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Espaço de reflexões, opiniões e demais sensações!

Espaço de reflexões, opiniões e demais sensações!

Esquecer-me... de mim!

Diz um amigo meu que é médico que as pessoas vivem actualmente muito mais tempo que antigamente devido a três factores: as vacinas, os antibióticos e as estatinas.

Ora se vivemos mais anos, logo arriscamo-nos a ter outras doenças que antigamente não existiam. Os cancros, as hipertensões, os AVC's (sem as estatinas para evitar) e finalmente as demências.

Se para as três primeiras já há bons tratamentos, diria que para o definhamento neurológico a coisa parece estar ainda muito atrasada. Pode-se tentar minimizar os sintomas, mas quando ela dá os primeiros sinais temos de nos ir preparando para a doença caminhar com pujança.

Durante muitos anos assisti ao lento definhar da minha sogra. Os primeiros actos em que se percebeu de que algo não estava bem terá sido aos setenta e muitos anos. Para logo se ir evidenciando a descida quase vertiginosa para um estado quase vegetativo.

Agora começo a ver os mesmos sisntomas na minha mãe e num familiar mais novo que terá perto de 79 anos. Recorro à técnica que usava com a minha sogra no sentido de ninguém perceber que se repete amiúde ou se esquece do que disse um minuto antes. Sofrerão menos, digo eu!

Os anos também pesam em cima das minhas costas. E se nenhuma doença é boa, diria que a demência nas suas diferentes variantes (Alzheimer, arterioesclerose, etc.) será das piores e por isso espero e desejo que nunca seja atingido por esse maléfico síndrome.

Porque não deve haver coisa pior que alguém a determinada altura olvidar não só o presente, o passado mas essencialmente a sua própria existência.

A gente lê-se por aí!

Degradação!

Estou há uma semana com os meus pais. Desde Sábado passado!

O meu pai tem 91 anos, feitos recentemente, e começa agora a ter problemas de saúde mais graves indiciado a iniciar hemodiálise.

A minha mãe, quatro dias depois do meu pai, fez 85 anos. Pouco mais de metro e meio de uma genica única, diria eu que herança da mãe! Todavia a cabeça começa a falhar essencialmente com alguns lapsos de memória. Repete amiúde as mesmas questões e percebe que já não é a mulher de outrora.

Portanto constato um pai triste e quase inerte - o exemplo encontra-se na sua total ausência da apanhana da minha azeitona, algo que nunca aconteceu - e uma mãe que chora o seu novo estado intectectual.

Deste lado temo pelo futuro deles... Como irá o corpo do meu pai receber um tratamento tão forte? Ou como acordará amanhã a minha mãe?

Uma degradação quase galopante e que me assusta!

Profundamente!

Morrer antes de... morrer!

Sempre que vou ao lar onde vive agora a minha demente sogra venho de lá muito triste. Vou olhando aqueles idosos que por ali deambulam e fico a imaginar como estarei eu daqui a dez ou quinze anos... se lá chegar!

Farei também parte desta malta ou conseguirei ainda aguentar este conjunto de ossos de pé? A resposta não está no vento que sopra como escreveu e cantou Bob Dylan, porque feliz ou infelizmente ninguém é dono do seu futuro antes de lá chegar.

Temo, não as doenças ou as dores (já cá moram algumas e que são devidamente tratadas com aguentocaína!!!), mas a falta de discernimento e juízo. Estar vivo, mas não ser vivente é algo que me aflige profundamente. Antes a morte que tal sorte diria a minha avó e que uma vez bem antes de partir me disse:

- Deveríamos morrer sempre novos!

Na altura considerei quase uma blasfémia, mas hoje e perante o que vou assistindo ao meu redor compreendo tão bem a ideia! O pior que pode acontecer a qualquer um de nós é desejarem a nossa morte para não nos verem mais a sofrer!

Enfim... aguardemos o que a vida terá para me oferecer!

Um imenso vazio!

Todas as semanas vou duas vezes ao lar visitar a minha sogra. De 91 anos e profundamente demente, não sabe quem lhe aparece na frente. Se filhas, netos, genros ou bisnetos.

Como não sabe o seu nome nem de nenhum familiar. Não se recorda de pai, mãe ou irmãos. É um ser vivo, mas não vivente.

