De uma maneira fria e racional os avós são somente os pais dos pais. Ponto.
Porém pegando na relação de uma forma quase filosófica diria que os avós são a sabedoria sem custos (pelo menos era assim que vi sempre os meus antecessores mais velhos) e "à mão de semear".
Não querendo assumir mais sabedoria que os outros, é certo que já vivemos mais anos e deste modo sabemos acautelar as situações. Bom... adiante!
Vinte e quatro horas depois de ter nascido a minha neta mais nova conseguiu-se a proeza de juntar as duas cachopas, sendo que a mais velha estava quase amedrontada com o ambiente hospitalar. A mais nova... tadinha... quer é mama, roupa e rabinho seco!
Mas aquele momento foi assim... uma luz especial que incidiu nelas e iluminou a minha vida.
No fundo, no fundo gostaria que elas olhassem um dia para este avô e sentissem orgulho do património que deixo como herança: a minha escrita.
Onze anos a escrever... coisas! Umas bonitas outras nem por isso, mas ainda assim sempre com o intuito de tentar ir mais além.
Faltará, porém, naquela escrita um rasgo, um momento único e brilhante que me faria realmente ser um verdadeiro escritor. Deste modo serei apenas um escriba pouco competente.
Conheço bem a Póvoa da Atalaia, aldeia do concelho do Fundão, distrito de Castelo Branco, berço do poeta Eugénio de Andrade há precisamente 100 anos. Ou será de José Fontinhas?
Ler Eugénio de Andrade é fugir ao comum dos escritos, é sentir que a poesia tem outra dimensão, mui diferente desta que hoje vamos aqui e ali desfiando.
Sempre que entristeço leio-o. A "Ele Génio" das palavras e dos sentimentos. E logo acordo para outra realidade.
Certa tarde ousei... a pegar na frase que está sublinhada, retirada deste belo poema escrito pelo poeta beirão,
Mar, mar e mar
Tu perguntas, e eu não sei, eu também não sei o que é o mar.
É talvez uma lágrima caída dos meus olhos ao reler uma carta, quando é de noite. Os teus dentes, talvez os teus dentes, miúdos, brancos dentes, sejam o mar, um mar pequeno e frágil, afável, diáfano, no entanto sem música.
É evidente que minha mãe me chama quando uma onda e outra onda e outra desfaz o seu corpo contra o meu corpo. Então o mar é carícia, luz molhada onde desperta meu coração recente.
Às vezes o mar é uma figura branca cintilando entre os rochedos. Não sei se fita a água ou se procura um beijo entre conchas transparentes.
Não, o mar não é nardo nem açucena. É um adolescente morto de lábios abertos aos lábios de espuma. É sangue, sangue onde a luz se esconde para amar outra luz sobre as areias.
Um pedaço de lua insiste, insiste e sobe lenta arrastando a noite. Os cabelos de minha mãe desprendem-se, espalham-se na água, alisados por uma brisa que nasce exactamente no meu coração. O mar volta a ser pequeno e meu, anémona perfeita, abrindo nos meus dedos.
Eu também não sei o que é o mar. Aguardo a madrugada, impaciente, os pés descalços na areia.
e escrever este pobre poema.
Prosa-poema para um fim de tarde
Daqui deste alto, tão alto que quase toco as estrelas,
Vejo ao fundo a linha de horizonte, ténue
Onde singelos pontos brancos tocam o céu.
Daqui deste alto, tão alto, que quase abraço a Lua,
Vejo alvas e serenas almofadas,
onde o sol, por fim, irá repousar.
Daqui deste alto, tão alto que quase me sinto voar
Vejo o condor, que em voos brandos e fatais,
Mira a sua presa perfeita e ingénua.
Daqui deste alto, tão alto que quase agarro o vento,
Vejo o verde da planície recortado por plúmbeos traços,
Nunca fui pessoa para fazer resoluções só porque na folha de calendário muda um número. Mas percebo qual a filosofia apensa à ideia antiga de "Ano Novo, Vida Nova"!
Há dias, em conversa com uma pessoa, acabei por também pensar no que gostaria realmente de ver feito este ano.
Quase tudo relacionado com a escrita. Só podia... Até porque será a única coisa que eu consigo mais ou menos controlar.
Deste modo até ao final do ano gostaria de ver publicado o meu livro (não será aquele que mais desejaria!), escrever mais no outro espaço blogosférico (pode ser que com esta iniciativa do desafio o consiga!) e, quiçá, iniciar a preparação de um romance.
Este será, talvez, o meu maior sonho! Não me faltam ideias para o tema. Falta todavia o tempo para uma pesquisa aprofundada e necessária.
Depois poderá haver aquelas escapadelas que desejaria fazer como seria regressar à bela ilha das Flores ou uma viagem a um local, para mim desconhecido, neste rectângulo (ando a pensar em Almeida).
A ver o que conseguimos. Bastava uma delas (especialmente ligadas à escrita) e já me sentiria satisfeito!
Ontem ofereci a um amigo o último livro com os Contos de Natal dos quais fui um dos co-autores. Ficou genuinamente agradecido e após ter percebido que estava autografado com a respectiva dedicatória acabou por dizer algo como isto:
- Quem escreve tem um dom!
