Liturgicamente amanhã é que se comemora o "dia dos fiéis defuntos". Todavia e tendo em conta que hoje é feriado Nacional a igreja católica aceitou que hoje se vistassem os cemitérios honrado os que já partiram para "outras paragens"!
Hoje fui à missa e participei no cortejo até ao cemitério onde se encontra sepultado em jazigo de família o meu sogro. Algumas dezenas de pessoas (tenho vindo a constatar cada vez menos gente nestas celebrações!!!) caminharam devagar num desfile lento e compassado ao som de uma Avé Maria rezada pela padre e acompanhada pelos fiéis.
Já no cemitério cada um dispersou-se para as centenas de campas, honrando os seus parentes e amigos desaparecidos.
Fiquei de lado a olhar aquele mar de gente, quase todos de negro vestido, e perguntei-me como terá sido a relação daquelas pessoas com os agora defuntos. Ter-lhes-ão oferecido flores como fizeram agora? Terão acarinhado, amado e ajudado enquanto seres vivos necessitados de carinho e provavelmente apoio? Ou terão fugido às responsabilidades?
Detesto hipocrisias! E nestes dias paira sobre toda esta gente uma dúvida perene. Na verdade eu também lá estava, todavia posso confidenciar que tratei do meu sogro até ao fim com o carinho, respeito e ternura que ele sempre teve para comigo.
E sempre que venho à Beira Baixa passo pela sua derradeira casa para o homenagear! Não o faço somente no dia 1 de Novembro, longe disso!
Conheço bem a Póvoa da Atalaia, aldeia do concelho do Fundão, distrito de Castelo Branco, berço do poeta Eugénio de Andrade há precisamente 100 anos. Ou será de José Fontinhas?
Ler Eugénio de Andrade é fugir ao comum dos escritos, é sentir que a poesia tem outra dimensão, mui diferente desta que hoje vamos aqui e ali desfiando.
Sempre que entristeço leio-o. A "Ele Génio" das palavras e dos sentimentos. E logo acordo para outra realidade.
Certa tarde ousei... a pegar na frase que está sublinhada, retirada deste belo poema escrito pelo poeta beirão,
Mar, mar e mar
Tu perguntas, e eu não sei, eu também não sei o que é o mar.
É talvez uma lágrima caída dos meus olhos ao reler uma carta, quando é de noite. Os teus dentes, talvez os teus dentes, miúdos, brancos dentes, sejam o mar, um mar pequeno e frágil, afável, diáfano, no entanto sem música.
É evidente que minha mãe me chama quando uma onda e outra onda e outra desfaz o seu corpo contra o meu corpo. Então o mar é carícia, luz molhada onde desperta meu coração recente.
Às vezes o mar é uma figura branca cintilando entre os rochedos. Não sei se fita a água ou se procura um beijo entre conchas transparentes.
Não, o mar não é nardo nem açucena. É um adolescente morto de lábios abertos aos lábios de espuma. É sangue, sangue onde a luz se esconde para amar outra luz sobre as areias.
Um pedaço de lua insiste, insiste e sobe lenta arrastando a noite. Os cabelos de minha mãe desprendem-se, espalham-se na água, alisados por uma brisa que nasce exactamente no meu coração. O mar volta a ser pequeno e meu, anémona perfeita, abrindo nos meus dedos.
Eu também não sei o que é o mar. Aguardo a madrugada, impaciente, os pés descalços na areia.
e escrever este pobre poema.
Prosa-poema para um fim de tarde
Daqui deste alto, tão alto que quase toco as estrelas,
Vejo ao fundo a linha de horizonte, ténue
Onde singelos pontos brancos tocam o céu.
Daqui deste alto, tão alto, que quase abraço a Lua,
Vejo alvas e serenas almofadas,
onde o sol, por fim, irá repousar.
Daqui deste alto, tão alto que quase me sinto voar
Vejo o condor, que em voos brandos e fatais,
Mira a sua presa perfeita e ingénua.
Daqui deste alto, tão alto que quase agarro o vento,
Vejo o verde da planície recortado por plúmbeos traços,
Hoje, dia de Carnaval, tinha a intenção de escrever sobre a tradição aqui de casa, mas que este ano não se realizou por razões óbvias e que se prenderia com a feitura de um saborosíssimo “Cozido à Portuguesa”. Fez-se unicamente o “Caldudo”, um doce beirão!
Alterei a minha ideia inicial após saber que Carmen Dolores havia falecido. Sei que já tinha uma idade muito bonita, porém foi uma perda para a cultura portuguesa, nomeadamente para a “arte de Talma”.
Um ano de 2021 que já nos levou cantores (p.e. Carlos do Carmo) e outros grandes actores não poderia ficar pior sem que nos retirasse outrossim uma grande, grande referência da cultura.
A minha relação próxima com o gosto do teatro vem desta senhora que ora nos deixou. Era miúdo, mas vi diversas vezes o Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett. Uma peça de teatro que me deixava sempre em êxtase, essencialmente pela actuação de Carmem Dolores.
Muitos anos mais tarde tive a sorte e o privilégio de a conhecer pessoalmentee aproveitei aquele momento para lhe comunicar que o meu gosto pelo teato adviera dela.
