Oiço amiúde dizer, especialmente por parte das senhoras, que os homens são mais piegas que elas, tendo uma anormal incapacidade para aguentar a dor! Bom não sei como são os outros cavalheiros, mas eu aguento quase tudo o que é dor!
Também é verdade que não há (ainda) uma máquina que avalie com rigor a intensidade da dor, seja ela num pé, numa perna ou simplesmente uma dor de cabeça. Pegando neste pressuposto ficamos com a ideia de que a dor pode ser física, e sê-lo-á certamente, mas tem muito de psicológico.
Dizia a minha sogra quando ainda tinha algum tino que "cada um sente as suas"! Tanta verdade numa pequena frase. As dores que eu sinto jamais serão sentidas por outros e vice-versa.
Só que associada à dor há sempre um queixume. Se nas crianças as dores são normalmente transformadas em choro, já nos adultos a reacção às dores é obviamente diferente de pessoa para pessoa e independentemente do sexo.
Alguns queixam-se permanentemente como estivessem prestes a morrer, outros apenas mostram alguns esgares sinónimos evidentes de que algo não estará bem, mas há quem sofra a dor em silêncio.
Uns porque querem a atenção toda para eles, outros porque ao invés dos primeiros tentam evitar dar nas vistas e, quiçá, os mais corajosos porque assumem que a dor simplesmente... não existe!
A verdade é que a dor é um sintoma físico real e pcicológico irreal!
Toda a minha vida escutei que os homens, em geral, são muito piegas, com qualquer coisita ficam quase a morrer.
Dizia a minha velhinha avó que se os homens pudessem ter filhos cada família só teria, no máximo, três descendentes: o primeiro teria a mulher, o segundo o homem, o terceiro novamente a mulher, mas o homem não teria mais nenhum por que não estava para passar novamente as mesmas dores.
Olvidando esta cultura popular demasiado antiga diria que como homem sou pouco piegas. E já passei o meu bocado. Mas a dor é algo que não me intimida.
No entanto tenho alguma dificuldade em lidar com a febre. É algo que facilmente me derruba e me deixa prostrado, mas que tento logo combater com comprimidos para o efeito.
A assumpção da pieguice masculina feita pelo eterno feminino pode acabar por se tornar um paus de vários bicos e não somente dois.
Imaginemos que eu sou proprietário de uma valente dor numa perna. Se me queixar escutarei: ai tão piegas que ele é, qualquer dorzita e parece que vai morrer amanhã. Todavia se sofrer em silêncio até a coisa descambar, ouvir-se-á perante o facto: porque é que nunca se queixou? tem a mania que aguenta tudo...
Resumindo: a pieguice não existe por parte de quem se queixa, mas unicamente por aqueles que vivem com. O certo é que há pessoas com maior e outras menor capacidade para aguentar uma dor. Ou diversas!
Como diria alguém lá em casa: cada um sente as suas!
De hoje a um mês estarei a chegar de mais uma peregrinação. Entretanto realizou-se esta tarde a reunião habitual de apresentação de toda a equipa da organização.
Seremos ao todo 110 peregrinos, contando obvimente com os elementos de apoio.
Por aquilo que me foi dado costactar irão muitos jovens (ainda bem, é necessário dinamizar a juventude para estas experiências), muita gente pela primeira vez e também muitos peregrinos já conhecidos de anteriores peregrinaçães e porque não dizê-lo se tornaram bons amigos.
É uma dádiva enorme estar inserido num grupo destes, dispostos a "orar com os pés", como descreveu um dia um amigo do cardeal Tolentino de Mendonça, ao referir-se a uma peregrinação em que participara.
Começa hoje, assim, uma espécie de contagem decrescente até chegar à madrugada do dia 4 de Abril.
É que há muita coisa para preparar.
Acima de tudo o espírito. É que isto de nos pormos a caminho tem muito que se lhe diga!!!
Desta vez tenho de morder a língua. E com força que é para nunca mais me esquecer! Mas vamos ao caso.
