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Espaço de reflexões, opiniões e demais sensações!

Espaço de reflexões, opiniões e demais sensações!

A nossa saúde!

Nunca me foi atribuído um médico de família. Mas felizmente também não necessito!

E escrevo isto sem qualquer ponta de arrogância. Digo que em termos médicos todos os portugueses deveriam ter acessos a cuidados médicos como eu tenho.

Muitos dirão que sou privilegiado, outros um sortudo. Eu digo que não sou nem uma coisa nem outra, se bem que aproveite o direito que me assiste em usar serviços médicos privados a valores mais baixos.

Trabalhei efectivamente e a descontar mais de 41 anos. No entanto uso muito pouco os serviços hospitalares do Estado e raramente frequento os Centros Clínicos públicos. No fundo sou menos um nas filas a requerer uma consulta ou a solicitar a prescição de um qualquer medicamento.

A minha antiga actividade laboral durante mais de 37 anos ligada à Banca tem outrossim a oferta de serviços de saúde, mas que eu... também não uso.

Tudo isto para dizer que uso amiúde os serviços prestados por unidades de saúde privadas, mesmo que aqueles sejam pagos. Como diz o povo "vão-se os anéis ficam os dedos" eu prefiro gastar dinheiro em entidades onde sei que serei atendido de forma célere e também competente.

O que me custa em termos de prestação de serviços de saúde é que não tenhamos nos hospitais públicos uma organização como há nos sistemas privados.

Tenho consciência que tudo custa muuuuuuuuuuuuuuuuito dinheiro e o Estado não pode nem deve esbanjar o pouco que tem. Porém uma boa organização com poucas gorduras e a pagar melhor ao pessoal médico faria com que este não abandonasse os serviços públicos por troca com os privados.

A minha idade sanduiche!

Há alguns anos alguém me dizia que muitos de nós vivemos em modo sanduiche, já que por cima estão os pais com os seus problemas e por baixo os filhos com situações obviamente diferentes dos antecessores, mas ainda assim com problemas que acabam também por nos afectar!

Dito isto declaro que nesta altura gostaria de ter uma vida mais tranquila do que aquela que tenho, especialmente porque estou sempre preocupado com os meus velhotes. O meu pai de 91 anos ainda se considera um homem valente, já que gosta muito pouco ou nada de ser limitado na sua vida ainda autónoma. Porém os seus rins já não trabalham como deveriam e está por isso entregue aos cuidados da hemodiálise três vezes por semana. Uma situação que o coloca preso e dependente de tratamentos hospitalares e isso aborrece-o olimpicamente. 

A minha mãe de 85 começa a dar sinais evidentes de uma arterioesclerose preocupante. Esquece-se onde deixa as coisas e das conversas tidas, principalmente comigo. Mas ainda consegue tomar conta de si de forma razoável!

Ora sendo eu filho único e estando eles na aldeia a 120 quilómetros da minha residência, estou sempre com o coração nas mãos temendo que algo de mal lhes aconteça. A verdade é que ambos sentem que conseguem viver a vida sozinhos e sem ajuda, mas é a mim que me bate o coração mais apressado sempre que a minha mãe me telefona. Nunca sei o que virá daquela conversa. Até agora as coisas, não obstante não serem perfeitas, ainda se vão resolvendo.

Mas não sei até quando!

E se amanhã...

... eu não acordasse?

Uma questão difícil de responder, especialmente por aqueles que vivem próximo de mim!

Por este lado diria que seria uma sorte danada. Deitar-mo-nos na nossa cama a pensar, sonhar, ansiar pelo dia seguinte para depois adormecer e não mais acordar.

Seria como sair a sorte grande. Julgam que brinco mas é a verdade nua e crua.

Basta reparar em tanta gente que conhecemos com tamanha vontade de viver que sujeitam-se a terapias horríveis só para andarem por cá mais uns dias, semanas, meses, todavia com um elevado custo físico e psicológico. Para no fim ir embora como todos os outros.

Tudo resumido: será que valeu a pena o sacrifício? Jamais o saberemos.

Lido bem com a minha morte. Muito bem mesmo. Obviamente preferiria fosse mais tarde que mais cedo, mas felizmente não mando nada.

Estou neste instante num consultório a aguardar a minha consulta pré-operatória à próstata. Ao meu redor outros cavalheiros... Uns mais velhos outros mais novos, mas todos com um ar de desgraça acrescida.

Sinceramente não gostaria nada de chegar a este nível.

Preferira mesmo não acordar no dia seguinte.

A dor da memória

Sinceramente não me recordo quando nem como nos tornámos amigos. É certo que na aldeia é fáci fazer amigos e muito mais fácil criar inimigos.

O António Ambrósio foi durante muitos anos imigrante em terras gaulesas. Como muitos outros na aldeia. Certa madrugada encontrei-o na padaria do Manuel em amena cavaqueira. Bebemos nessa manhã, cada um o seu café enquanto o padeiro ia dando conta do meu pedido.

