Fábulas políticas
Nota de abertura: sempre fui pobre. Com Passos Coelho fiquei mais pobre. Com o próximo governo continuarei pobre.
Conhecem aquela fábula do lacrau e do cágado?
Então aqui vai:
Certo dia um lacrau teve necessidade de atravessar um lago. Surgiu então um cágado a quem o lacrau pediu o favor de o levar à outra margem. Todavia o cágado receoso lá foi dizendo:
- Mas vais espetar-me com o teu ferrão...
Logo respondeu o outro:
- Nem pensar... Então dás-me boleia e eu fazia-te isso?
Convencido o cágado disponibilizou a sua carapaça para levar o lacrau fora de água.
A meio do lago o lacrau acabou por não resisitir e espetou mesmo o ferrão no seu transportador. Este sentido a dor dilacerante perguntou:
- Então tu prometeste não me picar e agora fizeste isso?
Resposta do lacrau:
- Tens razão que te prometi... mas é da minha condição espetar o meu ferrão.
- Pois bem... e é da minha condição mergulhar nas águas do lago!
A primeira pergunta que me vem à cabeça é saber se fosse ao contrário, se o PS tivesse ganho com minoria e a direita tivesse maioria parlamentar, se se assistiria a este folclore político?
António Costa surpreendeu-me pela negativa. E o que está para acontecer só serve para que Costa sobreviva politicamente, já que como cidadão está obviamente morto. Ninguém empurra um camarada de partido para fora do seu lugar com a promessa de tudo ganhar e quando perde mantém-se... a frente do Partido!
Mas claro em Portugal o jogo político tem contornos muito diversos de outras sociedades europeias! E como português lhano lamento estas novas posturas. Isto é, tudo é válido desde que se chegue ao poder!
Está assim nas mãos do PR a solução deste imbróglio partidário. Todavia se eu fosse o Presidente deste rectângulo aceitaria naturalmente a tal "plataforma de entendimento" da esquerda. Mas com uma simples condição: todos os partidos teriam representação governativa.
Ora, é muito fácil para o PCP ou BE concordarem por escrito como PS mas isso não os vincula a nada. Só em teoria pois na prática... Mais, facilmente estão a exigir medidas populares, mesmo que isso entre em choque com os tratados orçamentais aprovados com Bruxelas, com a chantagem de apresentarem moções de censura no parlamento. O PS encontra-se assim refém de um acordo assinado entre as partes mas sobre o qual não tem qualquer poder nem controlo.
Desconfio mesmo que esta armadilha engendrada pelo PCP ao PS tem como destino implodir com o partido de AC. O partido de Jerónimo jamais perdoou ao PS o fim do PREC. E como todos sabemos a vingança serve-se fria... Ou então será tal qual o lacrau da fábula acima!
Termino então como comecei: se ontem era pobre, amanhã pobre serei.