Ontem de manhã estava eu a vestir-me para ir trabalhar quando surgiu uma dor aguda num calcanhar. Estranhei a coisa até porque não me lembrava de ter batido em algum lugar. Temi que a dor fosse mais uma crise das minhas, já uma vez aqui referidas. Parece que é!
Durante todo o dia de ontem arrastei-me pelos caminhos da cidade sofrendo atrozmente com uma crise de gota que me atacou aquela zona do pé direito. A dor nestas maleitas é altamente limitadora de modo que o meu caminhar mais se assemelha ao andar de um idoso de provecta idade.
Hoje carreguei nos anti-inflamatórias e após um início de manhã pouco animador a verdade é que o resto do dia correu de forma razoável.
Ora tenho por hábito dizer, quando me refiro aos outros, que a dor é muitas vezes psicológica. E tenho-me gabado de aguentar dores sem grande alarido, mesmo em siêncio. Por tudo o que escrevi antes e por aquilo que aconteceu nos últimos dias é que mordo a língua.
Esta dor realmente... dói. E muito!
E não há psicologia que me ajude a aguentá-la. Somente comprimidos.
Num filme medíocre Dalton, um segurança de uma discoteca, interpretado pelo malogrado Patrick Swayze, após uma zaragata em que ficou ferido, tem uma saída fantástica para a médica que o estava a tratar quando esta disse que iria doer. Diz então a personagem:
“A dor não dói!”
Isto para a época deve ter sido profundo (estávamos em 1989), mas hoje, quase trinta anos passados, entendo o que se pretendeu dizer.
Isto para explicar que esta manhã, muito cedo, acordei com um ataque de gota que me deixou muito combalido. A verdade é que sou um bocadinho como o tal Dalton referido acima, mas só que desta vez a coisa deu com força tal que me vi a pontos de quase chorar.
Carreguei com uns comprimidos e a coisa melhorou até agora. Não imagino como estarei mais logo.
No entanto calculo o que não deverão ter sofrido os nossos monarcas âs mãos das cozinheiras da altura, quando certamente enchiam os pratos de borrego, cabrito ou outra carne nova.
Em 1989 o malogrado Patrick Swayze protagonizava num filme medíocre, mas repleto de tiradas mais ou menos filosóficas. Uma delas foi "... a dor não dói...".
Ora esta frase contem duas contradições: se é dor é porque dói ou se não dói não pode ser dor!
Não obstante esta estranha conclusão reconheço que a dor é um sentimento não mensurável mas é sentida de forma diferente por cada pessoa. Ou melhor, cada um tem uma diferente capacidade de suportar a dor.
Estou naquela idade "condor"... Com dor aqui, com dor ali. Todavia raramente me queixo porque o queixume não me tira a dor, apenas dá a indicação para outrém que posso estar a sofrer... E sinceramente não aprecio isso.
Já tive dores nos ouvidos (quiçá as que mais me transtornaram), nas mãos, nos pés, nas articulações e até umas dores de cabeça. Mas raramente me queixei.
Porque as minhas dores só a mim pertencem e só eu devo conviver com elas da forma que eu quiser.
As Ciências Médicas evoluíram muito desde que na Idade Média eram os barbeiros que faziam os primeiros curativos às pessoas. Alguns destes apostavam depois na medicina e após muitos anos de estudo tornavam-se físicos, que foi o nome dado àqueles que se especializavam na arte de tratar as enfermidades.
Nas últimas décadas a tecnologia angariada e colocada ao serviço dos médicos foi quiçá um dos maiores melhoramentos dada às Ciências Médicas. Sem aquela não haveria Ressonâncias Magnéticas nem TAC’s nem um mero RX. Nem microscópios nem uma panóplia de ferramentas e apetrechos através dos quais a actual medicina tentar curar alguns males da humanidade.
No entanto, e não obstante esta imensa evolução, falta ainda um equipamento… Algo que meça com alguma precisão o que se sente. Falo obviamente de uma máquina que consiga medir as dores. Com esta possibilidade acabar-se-iam alguns dos tabús da humanidade.
