O título deste postal sugere que fale da plantação de árvores que um dia darão... dióspiros. Porém estão longe da verdade.
O meu dióspireiro após um Verão muito ventoso aguentou nos seus ramos três dúzias de belos frutos, que já amadureceram.
Este fruto fez-me lembrar um estranho artista plástico/sonoro João Ricardo Oliveira que teve num dióspiro que caiu duma figueira, quando o agora artista era jovem o seu momento de descoberta para a arte.
Em 2012 a cidade de Gumarãos foi a Capital Europeia da Cultura... mas não só de dióspiros (ver minuto 9.20).
Temos a (errada) ideia de avaliarmos os outros países pela matriz com que nos regemos no nosso. Todavia olvidamos o que para nós pode ser algo impensável, em outras culturas tudo é viável e naturalmente bem aceite.
O Afeganistão (que eu nunca visitei) parece ser um desses países onde a cultura e a religião fanática se juntam numa mistura, no mínimo, explosiva.
Para além dos preceitos religiososs muitos ortodoxos seguidos pelos talibãs, há algo que me incomoda e que se prende com a forma como lidam com as mulheres. Estas são autêncticas escravas de homens sem qualquer conhecimento da realidade mundial. Sei que para além da questão religiosa esta maneira pouco humana de tratar as mulheres se prende essencialmente com uma cultura, que é no mínimo selvagem. Nem os animais tratam as suas fêmeas da mesma maneira que os guerreiros talibãs-
O lado ocidental apenas pode denunciar as atrocidades... já que pouco mais pode fazer.
Mas nisto tudo o estranhamente curioso foi ler alguma esquerda lusa a regozijar-se com a saída dos americanos do Afeganistão, olvidando o estado em que ficaram as pobres das mulheres afegãs.
Nunca me assumi racista, bem pelo contrário, já que desde muito novo, praí com cinco ou seis anos, tinha todas as semanas o Augusto e o Seninho, dois guineenses, à mesa para almoçar.
Adorava estar com eles e aprendi com aqueles e outros guineenses a gostar, por exemplo, de piri-piri. Daquele bem forte!
Vamos então ao que aqui me trouxe… e o que vou contar é uma estória verdadeira.
Há muitos anos um antigo colega correu para a maternidade para que a mulher tivesse o filho. Um rapagão.
Já em casa o casal começou a perceber que a criança não era branca, branca como o pai e a mãe. Isto é, uma troca de crianças havia acontecido na maternidade já que um outro casal acabara de receber uma criança loira e de olhos profundamente azuis.
Após muitas batalhas jurídicas e buscas pelo Mundo fora, o meu colega descobriu o verdadeiro filho fora do país. Curiosa e culturalmente… muito africano!
Esta foi a estória, agora a minha ideia.
Continuo a achar que os portugueses, normalmente, repito normalmente não são racistas. Pois se o fossem provavelmente os chineses e os indianos sentiriam essa força e nunca ouvi uma queixa deles…
Entretanto na casa ao lado da minha vive uma comunidade de gente vinda de Cabo Verde. São muitos… O que é curioso é que mal disponta o Sol, o som da música africana ouve-se a… quilómetros de distância.
Ora bem… se eu for lá pedir para colocarem a música mais baixa porque me está a incomodar chamam-me logo de racista por que eu não quero que eles escutem a música deles, quando o problema reside somente na vontade de não ouvir a música aos berros. Creio que terei o direito de estar em minha casa isento de barulhos incómodos.
Pois é, mas eles gostam e eu tenho de me calar…
Resumindo: o racismo, quer queiram quer não, estará ligado à educação ou à falta dela! Tal como o filho genuíno do meu colega que viveu toda a vida no meio de gente africana e pensava tal como eles, o inverso aconteceu com o rapaz que lhe calhou em destino.
No mundo actual com tantas variantes e escolhas como poderemos assumir que alguém é mais ou menos culto? Qual a verdadeira matriz (se a houver)?
Dou o meu exemplo: a minha cultura de videojogos equivale a zero. Tal como da música pimba. Mas sei quem foi Prokofiev ou Shostakovich. Tal como sei quem foi Somerset Maugham ou quem é Lawrence Ferlinghetti.
Todavia este meu simples conhecimento daqueles compositores e escritores e o desconhecimento total de jogos e música popular não faz de mim alguém mais culto que outras pessoas que apreciam outros tipos de música ou de leitura.
O que equivale dizer que a cultura não é um bem físico, mas tão somente quase um estado de alma.
Teoricamnte ser culto é saber pouco de muita coisa ou muito de pouca coisa? Pois a resposta não parece fácil...
Já vi concertos, espectáculos, exposições, galerias de arte e muitos museus. Viajei e absorvi culturas. Serei por tudo isto mais culto de outrém que nunca saiu da sua aldeia?
O tema é deveras complicado e sem uma verdade absoluta, até porque há muita gente que acha que a cultura é um pedaço de conhecimento que se compra numa qualquer loja de conveniência.
