Sempre gostei de guardar recordações, Sejam os bilhetes de concertos a que assisti, os museus que visitei, as viagens que fiz.
Também guardo muitos dos papéis onde principiei a escrever os primeiros textos. Um deles é um velho caderno de argolas, pautado e onde estão escritas as minhas primeiras crónicas, que mais tarde seriam publicadas num jornal regional. Muitos blocos, muitas folhas soltas, muitas ideias alinhavadas, mas poucos textos realmente escritos.
No entanto guardei tudo... para de vez em quando revisitar com saudade e nostalgia. Saudade de um tempo em que era muito mais novo, com estaleca para dar e vender. Nostalgia por tantos encontros, almoços, jantares, reuniões em minha casa ou em casa de outros. Queríamos mudar o Mundo, os pensamentos, as mentalidades acabadas de sair de uma longa ditadura.
Hoje os nossos computadores guardam tudo no mesmo espaço físico. Não há cadernos, blocos, folhas simples onde se rabiscava qualquer coisa e ali ficava a aboborar...
Entre aquele tempo e agora passaram mais de 40 anos. Quase meio século... O tempo realmente voa e nunca pára.
Vai daqui há uma questão que formulo a mim mesmo: como será daqui a outros 40 anos?
E mais importante de tudo: como serei recordado pelos meus?
Hoje em conversa com um ex-colega de trabalho e hoje bom amigo, dei conta que um outro nosso companheiro estará neste mundo por pouco tempo. Um cancro na próstata a que se seguiu um dos pulmões (era um fumador inveterado) e finalmente problemas nos rins que a quimio não veio ajudar. O destino dele estará traçado para breve, suponho eu!
Tirando esta triste realidade ficámos ambos a conversar sobre outros colegas e das suas estranhas características. Algumas com graça outras nem tanto mas ainda assim... recordámos.
Depois de termos desligado as chamadas fiquei a pensar naqueles 37 anos 9 meses e 25 dias. Tanta coisa que passei, tanto que eu aprendi, tanto que terei eventualmente ensinado. Mas diria que foram bons tempos. Não obstante algumas diferenças, especialmente políticas, ainda assim alinhávamos pelo mesmo diapasão e a palavra solidariedade não era apenas... uma mera palavra. Era uma filosofia de vida.
Pelo que sei hoje tudo mudou. Estes miúdos acabadinhos de sair das faculdades com médias fantásticas e convencidos que são os melhores do Mundo e arredores ainda não perceberam que também são seres humanos e por isso candidatos a tudo de mau que acontece aos outros.
Ainda lidei com alguns que nem se dignavam cumprimentar quem quer que fosse. Todavia ainda coloquei o dedo no nariz de diversos. Ficavam muito ofendidos e fugiam de mim a sete pés. Problema deles.
Faço agora a ponte para as crianças que ora vou lidando (vulgo netos). A todos quero passar os mesmos ensinamentos que me entregaram e outros aprendidos nos caminhos da vida e que considero deveras importantes. Acima de tudo gostaria que os meus descendentes entendessem que as outros também podem ser importantes nas suas vidas. E não me refiro apenas à família. Diria mesmo que a família muitas vezes é parte do problema. Sempre fui pessoa afável. Falta-me beleza física, mas quando gosto de alguém dou-me por inteiro. Talvez por isso tenha tantas amizades (e nem falo das do feicebuque, que essas não contam para isto).
Entretanto as nossas crianças já nasceram num Mundo altamente competitivo e não gostam nem sabem perder. Vencer a todo o custo parece ser o lema.
Remato com o desejo de acordarmos as nossas crianças para uma outra realidade. Aquela onde se estende a mão a quem precisa!
À questão muitas vezes formulada por outrém, se já me arrependi de alguma coisa no meu passado, posso assumir que não me arrependo nada do que fiz nem do que não fiz. Porque todas as minhas acções foram decididas, muitas vezes, sem ter verdadeira consciência das consequências dos meus actos. Era novo, inexperiente e acima de tudo ingénuo.
Provavelmente com aquilo que sei hoje muitas daquelas decisões seriam tomadas de forma diferente. Porque na verdade actualmente não serei a mesma pessoa do meu, já longínquo, passado. Mas é normal que assim seja. A idade, a experiência, a vida vai-nos permanentemente mostrando outros horizontes.
