Em termos meramente teóricos os filhos serão a obra perfeita do amor dos pais. Amor puro e incondicional, muitas vezes de uma só via e quase sem retorno.
Não há filhos perfeitos. Da mesma maneira que não há pais perfeitos. Mas é nesta imperfeição permanente que todos têm de viver e conviver! Se souberem e quiserem, claro!
Hoje, por mera concidência, dei conta de duas famílias com filhos, todavia com relações assaz diferentes com os mesmos. A primeiroa é de um velho amigo que tendo dois rapazes mais ou menos da idade dos meus nunca conseguiu educá-los de forma segura e competente no sentido de lhes municiar com lastro para lidar com a vida. A outra assenta num casal que há um quarto de século decidiu adoptar uma criança pequena. Foi um processo moroso, mas conseguiram assumir a seu cargo a responsabilidade de criarem um rapaz.
Se no segundo caso o jovem ainda anda em busca do seu caminho, no primeiro as coisas estão completamente desconfiguradas. Ociosos e sem rumo vivem quase das esmolas dos pais. Mas preferem isso a ter de trabalhar. A verdade é que nenhum deles foi ao esmeril da educação e nunca sentiram o peso de uma verdadeira responsabilidade.
Com estes exemplos fico com a certeza de que há muitos pais que nunca tiveram competência nem discernimento para imporem regras básicas, enquanto outros que aceitaram de livre vontade uma responsabilidade mostraram muito mais sabedoria e acima de tudo valeram-se de uma boa pedagogia.
Ser mãe ou pai não é ser somente procriador, mas formador e educador que curiosamente ou talvez não, até rima com amor!
Estava eu na praia a ler um livro quando uma certa passagem da leitura acordou-me para esta questão: até quando deveremos educar os nossos filhos? Sendo eu já velho ainda deverei tentar educar trintões, ainda por cima já com descendentes?
Normalmente quando coloco aqui algumas perguntas trago comigo... algumas respostas. Se bem que sejam apenas as minhas ideias e nunca verdades absolutas, como muita gente assim considera, desta vez não tenho nenhuma resposta pronta para qualquer das dúvidas formuladas.
Educar, formar, ensinar poderá ser )ou deveria sê-lo!!!) um acto permanente na nossa vida, mas para isso temos de estar cientes e disponíveis para aceitar o que nos é depositado na mão.
Felizmente ainda tenho pai. Tem 90 anos e ainda sendo autónomo, há já coisas que não se desembaraça. Assim sou eu que remota ou presencialmente vou tentando resolver algumas situações pontuais. Mas será que ele, com a idade que tem, ainda me educa, me ensina, me aconselha?
A resposta é fácil: sim! Ainda encontro no meu pai o farol que tantas vezes me tentou alumiar nos caminhos da vida. É na família... o exemplo!
Termino com a ideia de que educar será sempre a melhor e a maior herança que deixamos aos nossos filhos, mesmo que a determinada altura eles julguem que nada vale.
Um dia, possivelmente, compreenderão o que acabei de escrever!
Acordei e levantei-me cedo, aliás como sempre faço!
Tinha uma série de coisas para resolver e para fazer. Ora, tendo em conta que a neta chegaria excepcionalmente mais tarde, era o momento óptimo para dar despacho...
Às nove fui aos CTT, para um quarto de hora depois estar ao balcão do Banco e finalmente às 9 e meia entrei num supermercado para comprar somente iogurtes para a cachopa pequena.
Caminhava eu no sentido do Supermercado quando chego ao sinal de peões e este vermelho. Paro e espero que passe a verde, mesmo que não haja trânsito... Chega então a meu lado uma idosa airosa e apressada, já que não esperou pela esperança do sinal e toca a passar. Só que veio um carro e quase que a atropelava. O interessante é que a senhora ainda refilou com o condutor. Gravo a cena e fico a pensar: porquê a pressa, ainda por cima nesta idade? Pior... quando entrei na loja encontrei-a a mirar uma coisa qualquer. A pressa havia, portanto, desaparecido.
Já da parte da tarde quando me encaminhava para o hospital onde está um familiar próximo internado, é a minha vez, como condutor, apanhar uma jovem a atravessar fora da passadeira que estava a dois metros... Também com sinal vermelho. Passou imaculada!
Reconheço mais uma vez que eu como condutor detesto passadeiras, não pela sua utilidade, mas pela forma como é (mal) usada. Mas sou eu, pronto!
Todavia quando ando a pé respeito sinais e tráfego. Passo apenas quando ambos os sentidos me dão passagem e nunca me atiro para o alcatrão de branco listado!
Já não tenho idade e muito menos paciência para ensinar a população a andar, seja na rua ou na estrada. No entanto vou tentando ensinar através destes escritos e, acima de tudo, pelo exemplo. A começar pela neta a quem já vou ensinando estas coisas...
Não sou sociólogo, antropologista ou coisa semelhante. Nada disso. Mas sou pai e esta “profissão” deu-me algum lastro para escrever o que virá a seguir.
