Todos os anos quando o Estio surge com estas temperaturas tropicais começo a temer pelas nossas florestas.
Os fogos continuam a ser em Portugal uma enormíssima calamidade que ninguém quer ou sabe controlar. Por muito que se tente, se lute, se sensibilize, certo é que o calor nunca nos traz boas notícias, quanto a incêndios.
Ontem foi às portas de Lisboa. Hoje poderá ser em qualquer lado deste país que vive literalmente sobre brasas. Amanhã à nossa porta.
Sejamos conscientes quanto aos perigos dos incêndios. Deste modo ajudemos a Natureza a manter a sua beleza e força, tendo diversos cuidados.
Não será necessário enumerá-los, pois todos nós temos mais ou menos ideia do que se pode ou não fazer por esta altura.
A luta contra os fogos começa também connosco! Façamos a nossa parte.
Os incêndios que deflagraram em Portugal nos últimos anos com consequências desastrosas e devastadoras por todos sobejamente conhecidas obrigou o Estado, conjuntamente com as autarquias e entidades especializadas, a impor regras na limpeza de matas, especialmente ao redor das povoações ou de casas isoladas.
Algumas dessas regras incluem datas limites de queiumas e queimadas sujeitas, na maioria dos casos, às condições atmosféricas.
As autoridades competentes foram assim mandatadas não só para gerirem as autorizações, mas outrossim para autuarem quem não proceder em conformidade. Mas é aqui que ninguém se entende ou pelo menos há interpretações divergentes no que concerne a qual autoridade se deve pedir autorização para queimas e queimadas.
Dou um exemplo concreto: há umas semanas solicitei a uma equipa de Sapadores Florestais que me limpassem um terreno que havia comprado e que posteriormente queimassem os sobrantes. A determinada altura telefona-me o Sapador responsável dizendo que necessita de uma autorização do ICNF para a queima.
Rapidamente acedo ao sítio, registo-me e peço autorização devida. Meia hora depois recebo luz verde para a queima que endereço ao individuo.
Começam então aqui as minhas dúvidas: um sapador florestal devidamente credenciado equipado com veículo de apoio com água necessita também de autorização para queima? Sinceramente não entendo!
Bom… este fim de semana gordo fui até à Beira Baixa conferir o trabalho feito pelos tais Sapadores e eventualmente deitar fogo aos inertes que eles não conseguiram queimar por a lenha estar demasiado verde….
Novamente através do sítio do ICNF solicitei autorização e mais uma vez esta me foi atribuída. Sem temor e com o tempo favorável para actividade deitei fogo aos sobrantes e daqui não ocorreu qualquer acidente.
Todavia no café da aldeia cada um dava o seu palpite sobre a quem comunicar o intuito de fazer uma queima: GNR, Bombeiros, Direcção de Florestas, Protecção Civil, 117, Junta de Freguesia. Admirou-me ninguém falar no PR.
Cento e cinquenta quilómetros mais para leste a fórmula é bem diferente: basta ligar aos Bombeiros, dizer onde se quer fazer a queima e esperar pela resposta, que é dada logo de seguida. Nada de ICNF ou qualquer outra entidade.
É por estas e muuuuuuuuuuuuuuuuuuuuitas outras que o país anda completamente à deriva e ninguém dá indicações específicas, simples, concretas, de forma a facilitar o trabalho a quem quer manter os terrenos limpos.
Depois há ainda quem se admire com Verões demasiado “quentes”.
Muitas dos cidadãos que vivem nas grandes cidades e já sem qualquer ligação ao interior, olham para estes fogos com muita pena, para logo a seguir esquecerem o que acabaram de ver e se preocuparem com o novo reforço do Alguidares de Baixo. Ou então como será que a Xica vai contar ao pai que é um homem na nova telenovela "Bruto com'as portas"?
Estes parecem ser os verdadeiros problemas dos citadinos. Tudo o resto são desgraças e como tal "não posso ver porque sou muito sensível..."
Só que para além destes há quem sinta, como se fosse na sua pele, estas catástrofes que vão incendiando o nosso quotidiano.
Todas as manhãs, assim que me levanto, vou tentar saber como está a situação dos incêndios. Infelizmente as notícias não são na sua maioria muito boas.
Esta minha preocupação prende-se obviamente com a minha íntima relação com o campo. Se bem que tenha nascido em Lisboa desde sempre me relacionei com a aldeia de uma forma muito directa. Por exemplo ali comecei a trabalhar à jorna, no Verão, de sol a sol e a ganhar cem escudos por dia.
Esta minha ligação ao mundo rural fez de mim um homem diferente e conhecedor da dureza do campo. Fui assim talhado nesse espírito que moldou tanto lavrador luso.
Talvez por isso olhe para o que tenho, que é muito pouco, e sinta uma certa alegria de penetrar naquilo que é meu. Deste modo desde o final do ano passado investi muito dinheiro e tempo no amanho das terras, até agora improdutivas. De tal forma que me empenhei financeiramente para o fazer.
Durante fins-de-semana quase seguidos corri para a aldeia de forma a poder limpar o que havia sido cortado, antes que viesse o Estio. Fiz algumas coisas, mas não todas. O tempo escasseou!
Todo este discurso para dizer o quê? Simplesmente para afirmar com profunda tristeza, que me dói o coração ao ver tanta e tanta gente ficar sem os seus pertences, por causa do fogo. Vidas destruídas em minutos que levaram dezenas de anos a erguer...
Todos os dias leio as declarações dos políticos, sejam eles de esquerda ou de direita, e oiço muita gente a afirmar que é necessário reformar a floresta.
Eu avanço com outra ideia: reformem estes políticos. Envie-mo-los para as frentes de incêndio para saberem o que é combater um fogo. Punham-mo-los com uma enxada na mão a cavar o chão para que o fogo não alastre. E acima de tudo responsabilize-mo-los politica e civilmente por não fazerem com competência o trabalho para que foram democraticamente eleitos.
Até esse dia, que acredito que aconteça, vamos assistindo à amargura dos que ficam sem nada.