O Anti-herói
Desde que me conheço jamais apreciei heróis. E quando falo de heróis, não me refiro aos “Chuck Norris” dos nossos imaginários, mas personagens verdadeiras, na maioria dos casos construídos ou fabricados pelas televisões, rádios, jornais ou mais recentemente a internet.
O herói é geralmente aquela figura que tem um condão muito especial para resolver problemas, quando já ninguém supõe e acredita numa boa solução.
Todos nós, quase sem excepção, fomos construindo e alimentando esses tais heróis. Muitos deles acabaram por viver e conviver muito mal com esse dito heroísmo e acabaram por definhar em vidas vazias.
Ora Salvador Sobral é essencialmente o… anti-herói. Quem o escuta, partilha, divulga, comenta está a tentar criar mais uma figura para idolatrar sem contudo perceber se é isso que o próprio pretende.
Desde há uns dias e até ao próximo Sábado à noite e quiçá até muito mais tarde, o jovem músico será tema de conversa, notícia e critica.
Ultimamente as redes sociais, a blogosfera e a Comunicação Social, têm trucidado, ou melhor, têm gasto o nome do rapaz (eu obviamente incluído).
Mas quando escuto o seu discurso – e já o ouvi em muitos lados – noto nele uma coerência invulgar no seu único e actual propósito: representar condignamente Portugal no Festival da Eurovisão.
As páginas que já se escreveram sobre tudo e mais um par de botas acerca de Salvador, faz-me crer que Portugal necessita deste herói como de pão para a boca. O ano passado foi a vitória lusa no Euro2016, este ano “as fichas” estão apostadas, sem reservas, neste rapaz.
No entanto o sucesso, todos nós mais ou menos o sabemos, é algo efémero. Talvez por isso Salvador Sobral não abandona o seu registo, postura, comportamentos e muito menos filosofia de vida.
De forma paradoxal concluirei que o representante de Portugal no Eurofestival, ao tentar não tornar-se um herói, acabou por o ser, tendo em conta a sua forma de estar.
Creio ser tempo de libertarmos este jovem de nós mesmos, de forma a sofrermos menos com o seu anti-heroísmo.
Nós e ele!