Quando olho para a classe dos professores vejo um grupo de gente com uma enormíssima responsabilidade na sociedade e a quem não é dado o justo valor. Nem pelo Estado nem pelos pais ou educadores. Já que são os professores os primeiros a perceberem como serão os jovens que têm na sua frente. Indevidamente educados em casa caem nas salas de aulas envoltos em razão sem que nada tenham feito para o efeito. E ao menor deslize do professor logo cai uma queixa na direcção da escola que dificilmente consegue dirimir o conflito.
Quando andei na escola tive um professor de matemática que foi um exemplo. De educação, formação, mas também de exigência. Não dava um sorriso, mas mostrava-se sempre disponível para esclarecer as dúvidas. Tratava todos os alunos por… senhor a que se seguia o nome, como se fossemos homens já grandes (na altura não havia turmas mistas!!!).
Porém tinha uma memória auditiva fantástica e detestava ouvir alguém a conversar. E se escutava o sussurrar dizia, sem sequer se virar para o aluno:
- Senhor fulano de tal saia!
A vítima nem esboçava contrariar o professor. Pegava nas coisas e abandonava a classe.
Hoje este caso seria quase impossível para não dizer utópico… Porque os jovens tiveram uma vida onde as suas vontades foram sempre satisfeitas. Que professor teria a coragem de chamar um aluno de senhor Fábio ou, sei lá, menina Vanessa? E depois poder ordenar:
- Senhor Ruben saia… pois estava a perturbar a aula.
Ui… haveria de ser bonito… Provavelmente o CM, CNN, SIC e demais televisões fariam “diretos” (definitivamente detesto o AO!!!) da escola tentando perceber porque um professor expulsara injustamente um aluno da aula.
Tenho consciência que a vida não está fácil e que o casal tem que trabalhar para poder dar o mínimo aos filhos. Mas a verdadeira educação, formação e respeito pelos outros deve advir de casa e logo de pequenos (li algures que esta pandemia mostrou a muitos pais os verdadeiros filhos, que aqueles não conheciam!!!).
Dizer não a uma criança ou jovem parece estar agora fora da lógica educacional, mas atentem nisto: quando os miúdos tentarem entrar no mercado de trabalho irão certamente receber muitas negas aos seus desejos. E aí não haverá ninguém que aceite as queixas.
Resumindo: cabe a cada educador impor regras, ditar as leis e não há que ter qualquer receio (os exemplos têm sempre de vir de cima) para que não se criem figurinhas tristes, birrentas e frustradas, que passarão o futuro deitados num sofá de um qualquer psiquiatra ou psicólogo de vão-de-escada!
Aprendi com a experiência de vida que há duas situações em que as pessoas tendem a alterar radicalmente a sua personalidade e os seus comportamentos em sociedade.
Estas bizarras posturas estão presentes nos campos de futebol e dentro dos automóveis que conduzem. Isto é, há quem entre no estádio de forma calma e serena, para assim que começa o jogo se transformar de tal maneira que deixa de ser aquela pessoa sensata e afável para se tornar durante hora e meia num bicho enraivecido.
Da mesma maneira é frequente depararmo-nos na estrada com condutores sem o mínimo sentido de serenidade e calma, assim que se apanham com um volante nas mãos. Gesticulam, berram, proferem todo o tipo de impropérios sem cuidar que do outro lado há também condutores que carregam vidas, tornando-se, com as suas atitudes, num verdadeiro perigo.
Em ambos os casos, mas essencialmente no segundo convém ensinar desde a escola, que os veículos são verdadeiras armas e que devem por isso ser utilizados com todo o cuidado.
Termino com um velho ditado popular que diz: "Queres ver um vilão mete-lhe um pau na mão!". Hoje o ditado deveria ser: " Queres ver alguém nervoso, dá-lhe um carro novo!"
Mas se são porque utilizam os pais, avós, tios, primos e restante família personagens para atemorizar os petizes no sentido de eles se “comportarem”?
Nestas férias quando estava a sair da praia ultrapassei um casal que trazia consigo uma criança de tenra idade. Calculei que fossem os avós.
A criança era “naturalmente” irrequieta (e coloco aspas no advérbio de propósito, sem qualquer conotação pejorativa, bem pelo contrário). A determinada altura oiço a avó dizer:
- Olha que vou chamar o senhor polícia…
Tudo porque o petiz não sossegava e como se o hipotético agente de autoridade fosse o maior dos fantasmas.
Esta situação não é única mas há quem ainda utilize outras figuras como o “papão” (imagino que seja um pai grande), o bicho (ainda estou para saber qual será) ou outra qualquer entidade estranha no sentido de colocar a criança no seu lugar.
Nunca usei esta técnica (quase) ancestral para atemorizar os meus filhos. Tentei sempre explicar de forma assertiva como se comportarem, fosse na rua ou em casa! E eles perceberam e sempre se portaram muito bem.
Esta será outrossim a técnica que usarei com a minha neta. Explicar o porquê e não utilizar monstros, fantasmas e afins para a fazer perceber como deve estar na sociedade.
As crianças serão o melhor do Mundo, é certo! Portanto cuidemos delas com o cuidado devido (passe o pleonasmo) de forma a termos no futuro cidadãos conscientes, educados e acima de tudo bem formados.
