Faz hoje precisamente 41 anos que comecei oficialmente a trabalhar. Digo oficialmente porque até aí havia trabalhado mas sem direito a descontos para a Caixa de Previdência e outros dádivas, tal como não tinha direito a subsídio de férias, nem 13ºmês ou um mero subsídio de almoço. Nada.
Talvez por isso este dia ficou-me marcado na memóra até aos dias de hoje.
Recordo que fui ganhar para um escritório em Lisboa 9.800 escudos por mês o que corresponderá a mais ou menos 50 euros. A que acrescia 1320 escudos de subsídio de almoço. Tudo junto somava a bela quantia de 11.120 escudos ou 55,47 euros.
Em cima deste valor caiam os impostos e outros descontos. Receberia à volta de 9000 escudos ou 45 euros.
Com este dinheiro conseguia dar algum em casa, pagava o passe social e transformava o resto numa vida boémia.
Mas voltando àquele dia 9 de Novembro, recordo como se fosse hoje o prédio velho, assim como o elevador. As escadas eram de madeira, tal como o soalho e lembro-me bem daquele característico cheiro a cera que uma senhora da limpeza espalhava pacientemente todos os dias.
Estávamos em 1979 e o 25 de Abril de 74 era ainda uma presença forte nas minhas lembranças.
Hoje, reformado, relembro aquele dia não com saudade, mas com aquele sentimento de ter vivido momentos únicos e que por isso mesmo sinto-me um felizardo!
A partir de amanhã à tarde e durante mais dois dias vou estar em formação.
De certa forma durante este tempo estou longe de muitas chatices recaindo sobre outrém essa responsabilidade. Todavia disto retiro duas conclusões, para as quais já estava naturalmente convencido: a primeira é que sou perfeitamente dispensável (como qualquer um de nós!), a segunda prende-se com o curso em si, porque muito provavelmente darei pouco uso aos conhecimentos adquiridos.
A empresa onde trabalho gosta de dar estas formações. E eu gosto muito de as receber.
Acima de tudo porque o conhecimento não ocupa lugar!
Quando decidimos algo na nossa vida, fazemo-lo no pressuposto que aquela decisão é a melhor. Para isso pesamos os prós e os contras, ouvimos amigos e familiares, saudamos quem nos aconselha e finalmente decidimos.
E durante anos achamos que as nossas decisões foram as melhores sem arrependimentos. Só que… de um dia para o outro tudo pode realmente mudar. O que era verdade ontem, hoje pode ser mentira e vice-versa.
Falo disto porque um destes dias dei por mim a lembrar-me do tempo em que entrei no mercado de trabalho, das opções que me foram oferecidas e das decisões que tomei. Lembrei-me também das vezes em que perguntei a mim mesmo se teria tomado a atitude certa.
Este texto pode parecer enigmático, mas vou esclarecer o porquê desta minha reflexão.
Quando nos finais dos anos 70 e princípio dos oitenta me apareceram várias propostas de trabalho eu tive que optar entre ir para as Finanças ou ir trabalhar para o Banco de Portugal. Consultei diversas pessoas e o resultado deu um empate técnico. A decisão nessa altura pertencia a mim, única e exclusivamente, num desempate tenebroso.
E optei pela segunda proposta.
Porém durante muitos anos achei que tinha feito mal. Amigos que na altura comigo haviam concorrido, encontravam-se agora em repartições com funções de chefia. E eu no banco, preso a uma actividade quase monótona.
Mas perante o que se aproxima no que respeita à dispensa de Funcionários Públicos, com rescisões de contrato e quiçá despedimentos, fico a pensar que provavelmente a minha decisão na altura continua acertada.