Hoje sou um homem maduro, bem consciente das minhas actuais limitações físicas e até psicológicas. Se em alguns casos serei mais paciente, noutros a minha postura extremou-se. Mas certamente não serei só eu que me tornei assim. Todos nós, conforme vamos avançando na idade e através dos eventos que se atravessam no nosso caminho, aprendemos a lidar melhor (ou se calhar até na) com as situações.
Faz parte da nossa vivência. O que realmente não podemos ter é receio do futuro. Nada sabemos sobre ele, é certo, mas ainda assim com o lastro do nosso passado conseguiremos iluminar o futuro.
A maneira como cada um de nós educa ou educou os filhos varia muito da nossa própria educação ou da forma como assumimos a vida que vai escorrendo por entre as nossas mãos.
Tenho um velho amigo que nunca soube educar convenientemente os filhos. Mas não o fez por descuido, mas porque, no fundo, também fora educado da mesma maneira. Ele sabe perfeitamente o que penso, pois disse-lhe ene vezes que estava a educar mal os seus infantes. Na altura ele concordava comigo, mas não nunca teve força psicológica e moral para inverter o rumo dos acontecimentos, com os custos financeiros e pessoais inerentes a essa incapacidade de se impor.
É sem dúvida uma das melhores pessoas que conheci em toda a minha vida e continuo a pensar que não merece, de todo, o calvário que passa.
Faço com isto a ponte para dois casos que irei relatar: um que assisti e outro que me foi relatado por um amigo.
O primeiro aconteceu hoje. Estava no corredor da piscina onde a minha neta vai tomando umas lições de natação quando chegou uma menina de seis/sete anos de idade à porta, vinda da piscina em fato de banho e enrolada num roupão. Procurava a mãe que teria a roupa para se vestir. Só que esta não estava presente. E ali ficou minutos ao frio a aguardar. Finalmente apareceu a mãe e quando disse que estava à espera há algum tempo escutei:
- A mãe estava a trabalhar!
Fiquei triste com aquela desculpa e no meu pensamento nasceu logo a verdadeira questão: quando é que um trabalho vale mais que um filho?
Perante este mau exemplo nem imagino como será lá em casa... Creio que deverá viver em roda livre, sem regras nem limites.
O segundo caso foi contado por um amigo que uma destas noites teve em casa a jantar com ele e com os três filhos duas colegas da filha mais nova de treze anos. Este pai tem por hábito impor a regra de jantarem todos juntos (pais e filhos), mas só quando o último acaba de comer é que têm todos autorização para levantar da mesa. Outro pormenor é a ausência de equipamento electrónicos à mesa! Muito bem acrescento eu!
As meninas convidadas estranharam aquelas regras e ambas confessaram que em suas casas cada um come à hora que lhe apetecer e o que quiser. Mais... têm de ser elas a preparar a refeição se quiserem jantar alguma coisa. Portanto imagine-se o que terá sido a educação daquelas jovens... porque agora dificilmente mudarão de postura.
Não sou sociólogo, psicólogo e psiquiatra para tentar traduzir estes dois casos. Todavia tenho a certeza que estes pais, ora distantes dos filhos receberam igual educação dos seus antecessores.
Aproxima-se o Natal a passos largos. Uma altura que deveria de ser de junção de família temos muito filhos em vésperas da festa a entregar os seus antecessores nos hospitais para que possam viver o Natal descansados esquecendo que amanhã poderão ser eles a serem escorraçados de casa!
A Maribel publicou hoje um belo texto sobre educação! Que todos deveriam ler e seguir!
Tendo eu chegado ao Outono da vida (o Inverno espero que chegue mais tarde!!!) fico a olhar para aquilo que foi a minha Primavera e o meu Verão.
Sinto-me um privilegiado! Creio que será primeira conclusão a tirar destes mais de 60 anos.
O nosso caminho nem sempre é fácil, acrescento que nunca é!
Tive uma Primavera enfadonha e triste, um Verão com muitos desafios complicados, mas outrossim com muitas venturas.
