Na minha vida há eventos estranhos ou, no mínimo, curiosos. Entre muitos, que não irei agora referir, recordo um, assaz importante e que ocorreu em 1987. No Sábado de Aleluia desse ano fui a um casamento com a minha mulher que apresentava já uma volumosa barriga de fim de gravidez.
Já em casa noite dentro acorda-me dizendo que rebentaram as águas e aí vamos nós, numa fona, a caminho do Hospital da Cruz Vermelha. No dia seguinte foi Domingo de Páscoa e nessa mesma madrugada nasceu o meu primogénito.
Dêmos um salto na tábua do tempo de quase trinta e sete anos, para aterrar nesta Sexta-feira Santa da Páscoa. Ainda esta semana a minha nora fora à médica que a acompanha na sua gravidez, concluindo que o parto ainda estaria longe...
Pois é... há coisas na minha vida quase inexplicáveis já que pela manhã surgiu o meu filho apressado comunicando que a mulher entrara em trabalho de parto.
De tudo isto resultou que hoje, dia 29 de Março do Ano da Graça de 2024, fui avô pela terceira vez. Agora de um rapaz.
Portanto e com tanta coisa estranha ao nosso redor sinto-me grato em poder dizer: o dom da vida é um bem precioso que infelizmente nem todos valorizam.
Agora temos de o ajudar e aos pais a crescer e a educar!
Tenho uma idade que supostamente me deveria dar uma liberdade pessoal que... não tenho. Quando não é a neta ou até os filhos, surgem os pais!
Sou filho único de um pai nonagenário e uma mão octagenária. Portanto idosos.
Desde há uns tempos que o meu pai vem decaindo em termos de saúde. Principiou em 2019 com uma cirurgia ao coração para mais recentemente surgir uma anemia que se veio a descobrir ter origem em falhas renais!
Limitação na alimentação, especialmente ausência total de sal e em outras opções a evitar. Porém os rins continuam a ameaçar falhar. De tal forma que hoje tive de fazer 310 quilómetros para o ir buscar a casa, levá-lo ao hospital, ser visto e alertado para os diversos problemas que poderá via a ter e finalmente as opções que tinha entre mãos.
Não obstante a idade o meu pai ainda tem a cabeça no lugar. E sabe decidir sem necessidade de qualquer ajuda externa. Este dia foi totalmente dedicado a ele, à sua doença e tratamento.
Escolheu vir a fazer hemodiálise numa unidade hospitalar. Agora irá aguardar que o chamem para consultas preparatórias.
Tudo isto para dizer que tenho hoje mais uma responsabilidade acrescida: fazer com que o meu pai e obviamente a minha mãe vivam os dias que lhes restam com a melhor qualidade de vida possível.
Pediram-me para usar este meu espaço com o simples intuito de publicar um belo naco de prosa. Obviamente vindo de quem veio as portas estavam totalmente escancaradas... Fica portanto aqui o registo, porque a vida também tem destas coisas... fantásticas!
"Ah, olá.
Na verdade não sou o habitual José da Xã, mas alguém a quem ele permitiu escrever um texto neste dia específico no seu blogue. Por um lado porque assim é menos um dia com o qual ele tem de se preocupar com o que escrever, e por outro porque sou filho dele.
No geral dou-me pelo nome de Rei Bacalhau, tanto que até mantinha um blogue meu onde partilhava umas palavras, especialmente quando necessitava. Há uns anos que o abandonei, mas felizmente já não tenho precisado dele.
Vou casar-me amanhã.
Os dois factos anteriores não estão descorrelacionados... Sabem, parte da minha vida de jovem adulto foi gasta em tentar preencher aquele vazio biológico ou social que acaba por nos afectar quase a todos: a necessidade de uma companhia amorosa, nem que seja para aquecer os pés à noite, como ouvi uma vez uma grande sábia da província dizer.
Este foi um problema deveras complicado para mim, pelo facto simples de eu estar habituado a que tudo tem uma solução directa, lógica, sistemática, quase científica. Com o amor não é bem assim, e hoje orgulho-me dos cabelos brancos que ganhei a aprender uma data de lições demasiadamente tardias.
Rejeitava veementemente o conceito que tanto ouvia e tanto lia de que "tens de ser tu próprio" quando se tenta arranjar alguém. Hoje sei que o tal conceito é apenas parcialmente falso, mas por razões diferentes das que possam estar a pensar. Eu diria mais que a afirmação é incompleta... É importante sermos nós próprios, sem dúvida, mas tem de ser a versão de nós próprios com a qual toleraríamos viver e não aquela que assume que os nossos defeitos são características imutáveis e seria, consequentemente, fútil melhorar.
Há uns anos decidi que estava farto de ser a versão de mim próprio que eu achava que devia ser, ou seja, aquela que se lamuriava por as coisas boas só acontecerem a outros. Decidi entrar no modo ao qual apelidei de "estou-me nas tintas". Estava farto de inibir algum comportamento mais estranho próprio da minha personalidade ligeiramente extravagante (não somos todos?). Estava-me nas tintas. Mudei de página. Mudei de emprego. Mudei de ares.
E então conheci-a. A pessoa indicada para mim. Rio-me agora de tantas outras em que estive interessado e de tantas maneiras como nunca poderia dar certo com elas. Mas por outro lado, como poderia saber? É preciso falhar para se perceber o que se quer e como atingi-lo, o que pode ser difícil para quem, como eu, tem (ou tinha) tendência para ficar confortável na ignorância ao invés de magoado na aprendizagem.
