Escrevi há muitos, muitos anos um poema que tinha o título deste postal. Na altura as minhas lutas, bravatas, demandas eram bem diferentes das que ouso hoje assumir.
Neste meu já longo caminho cruzei-me com muita gente e cada uma das pessoas via a vida e o mundo de forma diferente. O que para uns parecia ser um problema para outros seria uma solução e vice versa.
Lidei com seres bem corajosos outros menos. Uns mais afoitos outros nem por isso. Todavia com todos eles aprendi algo.
O meu amigo e colega Fernando foi um dos que me ensinou mais do que devia, mais do que aquilo que eu gostaria de aprender, mais do que ele teria gosto em ensinar-me. Aos 35 anos foi diagnosticado com Esclerose Múltipla. Durou quase vinte anos num caminho sempre em queda.
Ajudei-o muitas vezes, muitas, muitas. Mas dele recebi sempre uma força e uma coragem inesquecível, quando deveria ser o inverso. Fervorosamente católico disse-me uma vez: só tenho de agradecer a Deus por me dar uma doença que consigo suportar.
Há neste nosso mundo, demasiado truculento, muita gente assim corajosa e que perante uma doença má (como se existissem doenças boas!) parte para a luta como se fosse um duelo medieval. Se bem que com armas e métodos diferentes. Muitos outros, perante certas maleitas que lhe caem nas mãos preferem carpir mágoas, chorar muito e lutar quase nada.
Por tudo isto é que aqueles que perante um facto menos bom partem para a luta, não dão descanso a quem os atormenta, desafiam os limites da paciência e da coragem são uns lutadores, guerreiros da vida, samurais do impossível.
O Cúmplice é um destes homens. Tenaz e teimoso (no melhor sentido!) enfrentou a sua doença com tudo quanto tinha e não tinha. E venceu!
Com o estoicismo dos que nunca deitam a toalha ao chão. Companheiro... és um vencedor, daqueles que o mundo gostar de medalhar e eu gosto de homenagear!
Nos últimos dias temos sido invadidos com constantes notícias de ajuntamentos à revelia do que foi autorizado.
Depois do que aconteceu em Lagos as autoridades perceberam que teriam de intervir mais a sério, evitando as festas privadas ou públicas.
Carcavelos, Braga, Lisboa e provavelmente noutros lugares, muitos jovens juntaram-se para libertarem o que lhes ficou preso na alma durante muitas semanas.
O governo e o PR vêm agora, muito à pressa, afirmar que é ainda não é tempo para festividades, que pode-se estar a estragar o que foi evitado durante meses...
As palavras são eventualmente muito bonitas e obviamente bem intencionadas, mas a verdade é que ninguém esquece as comemorações do 25 de Abril, do 1º de Maio, das manifestações anti-racistas...
Se querem que o povo cumpra o que lhe é pedido nada melhor que o governo e as outras organizações passarem a dar o exemplo.
Um dos maiores e melhores jogadores de futebol de todos os tempos (sim, sim eu sei que houve Péle e Maradona!!!!) ainda está no activo. É português, joga na Juventus de Turim, chama-se Cristiano Ronaldo e faz hoje 35 anos.
Nada disto teria importância se CR7 não fosse o que é neste momento perante todo o Mundo: uma marca.
A postura que o atleta colocou e coloca sempre em campo, a forma como se disponibiliza perante os seus fãns, a vontade férrea de bater sempre mais um record e, acima de tudo, a influência que é nos atletas mais jovens, fazem de Ronaldo uma verdadeira marca comercial. Que vende!
Não obstante nos derradeiros anos algumas tentativas semi-frustadas para denegrirem a imagem do capitão da selecção Nacional através de impostos não pagos e eventuais violações, a verdade é que CR7 saiu destas polémicas por cima, deixando os seus inimigos à beira de um ataque de nervos. Quem nasce para ser vencedor, nada o derrota!
Finalmente gostaria de oferecer uma bonita prenda a Cristiano Ronaldo, mas calculo que ele não necessite de nada. Ainda assim, e o melhor que posso fazer, é escrever este postal, desejando que continue a ser um bom exemplo para todos os portugueses, que se mantenha em actividade por muitos anos e principalmente que exiba a boa saúde física e mental com que tem brindado o Mundo.
Dei por mim um destes dias a colocar-me as seguintes questões: e se eu a determinada altura da minha vida tivesse tomado outra opção, diferente daquela que tomei? Que seria eu hoje? Quem seria eu hoje?
As questões martelam-me constantemente a consciência, mas jamais saberei o que teria sido a minha vida se…
Efectivamente não vivemos de “ses” condicionais mas de “ces” de certezas. E é com estas que temos de lidar permanentemente. Todavia prefiro ter tido tomado uma má decisão do que viver eternamente numa dúvida.
Esta última ideia cai obviamente um pouco em contradição com as questões formuladas no início. E se…? Pois é… o homem é um ser em permanente dúvida e incerteza.
Lembrei-me deste tema porque apercebi-me que muitos dos meus antigos colegas de escola são hoje pessoas com carreiras fantásticas e profissões… relevantes:
jornalistas e analistas em que a sua opinião assume peso;
médicos que curam e salvam vidas;
militares de carreira que salvaguardam a nossa soberania:
professores que ministram ensinamentos aos mais novos:
académicos que ensinam doutrinas;
advogados que defendem grandes causas…
E eu?
Mantenho-me nesta espécie de mediocridade sem ser relevante para quase ninguém, a não ser para os meus. Será que algum daqueles meus antigos companheiros de escola ainda se lembrará de mim?
Será apenas um número. Mas para o meu pai é mais um ano de vida conquistado. Quem o conhece, vê nele uma serenidade que só os anos e as experiências vividas sabem trazer.
Sempre tivemos uma relação muito próxima. Acompanhei-o muitas vezes na sua vida militar e partilhámos momentos fantásticos e inesquecíveis.
É ainda hoje para mim um (bom) porto de abrigo.
Aquelas mãos inchadas de trabalho e canseiras, ainda seguram com vigor o cabo da enxada que fere a terra vermelha. É um exemplo de tenacidade, força e constância.
Hoje no dia do seu octogésimo primeiro aniversário almoçámos juntos com mais alguns familiares. Uma festa pequena porém merecida. Sei que sentiu a falta dos netos, mas se Deus quiser para o ano há mais!