Há quem considere que ter muito dinheiro seria a felicidade completa. Outros prefeririam ter uma enorme casa (sem ninguém para lá colocar dentro) e outros ainda ter aquele carro todo xpto.
Portanto... ter algo! Dinheiro e mais dinheiro, coisas, casas, carros... Tristezas, acrescento eu.
A felicidade é uma bóia na vida de cada um de nós. Sobe e desce conforme vamos caminhando, mas nunca se afunda independentemente do estado do mar das nossas vidas.
Hoje fui à primeira consulta pós-cirurgia. O médico que me operou recentemente aprsentou-me o resultado da análise, (uma HBP - Hiperplasia Benigna da Próstata) o que em termos reais quer significar que não é canceroso. Mas a forma estusiasmada como o cirurgião o comunicou fez-me ainda mais feliz, porque senti que foi sincero ao dizê-lo. Parecia que estava a falar dele mesmo.
Foi um momento singular, único de felicidade pura e genuína. Que dinheiro nenhum do Mundo conseguiria fazer acontecer!
Há muitos anos costumava dizer aos meus colegas e amigos: sempre tive bom gosto, mas faltou-me sempre o dinheiro para o provar.
Curiosamente um destes dias vi "en passant" numa qualquer série televisiva uma senhora a dizer: que o relógio e os sapatos definem um homem!
Quanto ao relógio estou plenamente de acordo desde que não seja um daqueles "cachuchos" com 1 milhão de pedras preciosas e pesado como a consciência de muitos. Quanto aos sapatos... continuo a preferir o calçado luso que sempre mostrou ser melhor que o estrangeiro.
Isto para dizer que o dinheiro tem sido o pior mal de toda a humanidade! Desde sempre. O vil metal compra casas, carros, relógios ou sapatos. Mas compra também ideias e consciências. No entanto não compra a vida por inteiro. Talvez por isso os cemitérios estão repletos de gente convencida do contrário!
Ora por ter receio de um dia vender a minha alma ou consciência por uns estúpidos euros, prefiro ter a certeza que a minha verdadeira riqueza está naqueles com quem lido, sejam eles família ou imensos e bons amigos.
O dinheiro serve naturalmente o nosso bom gosto, mas deveria servir, acima de tudo, o nosso bom viver... com os outros!
A idade ensinou-me a discernir que a vida tem muito mais de jogo que qualquer boletim impresso e atirado para uma máquina numa vã esperança que aquela se altere! Como num passe de ilusionista.
Hoje de manhã fui a uma pastelaria comprar pão e o local de pagamento deste é também um quiosque de jogo. À minha frente uma idosa gastou uns parcos euros por qualquer coisa que terá comido e alguns euros em troca de jogo.
Estava eu a assistir a esta troca de dinheiro por esperanças, jamais concretizadas, quando reparei neste aviso.
Logo ali fiquei com a ideia de que a SCML deve viver longe da actual realidade do povoléu, pois deveria também proibir o jogo a quem tivesse mais de... 81 anos.
Dir-me-ão alguns de vós que há muita gente com aquela provecta idade bem autónoma e capaz de decidir sobre se deve (ou pode) ou não jogar! De acordo!
Da mesma forma haverá gente com menos de 18 anos com essa igual capacidade, tal como há quem tenha 30 ou 40 anos e não consiga controlar-se...
Curiosamente nestas mini férias na ilha das Flores deu-se o seguinte caso: entrei num café para beber algo que me refrescasse e dei conta que o dono estava de telemóvel assente em cima do balcão a jogar num casino "on-line".
Em tom de brincadeira perguntei:
- Está a jogar a sério?
- Claro, senhor!
- Já ganhou alguma coisa?
- Nadinha!
Naquele instante apeteceu-me dizer muita coisa, mas apenas encolhi os ombros e paguei a minha despesa.
Depois do que aconteceu esta manhã fui à minha carteira e retirei de lá uma nota de cinco euros que coliquei junto a outras de igual valir e que tenho guardado desde há muitas semanas. De certa forma é como tivesse também jogado, semanalmente, numa qualquer raspadinha ou euromilhões.
Certo, certo é que fiz a conta certa! Cem notas de cinco euros que perfaz a módica quantia de quinhentos euros que poderiam não existir se também jogasse.
A vida, como disse no início deste postal, é realmente um jogo. Umas vezes fácil, outras vezes demasiado perigoso.
Seria bom que pensássemos nisto. Nem que fosse de vez em quando!
Faz por esta altura meio século desde que comecei a trabalhar. Tinha 14 anos, andava na escola e acabara de chumbar, o que hoje será o oitavo ano de escolaridade.
Durante o ano lectivo e perante as más notas que iam aparecendo o meu pai foi-me ameaçando de na eventualidade de perder o ano, teria de ir em busca de trabalho. No final do terceiro período estava reprovado e fui logo no dia seguinte em busca de algo para fazer.
Acabei por ir parar a um café que abrira recentemente no centro do jardim da Cova da Piedade e onde fiquei dois longuíssimos dias simplesmente... a lavar loiça. Depois o meu pai acabou por me retirar de lá já que os horários eram demasiado longos. Num dos dias entrei às sete da manhã e saí já passava da uma da madrugada.