Senão, vejamos:
1 – Um homem está claramente engripado. Sente que o corpo se desfaz em dores. Estas alastram-se por todo o lado até por locais que não imaginava que tinha. Queixa-se! A mulher olha para o marido e abanando a cabeça afirma:
- Tss, tss vocês homens são uns piegas. Qualquer dorzita e parece que estão a morrer. Imaginem se tivessem um filho?
Realço que actualmente a maioria das mulheres recebem uma anestesia epidural para não sentirem dores aquando do parto. Porque será?
2 – Um homem não se sente bem. Dói-lhe qualquer coisa mas nem consegue identificar o que é. Cala-se, sofre em silêncio pois sabe que a esposa ao seu primeiro queixume vai utilizar a mesma lenga-lenga. Quinze dias mais tarde a mulher percebe finalmente que o marido não está bem e pergunta:
- Que tens home’? O que se passa contigo?
O marido finalmente expõe o seu problema e rapidamente a mulher move tudo para o levar para o hospital. Aqui o médico diagnostica uma doença com alguma gravidade. Diz a mulher:
- Nunca sabes queixar…
É contra este tipo de dúvidas que considero a grande necessidade de se inventar uma máquina de apenas calcule a intensidade da dor!
Até lá sentiremos a dor como algo muito nosso e cada um à sua medida e intensidade!
Sempre achei que a dor física só existe realmente na mente de cada um. Mas a vida dá-nos todos os dias e a todas as horas grandes lições.
Senão vejamos: a semana passada decidi ir ajudar o meu pai a apanhar a azeitona. Um trabalho por vezes duro mas do qual costumo gostar. Só que desta vez uma escada "atacou-me" deixando-me um traumatismo enorme na canela. Ora desde logo percebi que não sendo um caso grave ainda assim calculei, e infelizmente bem, que este ligeiro acidente haveria de trazer maiores complicações.
De tal forma tem sido verdade que, mesmo medicado, tenho sentido dores horríveis. De tal forma que, não obstante ser um resistente à dor, desta vez percebi que a dor física existe.
E no meu caso particular em doses "cavalares". Jamais imaginei sentir-me assim e obviamente escrever este texto!
A Golimix respondeu a este texto com um comentário que abaixo transcrevo (com a devida e natural vénia e agradecimento). É um exemplo como aceitar está intimimamente ligado a... lutar. E unida outrossim ao inconformismo.
Eis o naco de bela prosa:
Sabes também eu sofro de um problema de saúde. Se procurares por dor no meu blogue encontras alguma coisa. Já falei para aí uma três ou quatro vezes no assunto. Isto para te dizer que a vida torce-nos as coisas e cabe-nos fazer a tal limonada com os limões, ou seja a aceitar e lutar com as armas que se tem. Ou então ficar azedo e resmungar.
Aqui há uns dias uma colega de trabalho, que só está há dois anos no serviço, não sabia que tenho dor crónica. Sabia que tenho alguns problemas com o braço mas só. Na conversa comigo ele perguntava espantada. - Mas tens dor 24 horas por dia? - (eu) Sim. Alguns momentos mais suportável e outros menos. - Mas como é que consegues não demonstrar, e mesmo assim fazeres por trabalhar, arranjares maneira de sorrir e tudo? - (eu) Se a dor estiver no suportável consigo, já que não me adianta absolutamente nada dizer que tenho dor, pensar que tenho dor, e viver para essa dor. É ela que vive comigo, não eu com ela. Aceito-a. Mas não gosto dela, tento livrar-me dela com vários tratamentos mais invasivos. Um dos quais, da última vez, correu muito mal e em vez de descer na escala de dor subi e esta passou ao insuportável todo o dia atirando-me outra vez para casa. Deprimi uns dias. Claro! Foi uma grande pancada que levei depois de uma luta enorme para chegar onde cheguei. Mas tive que erguer a cabeça aceitar e lutar.
Aceitar não é conformar, é viver com algo sem rancor, sem vingança, sem raiva. E lutando sempre pelos nossos sonhos mas com o coração limpo.
E em psicologia de dor, na consulta de dor, é uma das primeiras técnicas que se trabalha. Aceitar a dor.