As filhas perante um cenário profundamente decadente e com algumas limitações físicas não tiveram outra opção senão colocá-la num lugar sem luxos, mas onde receberia (e recebe) toda a atenção e carinho devidos à sua situaçáo. Quase oito meses passados, se bem que a demencia seja cada vez mais profunda e irreversível, certo é que parece minimamente feliz... se isso se poderá afirmar já que não tem qualquer consciência do que é a felicidade, muito menos de quem foi ou onde se encontra.

Observo este triste cenário e fico muitas vezes a pensar quantos anos me restarão para chegar a este estado? Sinceramente prefiro partir antes de tal fado. Que Deus se compadeça deste pobre...

Limito-me, e para terminar, evocar uma frase recorrente nestes casos: o que fomos e no que nos tornamos!

Uma verdade que é a assumpção de um imenso vazio.

Um mundo paralelo!

Um amigo faz hoje anos. Não comemora o seu aniversário porque já nem sabe em que dia estamos. De um momento para o outro a demência atacou-o, deixando-o profundamente dependente de outros.

Homem de esquerda, poeta, escritor, músico, jurista de profissão era uma mente brilhante. Como responsável por uma área jurídica, conseguia em três frases simples, concisas e assertivas dar um despacho que ainda hoje, alguns anos volvidos, muitos ainda se recordam e que ficaram célebres!

O ano passado ainda lhe liguei para o telemóvel, mas já náo soube quem eu era. Por isso hoje nem lhe disse nada. Não valeria a pena.

Eu sei que ele já não sabe o valor da amizade. Mas eu sei. Não o esqueci durante todo o dia e daí estar a escrever este postal. Porque ele merece.

Obrigado A. por tudo o que me ensinou e pelo exemplo de discernimento e verticalidade que sempre o caracterizaram.

Eu sei que já me olvidou pois vive nesse seu mundo paralelo à realidade, mas eu jamais o esquecerei.

 

Noventa anos!

Hoje a decana cá de casa fez noventa anos. Nem se apercebeu de tal já que a cabeça dela, vive por esta altura e desde há uns anos, num mundo paralelo.

A minha sogra não sabia que fazia anos, mas sabíamos nós! De tal forma que se comprou um belo ramo de flores e um bolo, ajeitou-se um jantar um pouco diferente dos outros dias e comemos todos. Alguns netos incluídos. E não foram todos porque as crianças têm de se deitar cedo.

Não imagino a que idade irei chegar, mas não gostaria de chegar muito longe sem juízo. "Antes a morte que tal sorte" como me dizia em tempos alguém próximo.

Na altura achei um exagero a expressão, mas hoje percebo que esta mulher que tanto trabalhou, que tanto lutou está viva, mas não vive.

Uma tristeza!

Todavia não lhe falta nada. Rigorosamente nada! E tal como a bisneta é tratada com o mesmo esmero e carinho.

É por estas e por outras que por vezes temo o meu futuro!

Desejo versus realidade

Normalmente tenho mais receio da vida que da morte. Sei que esta é certa e que a partir dela não tenho mais nada com que me preocupar. Ufa ainda bem!

Por isso a vida surge-me com alguns temores e muitas dúvidas. Entre muitas a maior delas é perceber como chegarei (se lá chegar!) à verdadeira velhice.

Se fisicamente seremos quase sempre reféns dos excessos que agora vamos cometendo o que conta para mim é ter real consciência do meu estado e das minhas limitações.

Sei que há muita gente que não lida bem com a idade nem com as normais fragilidades que os anos trazem. Nem tem a ver com a educação, formação ou outro palavrão qualquer... mas unicamente com o imo de cada um de nós.

No meu caso temo que chegando à altura da velhice tenha falhas de memória, incapacidades de raciocínio e, pior que tudo, que perda o dom de falar com lógica.

Convivo diariamente com alguém com quem já não se consegue ter uma conversa normal. As palavras soletradas têm significados diferentes e é necessário quase um tradutor. Não há discernimento lógico nem verbalização do que se pretende.

Numa palavra tudo isto corresponde a... senilidade.

Não considero que seja propriamente uma doença mas o resultado do envelhecimento de uma pessoa.

De forma a poder evitar este tipo de demência assumo de forma realista e coerente que preferiria viver menos uma boa dezena de anos a ter que ficar profundamente senil!

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