Esta é infelizmente uma frase que se escuta amiúde quando se fala de alguém a quem foi diagnosticada uma vulgar "doença de cabeça" ou apenas "nervos", quando no fundo se está a lidar com uma profunda depressão.
Mais uma vez trago aqui este assunto, não só pela morte inesperada de Luís Aleluia, mas porque esta continua a ser uma doença... pouco valorizada!
Há três anos quando Pedro Lima se suicidou, voltou à ribalta a questão das doenças psiquicas. mas depressa caiu no esquecimento. Como quase sempre em Portugal.
A nossa actual sociedade não está ainda convencida que as doenças do foro psíquico são mesmo doenças... e graves! Pensam que aquilo são apenas manias, os tais nervos e outros epítetos.
Depois vêm estas tristes notícias e volta-se a acordar.... Mas infelizmente por pouco tempo. Portanto renovo a ideia de que é necessário esclarecer, explicar e alertas para possíveis casos de depressão ao nosso redor.
A ideia de que "aquilo passa-lhe" não pode nem deve ser levada em conta! Os custos desta postura quase libertina são catastróficos.
Uma das pessoas a quem enviei um livro sem ela mo ter pedido enviou-me há um par de horas o seguinte email que trancrevo quase na íntegra, com a sua óbvia autorização.
"Olá, José.
Sempre confiei no ditado popular, que diz, "quem não aparece esquece." Esquecer tem sido a minha maior dificuldade. Ser esquecida, uma pretensão. Como que para me proteger da dor de perder alguém. Diz-me uma amiga: "tu perdeste quem faleceu, nós estamos a perder-te e estás viva. Mas vamos dar-te um tempo."
E deram. Um tempo que aproveitei para me isolar completamente. Género a eremita urbana. A possibilidade de trabalhar online, fazer compras online, facilitou-me a vida. A sensação de que não me apetece ser feliz.
Não sei há quanto tempo o teu livro me aguarda na caixa do correio. Hoje tive de sair. Fizeste-me tão feliz. A sensação de "eu não mereço isto". Até chorei, mas foi um choro limpo, sem mágoa, reconfortante.
Eternamente grata. Com este gesto trouxeste-me à tona, resgataste-me de um poço a que me acomodara. As pessoas contam, eu contei para ti e não estava mesmo à espera.
Preciso de mais um tempo para arrumar gavetas, que aos poucos vão ocupando o seu espaço. Hoje mais uma se arrumou.
Jamais conseguirei retribuir este carinho. Mas nunca vou esquecer que alguém se lembrou de mim, ofereceu-me um livro, e fez-me imensamente feliz.
Vou gostar certamente. Não sei quantos livros eu tenho, este estará sempre em lugar de destaque e no meu coração.
...
Um beijinho... "
Este texto deixou-me de lágrimas nos olhos. Olimpicamente!
Tenho sido um privilegiado pois as pessoas a quem ofereci os meus livros só me mimam. Seja aqui nesta plataforma, seja nas redes sociais todos têm sido inexcedíveis. Ponto.
Só que... ao ler esta mensagem que recebi na minha caixa de mail, fiquei completamente... nu de palavras e com um nó na garganta. Porque não sei o que dizer a alguém que escreve:
"... Com este gesto trouxeste-me à tona, resgataste-me de um poço a que me acomodara..."
Talvez reconhecer simplesmente que valeu a pena publicar este livro. Não por mim nem pelo meu ego, mas simplesmente para poder resgatar esta pessoa de um fundo depressivo onde ninguém deveria estar.
Tenho de agradecer à pessoa por esta partilha e pela coragem em o divulgar. E se como diz, o meu livro jamais sairá do seu coração, creiam-me, caríssimos leitores, que estas palavras valeram muito mais que possam imaginar! Também elas nunca serão esquecidas.
Quiçá poderão ser a entrada de um futuro livro. Nunca se sabe!
Já por diversas vezes escrevi sobre as doenças mentais: aqui, aqui ou aqui.
Já em tempo de pandemia escrevi este postal referente a um jovem que era filho de um primo meu. Pois ontem soube que outra prima mais afastada de pouco mais de 20 anos, cujo nome nunca soube, suicidou-se.
Não vale a pena desenvolver mais este tema pois todos sabemos o que é a depressão e quais as nefastas consequências dela. O que provoca na vítima e naqueles com quem esta lida! É quase sempre uma batalha perdida. Mas nunca devemos desistir, nunca!
Porque no fundo, como escrevi num dos postais acima referidos, as pessoas que se suicidam há muito que estão mortas... Por dentro! E viver-se com um cadáver interior não deve ser nada fácil!
O problema é que ninguém percebe, valoriza... cuida! Especialmente se vive numa aldeia: "aquilo há-de passar - dizem."