Tentei dissuadi-lo dessa ideia pois não considero que a minha escrita advenha de um dom, mas tão-somente de muito empenho e muita dor.
Ele negava com a cabeça enquanto folheava novamente o livro. Por fim pegou num texto que escrevi e leu em voz alta a primeira frase.
- Explique-me como após esta curta frase consegue desenvolver para escrever uma estória? Eu jamais conseguiria.
Sendo ele um óptimo canalizador com uma carteira de clientes fabulosa devolvi:
- Pois é! Da mesma maneira que se me desse todas as peças e ferramentas para fazer uma canalização de uma casa eu jamais conseguiria...
No fundo quem escreve é um artesão. Todos as pessoas conhecem a maioria das palavras, no entanto essa capacidade de as juntar de determinada forma, para com elas contar uma simples estória não é apanágio de todos, apenas de alguns. Acresce também dizer que há muitas formas e todas elas diferentes de juntar as palavras. A esta diferenciação chama-se estilo.
Actualmente com tanta gente a escrever bem, sejam em blogues seja em livros, o leque de estilos é cada vez maior.
Mas ainda bem... assim sempre se contenta mais gente que lê.
Gosto de biografias. Então se forem auto-biografias melhor ainda, porque tem o cunho mais pessoal e isso tem enorme valor.
Neste momento ando a ler duas. Vou alternando dias ou horas. Oravse leio uma de manhã, leio a outra de tarde ou vice-versa.
Gosto de perceber o caminho que cada pessoa trilhou para chegar ao seu destino. Por vezes são caminhos ínvios, duros, mas no fim percebe-se o som da vitória. Noutros descubro formas de ser fantásticas e bem diferentes do que por vezes dão, publicammente, a perceber!
Resta então saber quando deverá alguém escrever a sua auto-biografia ou, no mínimo, autorizar que alguém a faça por si? Que obras deveremos ter eregido na nossa vida para que tal aconteça?
Jamais saberemos quando é o momento chave para tal demanda, mas creio que algures na nossa caminhada por este Mundo deverá haver um sinal.
Quem me conhece desta espécie de demanda que é a escrita, sabe que tenho um espaço próprio onde deposito outro género de escritos.
Na maioria são pequenos, para não dizer infímos, contos que traduzem muitos sentimentos que vou sentindo nesta vida que ora é amarga, triste, azeda ou é fantástica, luminosa e alegre.
Gosto muito de escrever coisas diferentes do que geralmente escrevo aqui. E porque muitos dos desafios que me foram lançando por outros blogues deixaram de existir, acabei eu por avançar para um desafio de escrita e que consiste em que são os próprios leitores e comentadores a lançarem-me ideias para a minha escrita.
Nesta altura já escrevi cinco textos representativos de outros tantos temas. Há um sexto já em pensamento, mas ainda longe de estar escrito.
Esta aventura principiou no final do ano passado, mas gostaria que 2023 fosse mais preenchido com novos e diferentes prosas.
Assim aproveito este meu espaço para propor a quem aqui vem ler que me desafie. Basta uma palavra, uma frase ou tão somente uma ideia... Coloque num comentário ou envie-me por mail que eu tentarei responder com a maior brevidade possível.
Entretanto se quiserem podem ler os cinco textos já esgalhados:
Como é do conhecimento de muitos de vós a aventura dos Contos de Natal que a Isabel em boa hora lançou em 2019, continua a fazer a sua caminhada para o estrelato (é uma piada)!
Entretanto fui ao passado recente para buscar uns breves apanhados e descobri que este ano ainda estamos muito longe do pretendido em termos de autores e estórias escritas.
Na realidade se este ano surgiram, até agora, mais autores que o ano passado (28 contra 24), isso não corresponde ao número de contos escritos (39 contra 44). Todavia há a alegria de registar mais estreias este ano (12 contra 10).
Todo este relambório estatístico para dizer o quê?
Que os mentores deste projecto (a Isabel, a Olga e eu) tinhamos na ideia, para este ano, um aumento exponencial de autores e contos. Algo que até agora ainda não se verificou. Todavia sei que há, nesta comunidade, muita gente com capacidade e estaleca para se juntar a nós.
Portanto e parafraseando os títulos de uns livros que há uns anos tiveram grande sucesso... 'bora lá escrever um conto de Natal...
Não se preocupem com as datas porque como escreveu o poeta José Carlos Ary dos Santos: o Natal é quando o homem quiser!
A idade não te ensinou nada? As vicissitudes da vida não te mostraram outros caminhos?Sinceramente parece que não.
Lembra-te que já não és um miúdo. Estás velho, cansado e deves ter mais cuidado com a tua saúde. Mas claro... o parvo serei eu!
Companheiro... já não tenho paciência para te dar conselhos, mas estás sempre a tempo de mudar. Se quiseres, claro!
Tu nem és mau tipo, mas essa tua ideia de ainda acreditares que podes ser sublimente feliz até ao fim da vida ainda irá dar cabo de ti e provavelmente dos teus.
Aceita o que tens! Não vivas no sonho...
Não refiles com o mundo pois já cá estava quando nasceste. Portanto não tentes mudá-lo!
Vá... cuida-te e toma juízo, no fundo, no fundo foi coisa que nunca tiveste!