Acabei nesse dia muito feliz e que guardo para sempre como um momento sublimado na minha pobre existência, por escrever um postal e que publiquei neste espaço.
Vinte e nove de Julho de 2014. São vinte horas e quarenta e nove minutos de um dia de Verão e eu registo o meu primeiro comentário aqui.
Hoje, quase três anos passados, a BB faz parte da minha história pessoal. Ficámos amigos com a estranha curiosidade de nunca nos termos visto (mas há necessidade disso?).
Algum tempo e muitos comentários depois acabámos por criar em conjunto com o PP, um blogue que se encontra (actualmente) adormecido (não acordem a besta, faxavor!).
Mais a sério… a BB foi e será um caso sério de popularidade. Se na sua nova profissão, acabadinha de chegar, for tão competente quanto era na escrita, só digo que temos médica.
Tenho consciência que entre nós há uma enormíssima diferença de idades, o que não impede que sejamos deveras bons amigos.
Este texto é unicamente dedicado a ti, BB. Porque sempre me deste muito mais do que eu te dei a ti. Não esqueço o carinho e a ternura como sempre me trataste.
Face ao que precede comunico que foi com muita alegria e quiçá emoção, que percebi que havia nova profissional de saúde em Coimbra… ou será em Leira? Ou noutro sítio qualquer?
Muitos parabéns BB. A gente lê-se por aí!
Ah quase me esquecia… espero que regresses à escrita. Urgentemente!
Sempre me pareceu um homem pacato e pouco falador.
A vida dá muitas voltas e passado pouco tempo eis que se transfere para outro departamento onde, anos mais tarde, nos voltámos a encontrar.
Mais voltas que a vida dá e durante mais de três anos convivemos lado a lado. Ele falava dos seus problemas, eu dava as minhas dicas. Eu pedia ajuda e ele sempre a disponibilizar-se.
Hoje foi o seu último dia de trabalho. Por razões que só a ele dizem respeito achou por bem passar à reforma.
Organizei por isso um almoço em que apareceram 72 colegas. São nestes momentos que percebemos como as pessoas se tornaram importantes e uma referência. Gostei imenso de ver tanta gente à volta dele.
Depois veio a prenda e as felicitações. G. apenas foi humildemente agradecendo a cada um dos convivas. Todavia ele mereceu esta homenagem.
Já no trabalho confessou-me que se sentiu muito comovido e agradeceu que eu tivesse falado por ele umas mui breves palavras.
O meu dom de oratória não é obviamente o melhor, mas quando é o coração a falar tudo parece sair melhor.
Não imagino sequer se alguma vez ele lerá estas paupérimas palavras, mas mesmo assim termino com um conhecido "cliché": ainda agora se foi embora e já sinto saudades dele.
Costumo encarar o tema da morte de frente. Nunca fujo à discussão! Sei de antemão que todos temos de partir… um dia.
Todavia há figuras que julgamos eternas, que jamais desaparecerão, que viverão para sempre. Este era o caso do Professor Moniz Pereira. Conheci-o nos anos setenta, quando pateticamente achava que podia ser outro Carlos Lopes…
Fizesse chuva, frio ou sol lá estava ele sempre a contar o tempo do nosso maior campeão do atletismo. Mas jamais olvidava uma palavra de incentivo aos miúdos, que na mesma pista de cinza onde treinavam Lopes e Mamede, corriam atrás de um sonho.
Já passaram tantos anos… Mas o professor parecia sempre o mesmo cada vez que o via na televisão. Diria que os anos não corriam por cima dele.
Enganei-me redondamente!
Partiu hoje com a bonita idade de 95 anos. Guardarei no meu coração e na minha memória, até que o tino me deixe, as palavras e os sorrisos que na altura simpaticamente de dispensou. E lembro-me de uma frase que me disse naquele fim de tarde muito chuvoso e que passou a ser o meu lema para a vida: “Rapaz… não basta saber correr é preciso também saber sofrer”!
Hoje sofro com a sua partida… Um exemplo de excelência e cidadania que marcou atletas, gerações, o país. Um homem em que o agá não cabe neste minúsculo rectângulo à beira mar plantado. Nem nunca coube!
Trabalhámos nos mesmos Departamentos durante 20 anos. Sempre lhe reconheci muita competência e uma enorme capacidade de trabalho.
É aquilo que se pode chamar uma pequena-grande mulher. O seu tamanho físico é claramente ultrapassado pela sua enorme apetência para liderar. Pois... quão diferente do chavão… chefiar.
Vai partir para novos desafios! Com graaaaaaande mágoa minha. Não posso esquecer que a minha última promoção foi-me dada e comunicada por esta senhora.
Fico por cá, a carpir quiçá mágoas, por alguém que sempre vi como timoneira de uma embarcação que nem sempre navegou em mar-chão. No entanto mesmo nas enormes tormentas conseguiu sempre levar o seu navio a bom porto.
Foi e é uma mulher de coragem!
Daqui deste humilde espaço agradeço do fundo do coração as palavras sempre fantásticas que me foi dizendo e a paciência que sempre exibiu para me ouvir nos momentos menos bons.