Não estou exactamente a escrever todo este texto por mim, mas mais por todos aqueles que talvez se sintam na mesma situação. É outra razão pela qual quis roubar um espaço num blogue mais visível. É preciso que os solitários deste mundo saibam que não o estão. Ou se estão, e esta pode ser difícil de engolir, não é culpa do mundo. Não estou a dizer que ao começarem a fazer as coisas de maneira diferente arranjarão logo alguém. Sou o primeiro a admitir que eu, por exemplo, tive sorte e falo de barriga cheia. Onde quero realmente chegar é que atingindo o tal mal afamado estado de "nós próprios" estaremos de consciência tranquila e confortáveis connosco, sem um objectivo secundário concreto. Se depois disso, acontecer, óptimo. Se não, não deveria ser crítico. Seremos finalmente nós próprios, ou pelo menos a melhor versão que toleraríamos viver com. E isso já é uma vitória.
Depois desse patamar atingido, então sim, mudar de ares, estar-se nas tintas, ser activo, ou não, depende, não há uma fórmula. Há apenas uma base de partida. Depois disso falha-se, chora-se (só um bocadinho), encolhe-se os ombros, ri-se, e prossegue-se.
Eu deixei de escrever quando fiz a minha transformação. A mágoa era maioritariamente o catalista para escrever, e tendo-me deixado de preocupar com tanta coisa, perdi a inspiração para rabiscar fosse o que fosse. Não me importei demasiado, pois de certa maneira já na altura sabia que era um sintoma de melhoras na minha saúde mental. Um pequeno sacrifício.
Mas acessos de inspiração ainda ocorrem de vez em quando, e senti que deveria aproveitar a oportunidade. Caraças, até os dedos me doem a escrever isto tudo de rajada.
Amanhã vou casar-me com a mulher que amo. Para além disso, sei que em breve serei um autêntico homem de família. Serei a minha definição de homem.
E nos ziguezagues da vida, serei totalmente feliz."
Gosto de comemorar este dia do Pai. Porque sou pai e desde há dois anos... avô o que duplica a responsabilidade... e o carinho!
Ter sido pai foi um dos acontecimentos mais importantes da minha vida. Reconheço que foi uma responsabilidade acrescida, mas nunca me arrependi.
Do outro lado do campo sou filho e como tal carrego o pesado fardo de talvez nunca ter conseguido ser o que o meu pai projectou para o meu futuro. Todavia ele talvez nunca percebeu que para eu ser feliz precisava de pouca coisa!
O meu pai é um bom homem no cimo dos seus 89 anos e trabalhou muito para sustentar a família. Os anos pesam agora... Nota-se especialmente nalguma falta de memória mas acima de tudo na teimosia.
Faz hoje precisamente 30 anos que era Domingo. Mas não um Domingo qualquer... Era Domingo de Páscoa.
Nesse dia em que se celebra a Ressurreição de Cristo da Cruz, eu próprio renasci para a vida. Uma benção!
Faz hoje precisamente 30 anos que fui pai pela primeira vez. Mesmo tendo já decorridos todos estes anos, creio sentir ainda a mesma emoção daquela altura, quando evoco esta data.
Trinta anos... uma geração. Trinta anos... quase metade da minha idade. Trinta anos... o tempo passa depressa demais.
Não imagino onde ambos estaremos daqui a outros tantos anos, mas aconteça o que tiver de acontecer estaremos com o pensamento no outro. Disso tenho a certeza.
Comemorar a vida é normal, comum. Todavia comemorar este amor por um filho, incondicional e comprometido, é uma alegria imensa.
Faltam-me já as palavras... sobram-me as lágrimas...
Portanto... Parabéns meu filho.
Que Deus ilumine sempre o teu caminho como o fez até agora.
Ontem foi um dia bom. Não costumo ter muitos dias assim mas esta terça-feira ficou na memória.
É normal que se comemore o dom da vida que vamos recebendo. Porém neste caso foi mais o dom da vida para a qual contribui. O meu filho mais velho festejou ontem mais um aniversário.
E pela primeira vez, desde que passou para o clube dos casados, conseguiu juntar a família na sua casa e oferecer um jantar para onze pessoas. Entre bons acepipes, teve até o cuidado de escolher o vinho que mais gosto. Um gesto que naturalmente não esquecerei!
O repasto correu bem. A comida foi farta e a conversa, alegre e bem disposta versou diversificados temas. Os doces a condizer e por fim o bolo de aniversário feito por uma das avós! E um digestivo supimpa!
Uma singela festa em família que vai ficar na memória de todos. Pelo menos na minha ficará, com toda a certeza!
Há nas nossas vidas gestos que nos marcam indelevelmente!
Um beijo, uma carícia, um afago ou somente um sorriso são tão ou mais importantes que uma bolsa repleta de dinheiro.
Por isso valorizo um abraço como parte de um conjunto de afectos que deveriam ser permanentes no nosso dia a dia. Não me esqueço, para exemplificar, a iniciativa que um muçulmano pretendeu fazer em pleno centro de Paris, oferecendo-se para dar e receber uma abraço, num gesto que marcou pela positiva as notícias após os trágicos atentados na cidade Luz.
Mantendo ainda a ideia no abraço, tenho a confessar que é neste gesto que encontro a maior demonstração de sinceridade entre os homens. E dentro destes se um for o pai e o outro um filho... maior é o valor desse aproximar.
Temos todos a percepção de que a sociedade está deveras alterada, dando assim mais valor ao ter do que ao ser (já falei disto algures!!!), mas quando um pai abraça um filho, há nesse aconchego uma espécie de passagem de testemunho e nada mais conta.
E eu, que sou pai e felizmente ainda tenho pai, sei muito bem qual a diferença de ambos os lados.