Todavia, por aqueles dois dias de trabalho recebi... 80 escudos ou 40 cêntimos no dinheiro actual!
Quando por vezes me recordo desse dinheiro ganho, como aconteceu hoje, pergunto-me: a quanto poderá corresponder hoje aqueles 80 escudos?
Quando iniciei a trabalhar e a ganhar algum dinheiro não tive o cuidado nem conhecimento de gerir as minhas próprias finanças. De tal forma que antes do final do mês já metia vales... à minha mãe!
Ao fim de uns meses acabei por arrepiar caminho e iniciei um controlo apertado sob as minhas finanças. De tal forma que consegui que o dinheiro começasse a chegar até receber novamente. Filosofia ou postura, conforme lhe queiram chamar, que mantive até aos dias de hoje.
Diria mesmo mais... hoje uso um estratagema que me inibe de gastar dinheiro. Simples e eficaz. Tão simples como ter uma nota alta na carteira. Se na carteira usar notas de 10 ou 20 euros é certo que desaparecem num abrir ou fechar de olhos. Todavia se tiver uma nota de 50 ou 100 euros fico muuuuuuuuuuuito mais inibido em gastar esse dinheiro.
Também tenho perfeita consciência que os cartões de débito e essencialmenteb de crédito não deixam ninguém à mingua (só em casos extremos!). Ou como diria o meu sábio avô: "Dinheiro no bolso não consente misérias"!
Hoje muitas famílias vivem muito acima do que ganham. No entanto não se coibem de gastar sem parar! Com a inflação a subir, o aumento das taxas de juro das casas e dos créditos ao consumo, mais apertados vão ficando os orçamentos familiares.
As pessoas necessitam de ser esclarecidas, de ser alertadas para que não empenhem somente a casa mas o próprio futuro.
Gosto muito de relógios. São peças deveras interessantes com mecanismos alguns muito complexos e a maioria dos bons objectos extremamente caros.
Não sendo eu propriamente um coleccionador ainda assim tenho diversos. Desde relógios de pulso, parede, de secretária, despertadores ou simplesmente decorativos.
Mas há um de uma determinada marca que eu gostaria de ter. Todavia agora sem vida social ou laboral pouco uso lhe daria porque não me estou a ver a usar um relógio de 5 mil euros enquanto cavo a horta.
Entretanto hoje enquanto pesquisava algo encontrei um relógio da tal marca por um valor exorbitante. Mais de um milhão e 200 mil euros. Uma pechincha... para alguns magnatas!
Não sou nem nunca serei abastado (porque rico sou em outras coisas que não são objectos!), mas se fosse jamais compraria um relógio por aquele preço.
Os relógios serão sempre uma paixão. Todavia neste caso muuuuuuuuuuito cara!
Este texto com quase um ano foi destaque aqui na SAPO e originou até uma iniciativa por parte da plataforma.
O curioso é que já por mais de uma vez nos últimos tempos, encontrei cêntimos no chão, que apanho sem vergonha nem pudor. Moedas que trago para casa e deposito num pequeno mealheiro (ou migalheiro, como dizem na aldeia onde fui criado!!!).
Meia dúzia de cêntimos pode parecer pouco dinheiro e é! Só que há coisa de uns meses estava eu à porta da farmácia onde me costumo aviar para comprar uns medicamentos e à minha frente uma mulher com aspecto andrajoso. Não imagino que idade teria, mas apresentava-se mal conservada fosse qual fosse a idade, O cabelo em desalinho, muito magra, quase sem dentes, tinha na mão uma pequena bolsa com um fecho de correr.
Percebo que começa a retirar moedas da bolsa e a contá-las. Imaginei que fosse para saber se teria dinheiro para a compra que iria fazer.
Já ambos dentro da loja oiço este diálogo:
- Quanto é?
- Três euros e cinquenta e nove cêntimos.
- Ah... então não levo... só tenho três euros e cinquenta e três cêntimos...
A técnica da farmácia ia já recolher o medicamento quando eu disse à empregada:
- Dê-lhe o remédio que eu pago a diferença.
A cliente virou-se para mim e disse simplesmente:
- Obrigado senhor - e saiu levando o remédio.
Fiquei logo a pensar nos tais cêntimos que achara... mais que não fosse já haviam servido para ajudar a pagar aquela conta.
Mas a estória náo termina aqui já que hoje fui a uma grande superfície fazer umas compras rápidas. Pão, iogurtes, fruta, queijo. Após ter estacionado encontrei um carro de compras que estava solto dos outros. Peguei nele e fui fazer as compras.
Já de regresso voltei a colocar o carro onde o havia encontrado, mas com a diferença de o prender aos outros...
Bingo, jackpot, tzarammm! Recebi uma moeda de euro... Isto é alguém abonado destrancou o carro com um 1 euro e nem se preocupou em colocar o carro no sítio devido.
Aproveitei eu!
(Pode ser que um destes dias alguém precise que lhe ajude a pagar uma conta na farmácia!)