Entretanto este Outono que vou agora desfiando está repleto de diferentes sensações e emoções. Filhos homens, netos, livros, reforma... um ror de momentos que vão serenamente preenchendo o meu coração.
Veremos então até onde consigo levar este monte de carne porque o Inverno pode ser já amanhã!
Sempre que eu regressava das diversas peregrinações que fiz a Fátima, havia ali uns dias em que, literalmente, vivia numa realidade paralela, tais eram as boas sensações que permaneciam no meu espírito.
Decorridas algumas semanas é que começava a interiorizar de uma forma mais serena tudo o que havia vivido na caminhada feita tempos antes.
Da mesma maneira a juventude que viveu estes dias das JMJ realizadas em Lisboa sob a batuta sempre muito atenta do Papa Francisco, só daqui a alguns dias, para não dizer semanas, irá perceber o que realmente terá vivido.
Porém é nesta consciencialização que irá residir o futuro desta juventude e, por não dizê-lo, o sucesso das próximas Jornadas que se realizarão em Seul, na Coreia do Norte. Fica assim a ideia de que todas estas emoções ora vividas poderão influenciar o futuro de muitos jovens, sempre tão ávidos de certezas e, por vezes, pouco questionadores.
Não sei, ninguém sabe como estará o Mundo daqui a 24 horas quanto mais daqui a quatro anos. Todavia será interessante assistir ao que esta juventude tão presente em Lisboa poderá fazer pelo Mundo até às próximas JMJ.
Já nem comento que nessa altura o Papa Francisco terá, se estiver vivo, noventa anos!
Aguardemos pois... por aquilo que o futuro e toda esta juventude nos reservará!
Neste mesmo dia há precisamente três anos despedia-me virtualmente dos colegas do trabalho, pois ia entrar de férias para logo a seguir passar à reforma.
Segue infra a mensagem que enviei na altura aos meus colegas. Não enderecei a todos porque, sinceramente, ao fim de mais de trinta e cinco anos já conseguia separar o trigo do joio. E alguns nem a água que gastavam mereceiam. Mas isso foram outras estórias que hoje aqui não interessa.
Esta foi a mensagem que escrevi e que depois de a reler, mesmo depois de passados estes anos, não retiraraia uma vírgula.
"Boa tarde,
ONTEM fui um jovem que aos 23 anos abraçou o desafio de entrar nesta casa. Quase inocente e ingénuo estava, ainda assim, muito longe de imaginar como é que aquele passo, no já longínquo dia 6 de Outubro de 1982, quando entrei pela primeira vez no 148 da Rua do Comércio, viria a influenciar a sua vida.
HOJE sou um homem maduro. Daquele menino de ontem resta muito pouco ou quase nada. Entrei solteiro, mas por aqui casei, fui pai e avô. Quem diria? Nem eu, nos meus sonhos mais optimistas, calculei aqui chegar. Mas saio desta casa de cabeça erguida, consciente que trabalhei não para uma instituição, mas essencialmente tentei defender uma causa. Retiro-me por isso feliz. Muito feliz.
AMANHÃ acordarei igual ao que sempre fui até aqui: um amante da vida. Não imagino se viverei um dia, uma semana ou uma década. Mas também não é algo que me preocupe grandemente. Viverei apenas o segundo seguinte sem medos ou dúvidas. Nem poderia ser de outra forma.
FINALMENTE vou-me despedir. Sem lágrimas nem sorrisos. Sem amplexos nem osculações. Esta pandemia retirou-nos, outrossim, estes pequenos e singelos prazeres. Mas é a vida!!!
QUERO no entanto deixar aqui um agradecimento profundo e autêntico pelo contributo que deste pela forma com que saio desta casa. Não o posso nem devo esquecer!
AO fim de 37 anos, 9 meses e 25 dias, a porta onde entrei tem o mesmo sentido de hoje. O do dever cumprido.
DESEJO que o teu futuro seja tão radioso quanto tu esperas e desejas. E que no fim da tua caminhada possas também viver a alegria que hoje vivo.
OBRIGADO."
Decorrido 36 meses continuo a pensar que fiz bem em sair. Tenho os meus dias preenchidos, a vida repleta de eventos (bons e maus!), alguns sonhos realizados, mas muitos ainda por realizar.
