Hoje despedi-me definitivamente da praia. Para a semana irei para longe e daí que, quase de certeza, a minha época balnear encerrou-se, por assim dizer!
Voltei à beira-mar onde, pela última vez este ano olhei o horizonte menos verde e mais cinzento, pois que o Verão... já era!
Todavia e não obstante os dias estarem mais brandos no que respeita ao calor, ainda assim estava um dia fantástico. As ondas do mar são agora altas e poderosas em contraste com a sua mansidão estival. Seja como for o mar é por vezes o meu refúgio.
Os dias e as noites sucedem-se numa cadência normal. Tal como as marés...
Espero pacientemeente o que a vida tem para me oferecer: ou nada ou tudo!
Prefiro nada... tenho menos dissabores!
A gente vê-se para o ano, praia! Se estiver vivo...
Por esta altura de Natal invade-me, de vez em quando, uma daquelas irritações que nem me apetece escrever, ler ou fazer seja o que for.
Aborrece-me as palavras de circunstâncias, as falsidades dos desejos de "Bom Natal" quando já (infelizmente) ninguém acredita nele.
Incomoda-me que alguém me saúde, nestes dias, com palavras sem (verdadeiro) significado natalício.
Chateia-me olimpicamente que me agradeçam quando nada fiz para tal, mas só porque é Natal.
Preferia que esta época tivesse menos doces e mais partilha, menos guerra e mais alegria, menos fome e mais comprometimento.
Olho para este Natal e sinto a tristeza de quem está desempregado, só ou doente.
Como posso sentir bem comigo mesmo quando me lembro dos pais que perderam os filhos, engolidos por um mar bravio. Ou dos familiares dos seis pescadores que esta semana ousaram desafiar as ondas do mesmo mar e que por lá derramaram as vida?
Como posso sentir bem comigo mesmo quando vejo tanta gente espalhada por esses abrigos de prédios, abrigar-se do frio ou da chuva?
Como posso sentir bem quando há tanta criança que não recebe um mero brinquedo porque não há dinheiro para tal?
Sou um privilegiado porque me deito todos os dias debaixo de tecto e em boa cama. Porque na minha mesa há pão e vinho. Porque tenho quem me abrace ou enxuge as minhas lágrimas.
Não sei quem lerá estas linhas... Provavelmente ninguém! Mas já nem isso me preocupa.
Só desejava que o Natal fosse, pelo menos uma vez no ano, justo! Mas nem isso consegue ser! E é pena!