fotografias, mas depois passam e rapidamente esquecem. Todavia este porto tem um mistério qualquer associado que desconheço, uma magia única que me assolou quando por ali passei.
Podem ter sido das pinturas,
que as tripulações tradicionalmente vão deixando como prova da presença naquele porto,
ou de outra coisa qualquer, no entanto não consigo ficar indiferente àquele lugar.
Ele transporta-nos para muito longe dali, para um mar tantas vezes ingrato mas ao mesmo tempo absolutamente único. Um porto que não é um ex-libris da cidade da Horta... É a cidade que, na sua simplicidade, complementa o porto.
Abandonei os Capelinhos com nostalgia. Mais à frente na estrada que já havia feito principiou novamente a chover.
Conduzi devagar ao passar por Ribeira Funda, Cedros, Salão, Espalhafatos, Pedro Miguel sem ver nenhuma das praias. A chuva intensa limitava os passeios pedestres.
Acabei por chegar à Espalamaca, sem ter passado pela praria de Almoxarife. Ficará para a próxima...
Na rotunda saio para a esquerda que me deu acesso ao Miradouro e onde se destaca uma enorme imagem de Nossa Senhora da Conceição que vela e guarda o porto e a cidade.
Inesperadamente pára de chover e um sol quente surge para secar a estrada. O miradouro é já ali. Daquele alto temos a noção de como a cidade está refém do porto. Uma paisagem única, brilhante e profundamente cativante.
O Sol ilumina agora a cidade e o porto. Entretanto o Pico esconde-se por detrás de grossas nuvens como se tivesse vergonha de ser testenmunha permanente de tanta beleza.
É a hora de descer à cidade. Deixo o carro e as malas no hotel e parto a pé para explorar finalmente a meretriz de um espaço que é já uma referência mundial.
Inicio a caminhada à beira porto pelo cais dos ferrys que brevemente me levarão a S. Jorge e com calma que o fim de tarde reserva vou palmilhando a calçada negra e alva.
O mar, o tal de cor azul como não há em outro lugar, anuncia-se calmo, sereno.
Aproximamo-nos da marina que alberga centenas de embarcações de (quase) todos os tamanhos e nacionalidades. Uns encostados, outros atracados ou simplesmente fundeados dá gosto sentir aquele espaço.
Na avenida, nas esplanadas ou simplesmente nos cais, velhos e novos lobos-do-mar de barbas longas e peles tisnadas, vão trocando ideias, contando e recontando peripécias passadas ao largo.
No final, bem no final da rua após o porto encontrámos o Porto Pim.
Trezentos e cinquenta metros de verdadeira praia de areia. Negra claro!
Hora "unhappy" de chegar a casa após quatro belíssimos dias de férias e de passeio por duas das nove ilhas açorianas: Faial e S. Jorge.
À hora que escrevo este postal estou já no aeroporto da Horta preparado para sair para a Terceira para dali partir para Lisboa.
A verdade é que comecei este dia em S.Jorge, fiz a travessia de barco para S. Roque do Pico e daqui para a Horta onde almocei principescamente. Um gin tónico e um licor de amora no Café Sport remataram o pós almoço.
Finalmente e antes de partir da bela cidade onde o mar e os marinheiros se juntam numa comunhão quase perfeita, tirei esta foto.
Lembram-se deste texto e da respectiva foto? A verdade é que quase três meses passados e num ano sem chuva o quintal está como a foto abaixo se apresenta.
A chuva desta semana trouxe alguma força às couves. Agora vão-se cortando as velhas e as queimadas das maresias madrugadoras de forma a não ocuparem muito espaço.
É que estes legumes não gostam de estar muito apertados.
Após uma Primavera e quase todo o Verão de volta dos tomateiros, que produziram abundantemente, chegou a hora de preparar a terra para as culturas de Inverno.
Para tal socorri-me de mão de obra barata - os meus filhos - que cavaram a terra e fizeram os respectivos regos.
Finalmente a mim coube plantar mais de sessenta pés de couves, posteriormente bem regadas.
Uma cultura a pensar já na ceia do Natal.
Os pés são pequenos, mimosos, mas não tem mais nenhum trabalho senão crescer!