A vida acaba sempre por nos mostrar quais os resultados das nossas decisões. Independentemente do que possa acontecer num futuro mais perto ou mais longe, ainda não arrependi de ter saído.
Talvez amanhã penso o inverso, porém ainda não cheguei lá!
Imaginam quantos anos medeiam entre a cassete e a pen? E quanto espaço cada um arrumava?
Diria que em termos de história da humanidade pouco mais de 20 anos é um micro segundo. Mas em termos de tecnologia será muuuuuuuuuuito tempo.
Na minha casa guardo estas preciosidades. A cassete que serviu (não esta obviamente) para jogar por exemplo no Sinclair no dealbar dos anos 80, a disquete de 8 polegadas já estava descontinuada quando abrecei a informática, mas a de 5 e 1/4, ainda utilizei.
À direita da disquete mais pequena está um disco SATA de um velho computador contendo 250 Gigabites de espaço de memória. Note-se que a disquete de 8 polegadas da foto arrumava cerca de 800 Kbites de informação.
Já a pen creio ter apenas 128 Gigabites, mas note-se o espaço que ocupa.
Hoje ninguém necessita disto. Anda tudo nas nuvens a pairar por aí, mesmo com este calor, que guardam tudo e mais alguma coisa sem a necessidade de levarmos algo no bolso ou no computador.
Problema? A segurança...
Actualmente há máquinas dedicadas a tentar obter todas e quaisquer senhas. Nomeadamente nos acessos a contas bancárias. Portanto cuidemos dos nossos acessos porque o que se vê na foto supra já só serve para museu!
Diria que as descobertas mais importantes nos primórdios terão sido a roda, o uso de metais e o fogo. Depois disso a evolução ter-se-á normalmente acelerado.
No século XIX houve a conhecida explosão industrial que no fundo foi o primeiro grande alicerce para aquilo que somos hoje.
Entretanto no século XX a revolução tecnológica abriu espaço para muitas valências. Dizem que o homem foi à Lua (serei dos poucos que não acredita!!!), as comunicações passaram a viajar à velocidade da luz para finalmente o último grito ser um ser humano artificial (literalmente).
O vídeo chegou-me ontem e fiquei impressionado com o que vi.
Será verdade ou apenas publicidade enganosa? Mas se for verdade como foi possível o ser humano descer tão baixo?
Poderão dizer que é apenas uma máquina com aspecto humano, mas para mim este protótipo poderá vir a ser uma espécie de Caixa de Pandora.
Seria bom que alguém cuidasse que o verdadeiro princípio do fim da humanidade poderá estar para breve.
O título deste postal deveria ser: "Como explicar a uma criança de três anos o que são livros!" Mas como compreenderão seria enorme o que nestas coisas dos títulos não convém nada!
Cá por casa há muitos livros. E não há mais porque os vou distribuindo por outra casa.
Desde sempre a minha neta que aqui passa os dias tem naturalmente convivido com a minha biblioteca. Só que recentemente dei conta que a cachopita, já de três anos, pega nos livros aos quais consegue deitar mão e faz com eles brincadeiras. Trata-os bem, cuida deles, mas creio que ainda não percebe qual a verdadeira função daqueles volumes.
Na verdade os livros a que ela chega são quase todos policiais. Se bem que nestes esteja também incluída uma colecção de 10 enormes volumes de uma colectânea que Ross Pynn juntou e dos quais mostro uma das capas e que começam a ter algum valor e são raros de encontrar, mesmo em alfarrabistas, já que não houve reedicções.
Mas regressando ao tema principal de hoje como explico a uma criança que os livros são genuinamente nossos amigos? Que nos ensinam tudo, baste querermos aprender?
Hoje com tanta tecnologia à distância de um clique de um rato electrónico, os livros tenderão, quiçá, a desaparecer materialmente. Perante isto que justificação dou a uma criança ao ver o espaço que os livros ocupam na casa?
Por exemplo o livro mais antigo que tenho remonta ao século XIX e são as "Les Fleurs du Mal" de Charles Baudelaire que comprei num alfarrabista no Quartier Latin em Paris. Decorria o ano de 1980!