Amanhã será dia da mãe. E entre muitas mães que já perderam filhos haverá uma que perdeu a sua filha numa guerra injusta para uma doença que não escolhe ninguém em particular.
Pois é... todos, mas todos mesmo poderemos ser abraçados por essa maldita!
Em Julho passado passado falei da depressão neste postal.
Hoje quase três meses volvidos regresso ao assunto. Não só porque não se deve esquecer os problemas, mas essencialmente porque noto cada vez mais gente e mais próximo com sintomas da doença.
No início deste mês caminhei durante cinco dias com destino à Cova da Iria para me encontrar com Mãe Santíssima. As partilhas que fui recebendo de gente que eu não conhecia revelou-me que a doença ataca onde e a quem menos se espera.
Obviamente que a peregrinação não curou algumas pessoas que se sentiam mais frágeis, mas certamente abriu-lhes outros caminhos, outras formas de estar na vida, outros horizontes...
Seguramente não serei o melhor conselheiro para escrever sobre estes casos pois não tenho conhecimentos médicos ou académicos para tal, mas tenho uma vida que me trouxe até aqui carregando, qual figura bíblica Simão de Cirene, também uma cruz... que ainda hoje carrego. Faz parte da minha caminhada... neste Mundo.
Como escrevi a depressão é uma doença que mata por dentro. E é tão silenciosa como raposa ao redor de um galinheiro!
Lidei com uma depressão há perto de vinte anos. Não fui eu a vítima, mas alguém muito próximo. Durante perto de três anos vi a que ficou reduzida uma pessoa que sempre fora (quase) hiperactiva.
As caixas de ansiolíticos e antidepressivos gastavam-se a uma velocidade estonteante, para no fundo o problema persistir.
Temos de ter consciência que as doenças mentais matam mesmo! E não só por fora, mas acima de tudo matam por dentro. Ou apresentado por outro prisma vão corroendo o interior da pessoa até chegar ao lado de fora.
Não sou psicólogo nem psiquiatra, mas tenho a ideia de que a maioria dos doentes mentais têm uma enorme dificuldade em assumir publicamente a sua doença. É costume dizerem quando perguntamos se estão doentes: eu doente? Nem pensar…
Porém quanto mais o negam mais se enterram e mais se afastam da resolução do problema.
Se esta doença tem cura? Como leigo nestas coisas do foro mental, mas com alguma experiência de cuidador, diria já que não… Pode, se o doente interiormente o desejar, conseguir lidar com as crises que vão surgindo, obviamente sempre com ajuda medicamentosa.
Diariamente constato cada vez mais pessoas afectadas com esta terrível doença. Estranhamente (ou talvez não) a começar em gente cada vez mais jovem! Seria talvez bom perceber-se o porquê!
De vez em quando há uma figura pública que agita as águas da sociedade através de um acto fatal. Fala-se e escreve-se muito na altura para passado uns dias, tudo ficar na mesma.
Quando em 2020 o actor Pedro Lima de suicidou o problema da saúde mental ou a falta dela foi muito debatido.
Li na altura muitas ideias referindo que seria necessário olhar para a "depressão" como uma doença grave com consequências muito nefastas. Todavia passado uns tempos o tema foi substituído por outros, quiçá menos importantes, mas que por qualquer razão justificavam a sua chamada.
Porém as doenças do foro mental continuam a crescer e a pandemia não só veio colocar a nu muitas dessas doenças, outrora escondidas ou dissimuladas, como fez crescer muitas mais.
Temos assim entre mãos uma mini pandemia que se vai alastrando por todos os sectores da sociedade sem, todavia, haver vacina para tal.
É que quase todos os dias chegam às nossas mãos notícias de alguém que perdeu a vida porque não conseguiu enfrentar a sua doença.
Portanto urge estar atento àqueles que nos rodeiam. Perceber os sinais, descobrir nuances, enfrentar a dura realidade que a depressão pode atacar os que nos estão mais próximos.
Nem todos estão interiormente preparados para as bizarras vicissitudes da vida.
Nunca considerei, no princípio da minha vida, vir a ser médico. Mas se alguma vez o tivesse sido talvez optasse pela especialidade de Psiquiatria.
Nem imagino o trabalho que estes médicos terão agora, levando em linha de conta esta pandemia.
A saúde mental é assumidamente muito mais grave do que à partida se supõe. Só quem passou por esta doença é que entende quão grave é, por exemplo, uma depressão. O que ela muda na pessoa e acima de tudo o que ela leva a fazer ou a não fazer...
