Esclerose Múltipla - o que eu vivi!
A Cátia chamou a atenção no seu blogue para este Dia Mundial da Esclerosa Múltipla.
Não tendo ninguém na família com esta horrorosa enfermidade, ainda assim convivi de muito perto com ela.
Conheci o F. no contexto do trabalho. Durante muitos anos foi uma pessoa normal. Até que começou a tropeçar no passeio. Demasiadas vezes... Daí até perceber que tinha EM foi um instante e o F. e a restante família passaram a viver em função da sua doença.
O seu gabinete de trabalho era defronte do meu. Por isso dei muito bem conta da sua constante degradação física. Primeiro uma canadiada, depois duas e por fim cadeira de rodas.
Mas todos os dias vinha trabalhar conduzindo um carro adaptado. Na garagem chamava-me e então descia e tirava-o do carro para a cadeira, tal como o fazia o contrário no fim de cada dia.
No gabinete era com dificuldade que agarrava no rato oinformático, usando sempre as duas mãos já que os espasmos não mantinham a mão sossegada. Por duas ou três vezes ao dia pedia-me que o levasse à casa de banho dos deficientes. Ali ajudava-o a despir-se e a colocá-lo na sanita. O inverso também era válido.
Homem de uma coragem e tenacidade imensa, ele foi exemplo para muita gente. Acima de tudo pelo estoicismo e aceitação da sua (má) sorte. Nunca lhe ouvi um queixume, um lamento, uma lágrima sequer. Um dia na casa de banho dei conta que se sujara todo. Pedi ajuda às senhoras do trabalho que lavaram e secaram a camisa, que voltou a vestir.
Um dia deixou de vir pois os espasmos nas pernas eram permanentes impossibilitando-o de sair de casa. A pasticidade das pernas era tão grande que metia aflição.
Reformou-se para morrer meses depois.
Ainda tive a oportunidade de visitá-lo em casa no seu quarto que mais parecia uma sala de operações imaculala.
O F. partiu num dia frio de Janeiro vitima de EM. Tinha pouco mais de 50 anos.
Na altura escrevi isto.