Ontem comentei este postal da Maria prometendo falar de um doce que uma tia minha faz com os figos.
É verdade que na aldeia dela as figueiras são imensas e boas. Falo da zona de Torres Novas cidade ribatejana amplamente conhecida pela abundância deste fruto.
Assim de vez em quando sou brindado com um frasco cheiinho destes saborosos frutos
mergulhados numa calda que é simplesmente.. supercalifragilisticexpialidoce como muito bem cantou Julie Andrews no seu conhecido filme "Mary Poppins" de 1964.
Abri hoje um desses frascos e retirei apenas dois figos.
Comer este doce é obviamente um momento único e que requer ser saboreado muito mas muito devagar. Quase com requinte de malvadez...
Não tenho a receita deste doce, mas o mais importante será sem qualquer margem para dúvida o próprio figo. Este é, certamente, o culpado desta mistura ser tão boa, tão doce e tão... pecadora!
Lá para a aldeia onde fui criado há nos pedaços de terra rija e barrenta algumas figueiras. E há de toda a espécie: do Algarve, Pingo Mel, Corigos, do Norte.
Por esta altura é ver a malta a correr para debaixo das figueiras em busca dos melhores frutos. Alguns serão para comer logo, assim fresquinhos acabados de apanhar, mas a maioria serão para secar ao Sol.
Lembro-me quando miúdo e ainda antes da escola iniciar, andar com a minha avó em busca dos tão gostosos e característicos frutos.
Mas as figueiras não são oliveiras. Nestas pode-se subir sem perigo para cimo de um ramo que ele fica ali firme e hirto a aguenta com o nosso peso. No entanto as figueiras são falsas como Judas. Nem todos os ramos se fixam e ao menor peso, por mais grossos que sejam, vergam-se facilmente.
Ora naquele tempo de apanha com a avó Pureza, este que ora se assina subiu ágil à arvore em busca de mais frutos e mais depressa eu subisse mais depressa caía.
Numa terra onde as pedras são muitas e enormes, tive a sorte de cair no único pedaço de terra por debaixo dos ramos verdes da figueira. Bastaria poucos centímetros ao lado e provavelmente hoje não estaria aqui a escrever.
Por tudo isto é que uns figos secos ao calor de Setembro têm outro sabor.