A partir de amanhã à tarde e durante mais dois dias vou estar em formação.
De certa forma durante este tempo estou longe de muitas chatices recaindo sobre outrém essa responsabilidade. Todavia disto retiro duas conclusões, para as quais já estava naturalmente convencido: a primeira é que sou perfeitamente dispensável (como qualquer um de nós!), a segunda prende-se com o curso em si, porque muito provavelmente darei pouco uso aos conhecimentos adquiridos.
A empresa onde trabalho gosta de dar estas formações. E eu gosto muito de as receber.
Acima de tudo porque o conhecimento não ocupa lugar!
Estes três últimos dias foram passados em formação em "Comunicação". Um assunto que me é querido já que gosto tanto de comunicar, seja de forma escrita, quer oral.
Porém este tema abordou muito mais do que se poderia pensar acerca de comunicação, mesmo que esta seja somente institucional. Percebi nestes dias como sou, no que respeita às relações com os outros mas acima de tudo foi-me proposto um caminho diferente para o meu futuro.
Dito assim, desta forma, parece algo fácil... Todavia os jogos interiores que temos de desembrulhar criam-me algumas incertezas. Ora nada pior que um homem como eu, a poucos anos da terceira idade, ver-se, a certa altura, confrontado com dilemas, dúvidas e as tais incertezas. Receios de juventude dirão alguns!
Mas acreditem que não, a forma como fui confrontado com alguns "dogmas" que sempre aceitei como verdadeiros fez (ou fará?) com que eu, daqui para a frente, tente alterar a minha postura.
Não sei se alguma vez conseguirei... Vontade não me falta. A coragem é que é mais complicada!
No tempo da minha já longínqua juventude era costume ouvir os mais velhos dizerem:
“Esta juventude está perdida… No meu tempo nada disto acontecia… O que vai ser desta gente?...”
Correram os anos por cima desses mais velhos que se tornaram em idosos e também pelos mais jovens que passaram a ser velhos. Eu, por exemplo!
Mas ao contrário do que se referia naquele tempo à juventude da época, não digo as mesmas coisas que ouvia outrora, mas reconheço com alguma ironia do destino e quiçá mágoa, que nem sempre estou de concordo com a juventude de hoje.
I - Formação e Educação
Senão vejamos: a empresa onde trabalho tem centenas de empregados. De todas as idades (ou quase!!!), culturas, raças ou credos, assim como de diferentes níveis de formação escolar. Desde a antiga quarta classe ao doutoramento, todos trabalham debaixo do mesmo tecto, se cruzam nos mesmos corredores, almoçam no mesmo refeitório. Todavia comecei há uns tempos a notar que alguns dos meus colegas, essencialmente os mais novos, quase nem falam. Entram e saem dos elevadores sem dar uma saudação sequer, cruzam-se com qualquer outro colaborador e nem “água vai”. Por diversas vezes cumprimento-os e quando não oiço resposta, elevo o meu tom de voz de forma a que percebam que os estou a cumprimentar e que a educação é outrossim um valor e não uma mera retórica.
São estes jovens rapazes e raparigas que ao entrarem no mercado de trabalho carregados de energia e estaleca, crêem que podem mudar o (seu) mundo. E para isso ser possível trucidam tudo à sua frente e não olham a meios para alcançar os fins. São os filhos duma geração que se auto-intitulou moderna e evoluída mas que deixou de transmitir valores básicos e claramente uma educação.
E o pior é que mesmo com toda a força na guelra, aqueles jovens acabam não por ser parte da solução para um país mas sim parte de um problema. É este tipo de gente licenciada, mestres e (quase) doutores com os quais lidamos diariamente. São naturalmente incapazes de olhar para a beleza de um dia repleto de sol e vão acinzentando as suas vidas com teorias e mais teorias e sem nenhuma prática real da vida.
II - Cidadania
A estrada é para muitos condutores portugueses um palco imenso. Há quem descarregue no asfalto tantas e tantas angústias e traumas, colocando bastas vezes os outros em perigo. Não respeitam sinais verticais nem sinalização horizontal (vulgo traços contínuos), desrespeitam os outros condutores como só eles tivessem direitos. Raramente se agradece um gesto de simpatia como se a tudo, alguns fossem obrigados. As intermináveis filas de trânsito são assim o local perfeito para se aquilatar do nível de cidadania de cada condutor… E há cada um…
É por estas e por muitas outras semelhantes que não conseguimos evoluir, que mantemos um nível educacional e de civismo muito baixo do nível europeu.
III – Outras considerações
Muitos dirão ao lerem este já longo texto, que nem toda a juventude é assim tão desprendida de valores, nem que todos os condutores são outrossim incivilizados. É certo o que pensam… e ainda bem! Contudo meus caros leitores parem um dia e observem com serenidade quem vos rodeia. Talvez percebam então aquilo que acabo de escrever.
Cabe a cada um de nós fazer com que não sejamos mais um desses… Eu já eduquei os meus filhos no sentido da educação, formação interior e da cidadania. Espero apenas que eles não me desiludam.