Comecei a visitar as ilhas açorianas em 2004. Desde esse ano já lá fui pelo menos cinco vezes.
Com a viagem deste ano acabei por conhecer as 9 ilhas. Todas elas bonitas, fantásticas, todas diferentes.
Contudo sinto que não ficarei por aqui. Tenho a ideia de que para o ano lá terei de regressar. Mas para a próxima gostaria de fazer uma visita às baleias. Ideia antiga minha!
No entanto hoje venho aqui escolher um ex-libris para cada ilha. Ou melhor dizendo aquilo que não se deve perder em cada pedaço daquelas terras rodeadas por mar.
A cidade da Horta acordou sob uma chuva miudinha na quinta feira. Dia importante para os católicos mas apenas mais um feriado para os outros. Após um pequeno almoço onde o queijo da Ilha de S. Jorge foi a estrela e um bom café, peguei no carro e fomos até ao Monte da Guia.
As "Caldeirinhas" apreciadas do cimo do Monte têm outra beleza.
O vento soprava com força e a chuva molhava com alguma intensidade. A vista da cidade do lado contrário à Espalamaca, especialmente para o Porto Pim denuncia uma vista única, não obstante o cinzentismo da manhã.
A descida para o porto fez-se devagar tendo em conta a queda de terras que cortaram o caminho. Procurei o Aquário e o Museu da Baleia. Mas quer um quer outro encontravam-se encerrados por via do feriado...
Virei à esquerda e percorri diversos quilómetros à beira-mar. O negro das rochas destacavam-se como gumes no mar revolto. Apanhei finalmente a estrada que me levaria ao aeroporto. Pelo caminho apanhei diversos Impérios ao Divino Espírito Santo, devoção muito enraizada neste povo insular.
Até que a seta indicava o local...
Vira-o ao longe lá do Monte da Guia, mas não calculava ver algo tão especial. Um istmo que entra pelo mar dentro. Uma espécie de castelo construído sem intervenção humana, maioritariamente habitado por muitas aves especialmente os já conhecidos e anteriormente referidos cagarros,
e que conjuntamente com a restante passarada que por ali vive faz-nos sentir a beleza do que é puro em todo o seu esplendor. As vacas que por ali vão pastando perto são outrossim testemenhas desta imensidão de Natureza, em estado genuíno.
Após uma visita à queijaria do "Morro" onde acabámos por comprar uma série de queijos eis que é tempo de regressar à cidade. A povoação Flamengos surge nos painéis identificativos e depressa chego ao Jardim Botânico.
Outro local fantástico onde se tenta preservar e até desenvolver espécies endémicas
como é o caso da flor "não-me-esqueças" ou mais conhecida por Miosótis.
Pena foi que o Orquidário não estivesse já aberto. Mas valeu a visita... Demorada.
Entretanto antes da visita percebemos que bem perto dali existiam os charcos de Pedro Miguel. Decidimos assim que saímos pormo-nos a caminho em busca dos ditos...
O tempo continuava plúmbeo e desagradável mas nada nos demoveu. Sobe e desce curva e mais curva, alcatrão e terra, gado atravessado na estrada, para pararmos em... nenhures. A chuva continuava a cair, o vento a soprar com força mas o som que emanava daquele lugar tornou-se inesquecível e inanarrável.
Aproximou-se a hora do almoço... Era o momento de experimentar o restaurante Genuíno.
Após um ligeiro petisco numa esplanada na Taberna de Pim ao sabor de uma fresca brisa da tarde, foi o momento de voltarmos ao porto da cidade da Horta.
Desde traineiras
a veleiros
passando pelos iates de luxo,
todos ali repousam até que novas viagens e renovadas aventuras surgam no horizonte marítimo.
Eu que jamais naveguei em qualquer veleiro, tendo tido apenas a experiência de muitos anos de atravessar o Tejo nos Cacilheiros, comovo-me a olhar aquela fantástica paisagem náutica.
Muitos turistas podem aqui chegar, ver, admirar, tirar um conjunto de fotografias, mas depois passam e rapidamente esquecem. Todavia este porto tem um mistério qualquer associado que desconheço, uma magia única que me assolou quando por ali passei.
Podem ter sido das pinturas,
que as tripulações tradicionalmente vão deixando como prova da presença naquele porto,
ou de outra coisa qualquer, no entanto não consigo ficar indiferente àquele lugar.
Ele transporta-nos para muito longe dali, para um mar tantas vezes ingrato mas ao mesmo tempo absolutamente único. Um porto que não é um ex-libris da cidade da Horta... É a cidade que, na sua simplicidade, complementa o porto.
A descida da Caldeira correu célere, não porque eu conduzisse depressa, mas porque havia mais confiança no caminho. Entretanto encontro um Faialense de nome Carlos F. com quem falei sobre o belo gado que estava a mudar e num laivo de lucidez perguntei-lhe onde se poderia almoçar, sem luxos mas com qualidade. Eis que a resposta veio a contento com a indicação do restaurante Rumar na Praia do Norte, onde a D. Ermelinda comanda a cozinha.
Encontrado o asfalto logo virei à esquerda para o Varadouro. Desci o mais que pude para perto do mar onde encontrei uma espécie de praia. Mas sem areia... Óptima para jovens e menos jovens!
O azul e a limpidez daquelas águas são deveras impressionantes. Ficava ali, se pudesse, horas a mirar o vai-vém das pequenas ondas a bater nas rochas negras. A memória do que vemos e sentimos perdura no nosso espírito, mas a vontade de levar aquele pedaço de mundo connosco é tentador.