Nunca fui dado a este tipo de doenças e até teria, provavelmente, motivos válidos para tal, mas consegui escapar, até agora, por entre os pingos desta estranha chuva. Entretanto amanhã é um novo dia e quem sabe se não será a minha vez de esparramar-me nesse antro tão negro.
Não obstante convivi directamente com essa doença na pessoa da minha mulher. E digo-vos que se ser doente não é nada fácil... o cuidador próximo estará muito longe de uns dias fantásticos.
Mas não me estou a queixar, apenas a falar da minha experiência.
Faço agora a ponte para os actuais médicos psiquiatras e aquilo que devem escutar nas suas consultas, muitas vezes percebendo que a solução passaria certamente por não haver confinamentos nem pandemias, Se os médicos de outras especialidades lutam permanentemente nos hospitais pelas vidas dos pacientes internados com Covid, também os psiquiatras tentam, quiçá, consertar, à sua maneira, as vidas de muita gente.
Vivo diariamente com alguém que está completamente senil. Senta-se à mesa come sozinha, mas é necessário colocar-lhe a colher na mão, já que faca e garfo... já era. Não tem uma conversa de jeito, por vezes não sabe onde está e assusta-nos deveras quando num segundo está sentada na sua cadeira, para no segundo seguinte estar de pé em busca de qualquer coisa que nunca sabe o que é, arriscando-se tantas vezes a cair...
A verdade é que os 90 anos não ajudam. Junte-se uma profunda depressão que durante muitos anos a atirou para uma cama e temos as razões para que a sua mobilidade seja agora reduzida e frágil.
Valem-lhe as filhas que decidiram estar com ela em casa em vez de a enviarem para um lar. E este que se assina como genro... também colabora.
Porém quando olho para aquela criança triste e acabrunhada, que dia a dia vai desaprendendo, fico a matutar no meu futuro e dos receios que este me trará. Por enquanto, e mesmo depois de ter estado infectado com Covid, estou de boa saúde (aparentemente!!!). A cabeça está sempre a trabalhar, nunca tive nenhum estado depressivo e nem vivo ansioso.
Só que de vez em quando olho para o quadro cá de casa e penso: e se fico assim um dia?
Este é assumidamente o meu maior temor. Não só a incapacidade de um dia ser, mas acima de tudo a incapacidade de um dia pensar e decidir.
Não obstante ser uma pessoa bem disposta, por natureza e filosofia de vida, também há dias que me apetece enfiar a cabeça num buraco e não sair de lá.
Mas depois pergunto-me: de que serviria? O problema provavelmente estaria lá na mesma quando saísse do dito buraco.
Portanto … o melhor mesmo é armar-me em toureiro ribatejano e pegar o toiro pelos “ditos cujos” e tentar resolver as coisas. Seja a bem, seja a mal.
Todos temos momentos menos iluminados na nossa vida, mas não é por isso que devemos parar de caminhar no trilho que aquela nos apresenta. Se não temos luz natural para caminhar usemos uma lamparina, lanterna, gambiarra. Da mesma forma que no inverno saímos e entramos em casa de noite, no Verão é sempre dia. Portanto há que seguir em frente… custe o que custar!
Justamente esta pandemia, que nos obrigou a confinamentos e limitações impensáveis veio mostrar quanto de nós vivíamos longe da nossa realidade interior.
Seria bom que tomássemos consciência daquela, de forma a evitar desequilíbrios e angústias futuras!
Desde há muito que acordar vivo é já para mim uma benção, uma dádiva que Deus me dá. Talvez por isso lhe agradeça tantas vezes e tenha conversas com ele que não tenho com mais ninguém.
Acredito que nada da minha vida foi fruto de um acaso ou de um coincidência. Tudo tem existido com um fim, um sentido. Mesmo os momentos menos bons. Passo a exemplificar: quando em 1999 tive o meu primeiro descolamento de retina no olho esquerdo, jamais pensei que poderia continuar a ter uma vida normal. Ora em 2012 tive um novo, desta vez no olho direito, o único com o qual fiquei a ver. A verdade é que se tivesse sido ao contrário eu provavelmente não estaria agora a escrever isto, já que a vista esquerda só tinha, antes de tudo começar, 40 por cento de visão.
O mesmo aconteeu no trabalho. Entre diversos sítios houve um deles onde fui maltratado. O que originou que eu saísse assim que pude e fosse para outro lugar onde estive muitíssimo bem.
A vida é como o mar: umas vezes manso que nem cordeiro, outras bravo que nem toiro em arena. Mas é este jogo que nos obriga a perceber onde está o bom e o mau da vida.
Vou entretanto assistindo a muita gente que não consegue conviver com as desilusões ou o desconforto da tristeza. E lamento que vivam angustiados.
Por isso creio que o melhor que a vida tem é não sabermos o dia de amanhã!