O Tonito como muitos o chamavam tinha conjuntamente com o irmão Zé uma horta por detrás da minha casa. Ainda antes de ir à padaria passava muito cedo pelo chão, libertava as galinhas e enchia os comedouros dos porcos.

O curioso é que sempre que passava à minha porta no seu chaço e sabendo que eu estava na aldeia (bastava ver a minha carrinha estacionada perto de casa!!!) apitava, assim como quem diz: acorda que há um café para beber! Algo que a princípio me irritava e mais tarde me divertia.

Foram anos nisto... Até que da última vez confidenciou-me: deixei a França, definitivamente. Tenho um cancro e vim para morrer em Portugal.

Foi um murro no estômago que recebi. Depois encorajei-o com as palavras que não soube escolher e muito menos dizer. De vez em quando telefonava-lhe para saber como estava, mas senti-o a definhar.

Ontem regressei à aldeia beirã e encontrei, por acaso, o irmão Zé! Conversa para aqui, conversa para ali, acabei por lhe perguntar:

- E o teu irmão António?

- Oh esse já foi!

Já imaginava este desfecho! Mas custou entender esta dura realidade.

Assim no próximo Outono já não irei escutar a buzinadela madrugadora vinda do chaço do António. Nem beberei o café quente!

Somos feitos de memórias é certo, mas algumas doem mais que a realidade.

Boa campanha sem sucesso?

Hoje no restaurante onde almocei com a família mais próxima havia um quiosque de venda de jogo. Mas sem clientes na altura.

No entanto em cima do balcão havia um panfleto a alertar os apostadores para o perigo do jogo.

scml_aviso.jpg 

Não sei quando principiou esta campanha, mas concordo definitivamente com ela.

Porém...

Este panfleto, por dentro, tem uma série de questões tentando identificar o problema de cada apostador viciado. Com indicações de contactos para o caso de responder afirmativamente a quatro ou mais questões.

A ideia será de os apostadores o fazerem, de forma muito responsável, evitando com isso diversos problemas financeiros e sociais.

No entanto ponho em sérias dúvidas se os apostadores mais viciados respondem com sinceridade às questões. Como se sabe a negação peremptória de um determinado vício será a primeira defesa de um viciado.

Reafirmo que a iniciativa tem muito valor, mas desconfio da sua eficácia!

Um triste desejo!

Já o disse algures que o pior que se pode desejar a alguém que gostamos muito... é que ela morra. Esta é uma daquelas assumpções que ninguém gosta de assumir, mas a realidade por vezes é tão horrível que apenas sentimos isso.

Neste momento a minha sogra está entregue aos cuidados paleativos e vai sobrevivendo nem se sabe como. Está profundamente demente, vai para uns anos largos ao que lhe adveio em 2022 um tumor maligno num peito. Sujeita a cirurgia esta não teve o resultado mais desejado e no início deste ano andei com ela em diversas sessões de Radioterapia, não para curar a doença, mas unicamente para lhe dar a mínima qualidade de vida.

Todavia as coisas estão demasido evolutivas e neste momento o melhor mesmo para ela e para a restante família é que partisse de uma vez por todas.

Hoje a filha foi, mais uma vez, visitá-la ao lar onde reside desde 2021. Profundamente prostrada aguarda apenas que Deus se lembre dela. A minha mulher quando saiu do lar não conseguiu evitar uma lágrima enquanto desabafava: porque não parte ela? Sofre ela e sofremos nós!

Este é um triste desejo.

Porque a morte não escolhe dia nem hora. E eu que ainda não estou convicto da eutanásia, aceitaria neste caso presente a sua administração.

Eu sei que a minha sogra de 93 anos é ainda um ser vivo, mas há muito que deixou de ser alguém vivente!

A vida é uma luta!

Escrevi há muitos, muitos anos um poema que tinha o título deste postal. Na altura as minhas lutas, bravatas, demandas eram bem diferentes das que ouso hoje assumir.

Neste meu já longo caminho cruzei-me com muita gente e cada uma das pessoas via a vida e o mundo de forma diferente. O que para uns parecia ser um problema para outros seria uma solução e vice versa.

Lidei com seres bem corajosos outros menos. Uns mais afoitos outros nem por isso. Todavia com todos eles aprendi algo.

O meu amigo e colega Fernando foi um dos que me ensinou mais do que devia, mais do que aquilo que eu gostaria de aprender, mais do que ele teria gosto em ensinar-me. Aos 35 anos foi diagnosticado com Esclerose Múltipla. Durou quase vinte anos num caminho sempre em queda.

Ajudei-o muitas vezes, muitas, muitas. Mas dele recebi sempre uma força e uma coragem inesquecível, quando deveria ser o inverso. Fervorosamente católico disse-me uma vez: só tenho de agradecer a Deus por me dar uma doença que consigo suportar.

Há neste nosso mundo, demasiado truculento, muita gente assim corajosa e que perante uma doença má (como se existissem doenças boas!) parte para a luta como se fosse um duelo medieval. Se bem que com armas e métodos diferentes. Muitos outros, perante certas maleitas que lhe caem nas mãos preferem carpir mágoas, chorar muito e lutar quase nada.

