Viver na aldeia obriga-nos a muitos sacrifícios se gostarmos de manter a nossa forma física. Se por um lado há sempre uma despesa adicional ao corpo, pois caminhamos muito a pé a verdade é que com demasiada frequência somos tentados. Mais uma "mine", mais uma jeropiga ou um copito de aguardente. E se não aceitarmos parece que ofendemos alguém.
A carne e peixe é parte integrante das refeições dos aldeões, mas eu de quando em vez opto por algo mais frugal, mas não menos saboroso.
Na passada quarta-feira, enquanto como cicerone rústico mostrava os sobreiros a um corticeiro, acabei por apanhar uns belíssimos frades que cresciam por entre a erva vicosa.
A noite serviu para pacientemente os arranjar e ontem cozi-os. Mas só hoje foram para a mesa como refeição principal.
Frades com arroz... é melhor que carne, disse amiúde o meu falecido sogro. E não é que tinha razão.
Ao juntar no final da refeição umas castanhas assadas no forno posso assumir que esta minha versão vegetariana é muuuuuuuuuuuuito saborosa.
Estava eu quase no final da minha campanha da azeitona deste ano na aldeia que se espraia no sopé da serra da Gardunha, quando fui brindado com um saco enorme de frades. Frades é uma espécie de cogumelos selvagens que só os conhecedores sabem colher. Conforme as zonas há quem lhes chame também tortulhos, santieiros ou choteiros.
Após a sua cozedura os frades dão um pitéu fantástico. E este ano tive o privilégio de os arranjar e cozinhar. Depois de bem limpos e cortados em pedaçoas mais pequenos, levam-se a um tacho acompanhados de azeite, cebola e alho.
Os frades parecem encher o tacho, mas passado pouco tempo de estarem ao lume perdem a água e o tamanho. Convém, no entanto, deixá-los cozer bem. Depois é verter um pouco mais de água e quando esta estiver a ferver deitar o arroz. Tempere-se com sal a gosto.
Ficam com este aspecto
Este petisco pode comer-se só assim ou a acompanhar carne ou peixe. Digo eu que, sinceramente, prefiro sem mais nada.
O que não deve faltar, obviamente, é uma boa pinga. Encontrei na minha garrafeira este vinho. Não sei de onde veio nem como surgiu, mas acreditem é um nectar de grande qualidade.