No mês passado escrevi este postal dando ênfase à fuga de muitos estrangeios para Portugal. Não conheço a realidade de outras aldeias portuguesas, mas nesta aldeia beirã, do sopé da serra da Gardunha os estrangeiros que aqui residem de cariz permanente tem vindo a crescer.
Ontem andava por lá a "conferir" as podas às oliveiras (a campanha de azeitona de 2024 já começou!!!) quando de súbito pára um todo o terreno, daqueles mais pequenos e de lá sairam um homem e uma mulher. Ele alto, magro, portuguesíssimo e ela baixa, para a minha idade e... inglesa.
Chamaram-me porque a minha carrinha estava a tapar a estrada quando a senhora britânica sai lesta do carro e pergunta-me em bom inglês se podia levar a rama da oliveira que se espalhava no chão após a devida limpeza.
Respondi-lhe que estivesse à-vontade para levar a que quisesse e sem qualquer problema. Assim ela fez e carregou a parte traseira do veículo com o máximo de rama possível.
Entretanto comecei a falar com o jovem que me perguntou se estaria interessado em vender a propriedade. Admirei-me com a questão, ao que ele me respondeu ser um angariador de terrenos e casas na zona para as revender a estrangeiros.
Mais... acrescentou que a procura tem vindo a crescer, ficando também esclarecido que eu não estaria interessado em vender.
De um momento para o outro fiquei com a estranha sensação de desconforto emocional. Certamentre que prefiro um terreno cuidado que despresado ou uma casa habitada em vez de devoluta, mas esta "invasão" pode trazer outros problemas e para os quais os portugueses poderão não estar preparados.
Todos temos consciência que a filosofia de vida dos europeus é totalmente contrária à do luso nascido! E não me admiraria que daqui a uns anos (provavelmente poucos) tenhamos um forasteiro a ser presidente de uma qualquer Junta de Freguesia. Portanto para a Câmara Municipal é só mais um passo.
Vocês estão a ver gente série e incorruptível a tomar conta dos destinos de uma qualquer edilidade do interior? Tornar-se-ia um sarilho daqueles...
Entretanto demos as boas-vindas aos que chegam! Eles adoram a nossa hospitalidade!
A azeitona levou-me para lá da cidade de Castelo Branco para a aldeia onde a família tem uns bons pedaços de terra fértil e bem tratada.
Não irei falar da apanha pois dessa já eu falei amiúde em postais anteriores, mas tão-somente da vida que por aqui se vai desenrolando ao som das badaladas do sino da igreja, ao som da chuva a bater no empedrado ou do vento a soprar nas árvores.
Nesta aldeia beirã onde não há restaurantes nem passadiços, mas muitos trilhos o tempo passa lentamente, pois não vale a pena correr.
Entretantpo tenho vindo a notar um acréscimo de população estrangeira por estes sítios e que aqui passou a viver de forma permanente. Segundo a Junta de Freguesia local já se contam 107 famílias o que equivale a quase 300 pessoas.
Vêem todos duma Europa cada vez mais desunida. Alemanha, Holanda, França, Dinamarca, Bélgica são alguns dos paíuses de origem. Procuram paz, serenidade e uma ligação próxima com a verdadeira natureza. Moram em casas que ficaram devolutas, muitas delas (a maioria) longe do centro da aldeia ou em velhos barracões de recuperaram. Trouxeram com eles os pais, filhos, cães, gatos e por aqui estão felizes e contentes.
Alguns dos miúdos já tocam na filarmónica local o que é sempre de louvar. Quando descem à aldeia gostam de passar no café onde beberricam jeropiga e outras bebidas locais (vulgo aguardente!).
Gosto muito de os ver e cruzo-me muitas vezes com alguns nas minhas deambulações entre fazendas. São geralmente muito simpáticos e há já alguns que arranham o português!
Ao invés de muitos que aqui nasceram e já sairam prometendo não regressar, estes estrangeiros conhecem bem o que é bom!
Passeio de noite pela aldeia beirã onde esta semana resido! Uma povoação simpática de casas graníticas, ruas estreitas e chão empedrado de pesados cubos também eles de granito beirão. O povo é afável, educado e amigo do seu amigo!
Aqui e ali noto luz numa qualquer habitação, mas a maioria está fechada sem ninguém! Estores corridos, janelas descidas… um silêncio quase sepulcral.
Este é o actual paradigma do nosso interior: muitas casas devolutas outras já pior que isso já só existem como ruínas.
As pessoas saem do interior em busca de melhores empregos, melhores condições de vida, de outras aventuras que só os grandes centros populacionais podem oferecer!
Regressam somente ao fim de semana ou pior ainda pelas festas populares de Verão cheios de alegria, mas com pouca ou nenhuma vontade de regressar e ficar.
Ao invés dos natuirais começo a perceber muita gente estrangeira que procura nesta aldeia alguma paz e serenidade em contraste com o que observam nas cidades de onde chegam. Encontro-os a passear pelos locais mais estranhos sem medo ou preocupação pois sabem que por aqui a paz é uma realidade!
Sorriem, acenam e debitam um qualquer palavreado que ninguém entende. Vivem em casas supostamente com poucas condições, mas eles preferem assim… pois por cá o frio é meia dúzia de dias por ano.
Andam quase sempre a pé ou de bicicleta, correm muito e não temem este isolamento. Já vi por cá franceses, alemães, holandeses (ou será nederlandeses?), belgas e alguns nórdicos. Não frequentam os cafés e tabernas, mas gostam do seu néctar.
Resumindo… estamos a deixar morrer as nossas aldeias de nativos portugueses e substituí-los por estrangeiros… corajosos!