Por tudo isto é que aqueles que perante um facto menos bom partem para a luta, não dão descanso a quem os atormenta, desafiam os limites da paciência e da coragem são uns lutadores, guerreiros da vida, samurais do impossível.

O Cúmplice é um destes homens. Tenaz e teimoso (no melhor sentido!) enfrentou a sua doença com tudo quanto tinha e não tinha. E venceu!

Com o estoicismo dos que nunca deitam a toalha ao chão. Companheiro... és um vencedor, daqueles que o mundo gostar de medalhar e eu gosto de homenagear!

Finalmente parabéns pelos 15 anos deste teu blogue.

A gente lê-se por aí!

Santo António!

O meu pai chama-se António. Tem 91 anos. Viveu uma vida recheada de viagens por terras de África e não só. Navegou por muitos mares, muitos deles já navegados, umas vezes em mar chão, mas a maioria em malagueiro.

Nunca enjoou!

Na próxima segunda feira inicia mais uma aventura. Passará a receber no seu já idoso e gasto corpo o primeiro tratamento de hemodiálise. 

Não imagino como virá do Hospital nem mesmo como se sentirá!

Olho para ele, os cabelos brancos como neve e diferentes traços de que a idade passou por ele. E dói-me o coração só de imaginar o estado em que chegará a casa.

Todavia esta noite, véspera de um Santo de Lisboa e de Pádua, sinto que o meu pai é o meu verdadeiro e genuíno Santo António!

Coragem meu pai, coragem!

Escrever: a minha doença preferida!

O lema deste meu blogue é "Escrever mesmo que a mão me doa".

Quem me diria que há 12 anos quando o abri para ser "apenas" o fiel depositário de uma escrita mais elaborada, aquele se tornaria um veículo muito mais importante do que imaginei. Para ajudar a escrever o lema daquele espaço lembrei-me da frase da Amália Rodrigues (não sei a frase original é dela, mas sempre ouvi como sendo) que cantaria "até que a voz me doa". Com uma ligeira modificação tirei o substantivo voz colocando a mão e troquei a preposição (até) por um advérbio (mesmo).

A verdade é que passados esta dúzia de anos as minhas mãos não se encontram nas mesmas condições às daquela altura. Sofro de um problema denominado "dedo em gatilho" que me limita especialmente os dedos, pois consigo fechar uma das mãos mas para a abrir necessito quase sempre de ajuda da outra mão.

Contudo nada disto já me impediu de trabalhar. E curiosamente é no portátil quando escrevo que as mãos me doem menos. Já consultei um médico da especialidade que me aconselhou aquele medicamento que já uso com frequência, mas que o INFARMED ainda não deve ter registado e que dé pelo nome de... aguentocaína.

Algumas vezes receio pegar em objectos mais pesados ou frágeis pois posso correr o risco de os deixar cair, com as consequências inerentes ao acto!

Posto isto diria que escrever será, de tudo o que faço diariamente, o menos violento para as minhas mãos. Todavia pode ser complicado para a minha cabeça que trabalha quase sempre em excesso de velocidade.

Boa semana e portem-se... como quiserem!

A gente lê-se por aí!

Sven-Goran Eriksson: o gentleman... sueco!

Como adepto de futebol e sócio de um clube tenho por hábito dizer que neste grande desporto nem tudo é válido para se ganharem jogos e obterem troféus. Assumo mesmo que há momentos tristes e impensáveis. Como os há fantásticos.

E não é por adepto ser deste ou daquele clube que não tenho consciência desportiva. Mas isto sou eu e certamente não obrigo ninguém a ser igual.

Um dos enormes senhores do futebol, de 76 anos, é ainda Sven-Goran Eriksson. Pelo que li, há uns meses assumiu publicamente a sua doença, um cancro do pancrêas em fase terminal.
Tendo passado, na sua carreira como treinador, por um conjunto de grandes clubes europeus, ainda assim disse que gostaria um dia de treinar o Liverpool, clube de sempre do seu coração.

No sábado passado teve essa oportunidade num jogo entre velhas glórias de Liverpool contra outras tantas do Ajax, clube dos Países-Baixos.

Foi recebido em apoteose, em Alfield Road, sob uma salva de palmas dos adeptos ingleses presentes. Mais uma vez os súbditos de Carlos III a mostrarem porque são pessoas diferentes dos demais adeptos, nomeadamente os latinos.

Eriksson agradeceu a concretização de um desejo.

Um gentleman será sempre um gentleman e será reconhecido por isso, aquém e além fronteiras.

Neste derradeiro desafio do treinador sueco, entre a saúde e o cancro, sabemos de antemão quem perderá. Todavia desejo sinceramente que tal só aconteça daqui a muuuuuuuuuuuuito tempo. É que o Mundo será sempre melhor com gente como Sven-Goran Eriksson!

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