Deixei-me ali ficar por muito tempo, de tal forma que o estômago começou a dar sinal da necessidade de recarga. Peguei no mapa e percebi que a Praia do Norte seria relativamente perto já que a ilha é pequena. Depois voltaria para trás para reiniciar a visita.
O restaurante é simpático com uma vista bonita para o mar e para uns terrenos onde pachorrentamente pastavam algumas vacas e respectivos bezerros. Aqui comi, para além de uma tábua de diferentes e fabulosos queijos do "Morro", a célebre linguiça com inhame. Curiosamente da última vez que almoçara no Faial fora também este belo acepipe. Coincidências...
Após o almoço regressámos (quase) à origem para observarmos e darmos conta do que terá sido a erupção do vulcão dos Capelinhos. Acresce dizer que toda a vida ouvi falar desta erupção, simplesmente porque o meu pai foi testemunha ocular deste fenómeno da natureza e que daria à ilha mais uns hectares de terra cinzenta e originaria um enorme exôdo de Faialenses.
O Centro Interpretativo do Vulcão dos Capelinhos é muito esclarecedor e mereceu visita demorada e atenta.
O próprio farol e após 130 degraus dá-nos uma visão privilegiada de toda uma extensão de terreno inóspito, mas ainda assim muito bonito.
O pedaço de terra mais jovem de Portugal é agora um refúgio para muitas aves, essencialmente os cagarros onde nidificam sem a intervenção humana.
Foi com profunda emoção que palmilhei este lugar. Essencialmente em memória:
- dos que ficaram sem as suas casas e terras devido às cinzas;
- dos que se viram obrigados a partir em busca de melhores vidas;
- dos que corajosamente enfrentaram as vissicitudes;
e acima de tudo;
- por estarmos perante algo que aconteceu há uns meros sessenta anos.
Da minha primeira visita ao Faial, já lá vão quinze anos, guardei três grandes memórias: a Caldeira, os Capelinhos e o porto da cidade da Horta. Portanto a minha expectativa para esta viagem, não sendo enorme, traria, quiçá, alguma correcção ao que sentira e vira naquela altura. Os próximos textos tenderão a descrever o que vi e acima de tudo como senti esta volta a duas ilhas que sendo do mesmo arquipélago e do mesmo grupo são tão diferentes! Espero que se entusiasmem a visitá-las. Os açorianos merecem e nós também.
Voltas trocadas!
Aterrei pouco depois das nove da manhã (hora local) no Aeroporto do Faial após vôo directo de Lisboa. No balcão onde levantaria o carro perguntei à menina se seria boa ideia visitar já a Caldeira, se bem que já tivesse mais ou menos desenhado um croqui da volta à ilha, maioritariamente feito por uma (quase) filha da terra. Peremptória disse que o melhor seria ir para lá de seguida pois no dia seguinte iria chover e provavelmente não veria a bela caldeira.
Ora se bem o pensei melhor o fiz e à entrada do Varadouro virei à direita por uma estrada de terra vermelha e onde os coelhos e a passarada conviviam em saudável conjugação de Natureza e perante os quais tive de conduzir devagar e com todos os cuidados. Muitos quilómetros e muitas curvas e subidas lá encontrei um largo repleto de carros e com muita gente. O tempo variava entre o fresco da altura, algumas nuvens entrecortadas por um Sol por vezes abrasador tendo em conta a hora da manhã.
Atravessado o túnel é-nos oferecido uma beleza estonteante.
Os diferentes verdes iuminados pela luz solar contrastando com alguma sombra nebulosa a uma profundidade que a foto não faz justiça, davam mais encanto ao lugar. Andei por ali longos minutos até que de repente ficámos sozinhos (eu e a minha mulher, obviamente!). Foi o momento perfeito para escutar o silêncio, aqui e ali cortado pelo cantar feliz dos melros e demais aves.
Um silêncio que até doía.
Saí dali assim que diversos táxis surgiram na estrada. Voltei pelo mesmo caminho encontrando mais coelhos, mais melros sempre ladeados por uma vegetação verde e pujante.
Havia que regressar rapidamente ao esfalto e recomeçar a volta conforme havia sido previsto pois a subida não calendarizada à caldeira trocára-nos as voltas.
Hora "unhappy" de chegar a casa após quatro belíssimos dias de férias e de passeio por duas das nove ilhas açorianas: Faial e S. Jorge.
À hora que escrevo este postal estou já no aeroporto da Horta preparado para sair para a Terceira para dali partir para Lisboa.
A verdade é que comecei este dia em S.Jorge, fiz a travessia de barco para S. Roque do Pico e daqui para a Horta onde almocei principescamente. Um gin tónico e um licor de amora no Café Sport remataram o pós almoço.
Finalmente e antes de partir da bela cidade onde o mar e os marinheiros se juntam numa comunhão quase perfeita, tirei esta foto.
Faial é um daqueles locais onde saberia bem viver. A sua relação com o mar não é semelhante à das outras ilhas. Há neste naco de terra uma magia que ainda não encontrei nas outras ilhas.
E tudo por culpa de um porto que é o ex-libris da ilha.
Velhos e novos lobos-do-mar tisnados por um mesmo sol, mas em latitudes provavelmente diferentes misturam-se em bares e café, contando e escutando estórias que se perdem nas belezas das palavras. Gentes que vêm de todo o lado e que aqui aportam em busca de abrigo, mas essencialmente porque quem atravessa mares e oceanos e não pára na Horta nem sabe realmente o que perde.
Mas na ilha do Faial para além de todo o tipo de embarcações podemos também encontrar isto...