Não me dêem um desconto!
Ontem de tarde fui a duas lojas. A uma fui comprar a tinta para as pinturas cá de casa e a outra comprar óculos e lentes após uma actualização recente.
Chego à loja peço 10 litros de uma determinada cor e espero. Ao fim de cinco minutos de espera o balconista entrega-me as duas latas de cinco litros e eu pergunto:
- Quanto devo?
- São 93 euros já com desconto.
Apenas respondo enquanto entrego o cartão MB para pagamento:
- Aqui tem e obrigado!
Vou para o carro onde coloco a tinta e parto a pé para a outra loja. Aqui após escolher armações, falámos das novas lentes já que passei a usar lentes progressivas (a velhice não perdoa!).
Finalmente pergunto:
- Quanto me vai ficar tudo isto? - e apontei para os aros, como se estes já tivessem já as correcções. O patrão saca de um papel e começa a fazer contas sempre a somar:
- As armações custam 809 euros e a lente bifocal 513. Mais as outras lentes 630. Dá tudo...
E começa a somar. Finalmente:
- Tudo somado são 1925 euros. Agora aplico o desconto e fica... - um silêncio sepulcral - 1275 euros.
O choque dos quase 2 mil euros foi grande, mas o desconto seguinte de 650 euros foi realmente maior.
Bom estes dois casos são sintomáticos da filosofia do nosso país. Em vez de se ter um preço fixo e mais barato para as coisas, inflaciona-se o valor para depois, simpaticamente, se aplicar um desconto.
Se no caso do oculista eu sou um cliente muito antigo já na loja das tintas não o sou. Mas em ambos obtive um bom desconto de 35 e 55 por cento respectivamente. As grandes superfícies comerciais também já entraram, há muito, neste regime de descontos. De uma outra maneira, é certo, mas utilizam também o chamariz descontos para atrair clientes.
Olimpicamente não sou nada apologista deste tipo de filosofia de vendas. E sabem porquê? Porque fico sempre a pensar que provavelmente me poderiam ter feito ainda maior desconto.