Recebi há dias a primeira prova do meu próximo livro. Assim estou desde ontem focado na sua revisão.
Um dos maiores problemas nestas coisas de revisão é perceber se há, por exemplo, incongruências a nível dos nomes das personagens. Já para não falar de gralhas ou pequenas frases quase sem sentido e que passaram incólumes, todas elas, pelos diversos crivos.
Por isso cada cada parágrafo, cada página, cada estória foi esmiuçada. E mesmo assim não garanto que esteja tudo impecável, como eu gostaria.
É curioso este fenómeno humano. Passarmos os olhos por um texto, lermos sem sequer nos apercebermos de alguns erros. Então se o texto que estou a ler for meu acontece-me amiúde... especialmente aqui na blogosfera...
A este propósito tive um amigo, entretanto já falecido, que quando ia ao hospital a uma consulta dizia-me sempre em tom de brincadeira: lá vou olhar sem ver! Touché!
Aqui será mais ler sem ver!
Finalmente está quase, quase... o meu próximo livro!
Pois é... por vezes dá-me para ser injusto e idiota.
Um destes dias escrevi aqui umas patacoadas criticando as praxes e sugeri que estas tivessem uma função mais ambientalista.
O problema é que não fiz previamente qualquer investigação, assumindo que aquilo de vi era alastrado a todos os desgraçados caloiros e deste modo cometi uma gravíssima injustiça.
Na verdade no Instituto Politécnico de Setúbal os caloiros entram em iniciativas de apanhar o lixo junto ao Rio Sado. Pelo que percebi este já é o segundo ano que o fazem. O primeiro teve 500 novos alunos nestas iniciativas e este ano são 600.
Portanto "mea culpa" e mordo a língua para quando voltar a acusar alguém, ter comigo todos os dados evitando assim erros próprios.
A nossa língua é malvada. Reconheço que se fosse estrangeiro teria imensas dificuldades em aprender o português. São tantas as variáveis e tantas as excepções que dificilmente alguém que não seja luso percebe as reais diferenças. Também no inglês há o “th”, aquele sopro tão característico dos britânicos, que ninguém, por muito bom inglês que fale, o pronunciará como os súbditos de Sua Majestade.
Mas voltando à língua de Camões diria que cada vez se escreve pior em Portugal. Não imagino se será do N.A.O. ou desconhecimento puro da nossa língua ou até da falta de leitura de obras mais antigas onde a lusa língua era bem tratada.
O problema é que a aplicação de determinadas palavras, mesmo que de forma errada são já um (quase) património linguístico. Os políticos, jornalistas e até escritores usam estas expressões de forma tão normal que um destes dias ninguém diz que é um erro.
O exemplo mais flagrante está no advérbio “atrás” quando usado com o verbo haver. É tão comum escutarmos “… há anos atrás…” dito por todos e mais alguns que já ninguém considera erro. Neste caso basta dizer “… há anos…” que já se percebe que é no passado. Portanto um erro que já vem de há anos!
O verbo haver acarreta outras dúvidas e muitos mais enganos. Pelo que vou lendo por aí, há quem não perceba a diferença entre o “à”, contração da preposição “a” com o artigo “a” originando com a sua duplicação o respectivo acento grave abrindo a vogal, com a forma verbal do presento do indicativo do verbo haver “há”.
É tão recorrente este erro que até eu, por vezes, fico confuso para não dizer com dúvidas, quanto à correcta aplicação das diferentes formas.
Ninguém tome este postal como uma crítica, até porque eu próprio dou imensos erros. Mas erros deste género custa-me aceitar-