Hoje ou melhor este fim de tarde, início de noite, o meu foco não estava na minha vida pessoal, mas lá no Minho, terra de um amigo meu onde o meu Sporting jogava um jogo com atraso de... 77 dias.
Não pago canais de futebol. Razões minhas que agora não interessa! E daí não assisti ao jogo em directo na TV. Mas ia escutando via rádio o relato da Antena 1. Ao intervalo com o Sporting a ganhar apenas por um a zero, pensei melhor e desisti também de escutar o relato. O meu pobre coração não resiste a tantas emoções.
Por isso hoje não escrevo mais nada.
Como disse no início deste postal há emoções que falam mais alto. Eu sei que isto é uma doença ou uma loucura. Mas ninguém é perfeito, pois não?
Regressei tal como no ano passado a um local que me diz ainda muito: o último departamento onde trabalhei.
Fui um convidado genuinamente feliz em mais um magusto, pois é óptimo rever velhos amigos e amigas, conhecer colegas novos, enfim conviver com gente faaaaaaaaaantástica.
A vida é assim feita destes pequenos prazeres. Que ficarão marcados no meu coração enquanto tiver dois dedos de tino.
Contei e recontei estórias antigas, algumas já por aqui partilhadas, falei (e muito) das minhas actuais actividades e tentei aconselhar os mais novos a terem uma postura de competência e serenidade.
A noite caiu sobre a cidade com uma brandura atípica para estes dias. Ficou a belíssima memória destes momentos.
Despedi-me de todos com a alma cheia! Prometida está a marmelada... espero não me esquecer!
Tive um bom amigo, entretanto já falecido, que teve uma doença terrível: esclerose múltipla.
Devido à sua doença tinha de ir amiúde ao Hospital de Santa Maria em busca de tratamentos. Primeiro a coxear, depois de canadianas e por fim de cadeira de rodas.
Dizia-me ele no dia seguinte às consultas:
- Fui ontem a Santa Maria... o local onde olhamos, mas não vemos!
Da primeira vez que me disse esta última frase fiquei um tanto atónito. Depois ao vê-lo dia a dia a definhar entendi melhor o significado daquela máxima.
Percebi que quanto mais lidamos com algo, mesmo que não seja simpático nem bonito mais nos vamos afastando da dor ou do sentimento de angústia. Ou dito de outra forma o sentido da visão poderá ter duas interpretações: aquilo que se constata com o nosso olhar - a parte física - e a forma como o que vemos nos toca - a parte emocional.
Por fim acrescento que o pior que nos pode acontecer é misturar ambas ou não termos capacidade de nos abstrairmos da parte emocional que é geralmente a que mais nos magoa!
Admiro quem anda pelo mundo à procura de si mesmo. Gostava tal como essas pessoas de partir daqui, sem destino.
Desejava poder zarpar num veleiro, escondido por entre amarras e cabos. E só ser descoberto em alto mar.
Adorava atravessar África de lés a lés, sozinho, procurando em cada aventura um sentido para a vida.
Ai como me sentiria a atravessar o continente australiano, debaixo de um calor tórrido, aguardando que atrás de um qualquer rochedo aparecesse um aborígene selvagem.
As emoções não são apenas sensações são também aventuras. Aliás qual a aventura que não acarreta sensações?
Hoje Domingo dia de S. João, foi isto que se me ofereceu dizer.