Hoje dia de Carnaval com o país em alerta amarelo devido ao mau tempo, com tanto folião a veguear por essas terras eis que um homem com cerca de trinta anos me bate à porta a pedir comida para alimentar a família constituída pela mulher e quatro filhos.
Arranjei um avio pequeno, porque nestas coisas lamentavelmente fico sempre de pé atrás, e entreguei-lho. Ele agradeceu e perguntou-me se sabia onde poderia arranjar trabalho. Disse que não sabia, mas dei algumas dicas de empresas às quais poderia recorrer.
Voltou a agradecer e partiu em busca de outras portas onde bater.
Será este o país que António Costa nos oferece com tanta veemência?
Quase todos sabemos que o futebol é o desporto rei. E com a vitória no último Domingo da selecção portuguesa contra a Holanda ainda mais se exacerbou a vontade de falar só de futebol.
Aliás as televisões e jornais são obviamente muito culpadas disso. Tudo o que passa para além do rectângulo de jogo e dos seus intervenientes é de pouca relevância…
Por isso o Rui Costa ganhou a Volta à Suíça e poucos o sabem. Uma noticia aqui e ali, uma entrevista rápida na altura da consagração e pouco mais.
De Pedro Lamy e da sua vitória nas 24 horas de Le Mans na categoria LMS GTE Am nem uma notícia.
Parece-me assim que às televisões não interessa informar com seriedade e isenção, mas usar a informação mais conveniente para os seus fins, que culminam claramente nas taxas de assistência.
Nestes dias de Euro mal se ouve falar de crise e desemprego. De fome e carência. De tróica ou FMI. Tudo isto passa para outras páginas, nos noticiários das nossas vidas.
Nota - Não vou colocar nos tags deste texto qualquer referencia ao Euro 2012.
O desemprego continua a alastrar em Portugal. Pior que a gripe das aves ou a doença das vacas loucas, este flagelo tem atacado este país como um louco. E não se percebe no horizonte qualquer medida ou atitude para inverter esta situação.
Não há ninguém que não conheça alguém desempregado… São lojas que fecham, fábricas que entram em layout, empresas que desaparecem…
Por este andar Portugal daqui a uns tempos é um país fantasma. A economia morreu…
Aceitamos (ou temos de aceitar) que nos apresentem agora as facturas para pagar, de coisas que usamos vai para muitos anos, sejam auto-estradas, hospitais ou estádios de futebol. Mas não se pode exigir a um povo, que em três anos, pague essas dívidas que levaram anos a serem criadas.
Se os nossos jovens emigraram, se as nossas empresas continuarem a fechar, que sistema social aguenta tanto desemprego? Não sei se este governo é culpado, nem sei se foi o anterior. Porém alguém terá sido…
Mas uma coisa eu sei: este não é o país que eu gosto nem que eu quero para os meus filhos.
Estive para não ir ao supermercado. Já tinha o pão para o pequeno almoço, outras coisas tinha comprado no dia anterior.
Mas fui. Faltavam-me batatas e alguma fruta...
Escolhi as batatas que coloquei num saco e fiz o mesmo às laranjas. Grandes, bonitas mas sem saber se saborosas.
Estava eu na caixa quando atrás de mim surgiu um casal de mais ou menos trinta anos acompanhados de uma criança de tenra idade, 3 ou 4 anos de idade. Traziam num saco duas batatas pequenas. Só...
Olhei e achei estranho. A empregada da caixa, enquanto recebia o dinheiro que lhe havia dado para pagar a despesa, perguntou-lhes:
- Só isso?
A jovem escondeu a cara atrás do marido enquanto ele deu o corpo às balas, respondendo:
- Estamos os dois desempregados, não temos dinheiro para mais.
Tremi todo. Olhei o meu saco de compras e vi o deles. Acto contínuo disse à empregada:
- Esqueci-me duma coisa...
Dei a volta reentrando no supermercado, recolhi um saco grande de batatas daqueles já fechados e pesados e levei-o para a caixa. Paguei e entreguei o saco ao casal.