Após uma manhã a passear pelos claustros e demais divisões e salas do Mosteiro de Jesus onde a Santa Joana Princesa se encontra sepultada foi o momento de rumar a sul.
Mas o destino não era casa, não senhor! Um desejo antigo de visitar o Museu do Vidro na Marinha Grande foi prioritário. Às duas da tarde já estavamos a falar com dois mestres do vidro: o José M., lapidador e que consegue com arte e engenho fazer coisas líndíssimas e com o Mário R., um jovem de oitenta e sete anos, que se especializou em moldar o vidro através de maçarico.
O Museu em si tem peças fantásticas e tão corriqueiras na nossa vida que nem damos real valor ao trabalho a que o vidro obrigou.
Foi notícia de primeira página num jornal diário a errada atribuição da autoria de um poema a Sophia de Mello Breyner Andresen.
Segundo o autor do texto, a filha da poetisa tenta desassociar o escrito da suposta autora. Todavia parece um trabalho árduo já que numa pesquisa rápida na Internet este poema está (quase) sempre atribuído à primeira mulher vencedora do Prémio Camões.
Voltando ainda ao texto do jornalista, este refere que o poema é “…fraquinho…” entre outros epitetos desvalorizando obviamente os versos. Não sou um especialista na escrita da poetisa nascida no Porto e portanto não posso avaliar se o poema teve ou não o cunho de Sophia.
Mas nestas coisas de direitos de autor e apócrifos fico sempre de pé atrás, porque não percebo porque alguém que escreve um texto deixe que a autoria do escrito seja atribuído a outrém sem que isso o melindre. Só se houver segundas (más) intenções, o que não parece ser o caso.
Há, no entanto, nesta história algo estranho, aspectos que não consigo compreender. Primeiro a forma como este poema aparece ligado à Sophia, depois a sua imensa proliferação.
Fica somente uma questão: não poderia a poetisa ter somente escrito um poema menos bom aos olhos dos especialistas?
Quem anda pela escrita nem sempre é feliz nos seus textos. Faz parte da vida!
Tal como havia escrito neste postal em Abril passado, regressei à capital do Alto Alentejo. A cidade museu onde ao dobrar de uma esquina há um antigo palacete, uma janela bonita, um azulejo especial.
No Museu do Relógio encontravam-se três aparelhos já reparados e tendo em conta o sábado achei por bem regressar a uma cidade, da qual gosto especialmente.
Nunca lá trabalhei nem nunca lá vivi. Todavia Évora é uma cidade fascinante.
Eram 10 e maia da manhã quando cheguei a uma cidade que se encontra em festa, à conta do S.João. Percorri as ruas pejadas de turistas, visitei demoradamente a Igreja do Convento de S. Francisco, assim como uma exposição de Presépios pertencentes a um casal da terra, com mais de 2700 peças.
Uma exposição de peças de arte sacra e paramentos, também pertencentes ao velho Convento Franciscano, foi outra das mostras que visitei.
A igreja do Convento surgiu como uma belíssima surpresa. Totalmente recuperada desde 2015, merece um olhar atento sobre a quantidade de retábulos expostos. Todavia de toda ela sobressai esta Capela pela sua imponência e beleza.
Mas, sinceramente, todo o trabalho de restauro feito na igreja está ao nível de muita coisa que já vi fora de Portugal. Muito, muito bom!
A Capela dos Ossos, celebérrimo templo anexo ao Convento continua a ser um monumento curioso. Especialmente a sua frase na entrada: "Nós ossos que aqui estamos pelos vossos esperamos", como que a dar a chamar-nos à atenção para a nossa efémera vida.
Tentei entretanto chegar à Sé, mas esta fechou cedo demais para o meu tempo. Só que já em tempos a visitara... Portanto não fiquei grandemente aborrecido!
Aproveitei para ver se as obras ao lado já haviam terminado.
Foi um acaso. Olhei para o escaparate e vi as figuras inconfundíveis de Astérix e Obélix. Primeiro pensei que fosse a última aventura dos irredutíveis gauleses, mas logo percebi que não.
Tratava-se simplesmente de um número especial unicamente sobre "L'art de Astérix", publicado pela revista francesa L'express.
Obviamente que entrei na loja e adquiri a revista.
Assim que pude sentei-me a folhear aquelas mais de cem páginas coloridas e não só e onde numa primeira vista se pode observar e saber muitos pormenores e opiniões sobre a dupla que há 58 anos publicou pela primeira vez numa revista da especialidade, que Udrzo e Goscinny criaram chamada Pilote, as primeiras pranchas de Astérix e o seu fiel amigo.
E tudo em bom francês!
Fiquei de tal maneira absorvido pelas imagens e por alguns textos que pude ler, que fiquei sem almoço.
Mas foi por uma boa causa, dga-se de passagem.
Um documento muito especial, principalmente para os amigos do gaulês de bigodes loiros.