Em Fevrereiro deste ano coloquei aos leitores neste postal uma questão que me pareceu pertinente, tendo em conta o que me acontecera nesse dia.
A realidade é que continuo a achar moedas no chão, essencialmente cêntimos, o que equivale dizer que as pessoas olham para esta moeda com algum desprezo e quiça mesmo descuido.
Aproveito este tema para fazer a ponte para o que aqui me trás hoje e que se prende com a ileteracia financeira (expressão ora tão em voga!!!).
É certo que durante muitos anos ninguém falou ou escreveu sobre a (in)capacidade de muitos em lidarem ou gerirem os seus dinheiros. Este total desconhecimento acabou por criar num futuro mais ou menos curto, graves problemas às pessoas e respectivas famílias.
O "gastar vamos" surgiu assim como catapulta para muitas falências familiares, com as respectivas consequências de perda de casa, carro e até emprego.
Hoje há uma maior preocupação por parte das entidades reguladoras em chamarem à atenção aos que olham o dinheiro como algo que existe para esbanjar em vez de poupar. Até as instituições financeiras tentam salvaguardar-se obrigando os devedores a apresentarem reais garantias de pagamento em vez de meros jogos de intenções como foi outrora.
Ser "maltês de bronze, ganhar dez e gastar onze", como soi dizer-se, é muito fácil. O que custa é pagar as dívidas e honrar os compromissos. Para isso é necessário ter consciência que não se pode gastar mais do que se ganha ou recebe!
Seria bom que ensinássemos já as nossas crianças a gerirem os seus próprios e parcos dinheiros! Talvez assim um dia possam também gerir melhor o nosso país!
Percebo que num país onde a média no salário nacional bruto em 2020 não chegou aos 750 euros os mais pobres anseiem por mais dinheiro para terem uma vida mais digna, como lhes é conferido constitucionalmente logo no primeiro artigo.
Porém a Constituição diz uma coisa, mas a realidade na sociedade portuguesa acaba por ser bem diferente, o que leva a muita gente procurar, quiçá de uma forma mais fácil, aquilo que não conseguem diariamente.
Ora bem, um destes dias, e tendo em conta alguns sorteios de valores estupidamente elevados, perguntaram-me o que faria se fosse o feliz comtemplado. Fiquei a pensar e só soube responder:
- Não sei o que faria, mas sei certamente o que não faria!
É nesta capacidade de perceber o que o dinheiro faz das pessoas é que reside o grande cerne desta questão monetária. A maioria das pessoas em Portugal não entende, nem tem consciência do que é um valor com muitos zeros.
Relembro a este propósito a primeira vez que entrei numa casa forte na tesouraria onde trabalhei perto de 15 anos. Nunca tinha visto tanto dinheiro de uma só vez. Passada a primeira semana aquilo era somente papel.
Já me chamaram também a atenção para estar atento aos dias 8 de cada mês, nos quiosques ou papelarias onde se vende jogo, principalmente raspadinhas. A fila de idosos é enorme nestes dias, que após receberem a sua pensáo vão ali testar e tentar a sorte. Ainda gostaria de saber para quê? Não têm dinheiro para medicamentos, mas para o vício do jogo não falha...
Por fim não serei melhor ou pior que todos os outros portugueses, mas ensinou-me a vida que o dinheiro só tem dois verdadeiros prazeres: é saber ganhá-lo e saber gastá-lo!
Há muitos anos numa conversa normal, o meu falecido sogro (um bom homem, do melhor que já conheci!) porque estávamos a falar de fazendas rústicas, perguntou-me a determinada altura:
- Quanto acha que valerá o Ameal?
Ora este pedaço de terra fértil tem pouco mais de 20 hectares, sendo 5 de sobreiros, 10 de pinhal bravo e o resto de terra centeeira onde costuma pastar o gado ovino. Perante a questão feita assim de chofre respondi célere:
- Essa fazenda não vale nada!
Ui... o que fui dizer! Ia-me comendo em cima de um naco de pão, como soi dizer-se. Deixei-o barafustar para depois lhe explicar a razão da minha resposta. Disse-lhe então:
- As coisas só têm realmente valor se tivermos ideia de as comprar ou vender.
Ele olhou para mim ainda desconfiado e deixou-me continuar:
- Está com ideias de vender essa fazenda?
- Nem pensar... Nem com todo o dinheiro do Mundo eu venderia.
- Ora aí está... Uma fazenda sem valor. Perceba que o valor só existe realmente quando se pretende adquirir ou desfazer de algo. Até lá...
Vencido, mas não convencido acabaria muito mais tarde por dizer a outros o que eu lhe havia afirmado, percebendo onde eu pretendi chegar!
Quem estiver a ler este postal poderá pensar: mas tudo tem um preço... Estou perto de concordar. No entanto falta aquele bocadinho de um nada, que no fundo é tudo, mas que é tão nosso e para o qual não há qualquer valor que se possa atribuir.
Portanto o melhor valor que temos certo é a paixão de vivermos, o ensejo de ajudar, a alegria de acordarmos todos os dias! O resto pode ser apenas dinheiro que depressa desaparece.