Não me recordo de haver duas semanas políticas tão inúteis, como estas últimas.
A demissão de Vítor Gaspar fez implodir o Governo. O líder do CDS demite-se das suas funções, devido à entrada de Maria Luís para as Finanças. Passos Coelho tenta segurar Paulo Portas com um novo (re)acordo entre os partidos da coligação dando-lhe o lugar de vice Primeiro Ministro. Sem se perceber ainda muito bem porquê, o Presidente da República meteu-se nesta brincadeira, lançando mais pólvora para uma fogueira já de si demasiado crepitante.
Obviamente que a semana de reuniões tripartidas foi um “flop” e Cavaco Silva, tal como eu calculei aqui, acabou por aceitar o governo de Passos Coelho com ou sem remodelação. A pergunta permanece assim no ar, qual nuvem plúmbea: porquê senhor Presidente?
Olhando à distância estes (novos?) líderes partidários, Pedro, Paulo e António José, quase se assemelham a três crianças a brincar felizes aos políticos, enquanto o avô Aníbal se diverte a observá-los placidamente.
Creio que é tempo de deixarmo-nos de brincadeiras e começar a sério a trabalhar, para que não hipotequemos definitivamente o nosso futuro e o dos nossos filhos.
A Montanha “nem” pariu um rato. Assim se pode resumir esta ultima semana de negociações, entre PSD, CDS e PS. Cada um à sua maneira foi atirando para os outros as culpas dos insucessos. O usual, nestes casos!
Enquanto isso, os partidos à esquerda e as Confederações sindicais reclamam eleições antecipadas. O patronato, por sua vez, prefere que este governo se mantenha em funções.
Resumindo, o actual PR expôs-se, ao desejar um governo de “Salvação Nacional”, ao ridículo de se as negociações falhassem, como aconteceu, ter de aceitar o governo proposto por Passos Coelho ou então convocar novamente eleições, com os enormes custos políticos, sociais e económicos que dessa decisão adviriam para o nosso país.
Mas se o PR não fica bem neste “fotografia” política, também o PS não sai desta telenovela sem culpas. Era óbvio que o partido do Largo de Rato não desejava ficar ligado às futuras decisões governamentais. Os custos eleitorais dum aval a um outro governo PSD/CDS seriam incalculáveis. Mas ao invés do que afirma, Seguro foge de ser governo como “o diabo foge da cruz”. O tempo é ainda de vagas anorécticas. E o PS quer ter dinheiro para gastar, bem à moda “socratiana”.
Temos assim um Presidente diminuído politicamente, um PS amedrontado com a eventual marcação de eleições e um governo também ele estranhamente (ou talvez não!) silencioso. Muito (ou quase nada?) se espera da próxima comunicação ao país de Cavaco Silva.
A verdade é que com todo este imbróglio político já se passaram duas semanas. E Portugal não se pode, nem deve dar a estes luxos democráticos, sob pena de jamais sairmos desta crise que a todos assola.
Quando já tudo se encontrava apaziguado, decidido e assumido, eis senão quando, o senhor Presidente da República, acaba por lançar fogo ao clima político que ora se vive.
Numa semana demasiado tórrida tanto em termos caniculares como em termos partidários, nada pior que um PR a lançar para uma virtual mesa de negociações, as premissas para um acordo de “Salvação Nacional”.
Esta decisão presidencial veio criar diversos problemas, não só logísticos como também estratégicos para o (ainda) actual governo, entretanto (re)acordado entre PSD e CDS. Para o PS a notícia também não é boa… longe disso. O partido de Seguro ficará agora “entalado” entra as suas (poucas) propostas apresentadas e a avalização das futuras decisões governamentais. Era evidente que neste momento o que o PS menos desejava e esperava era ser governo, independentemente dos diversos apelos a eleições antecipadas por parte de Tó Zé Seguro.
Por outro lado o professor Cavaco deu um puxão de orelhas no governo, retirando-lhe outrossim alguma confiança política.
Observado por outro prisma, este “incêndio” político vai criar uma instabilidade que não é de todo desejável. Daqui a uns tempos estaremos a ouvir Pedro Passos Coelho ou Paulo Portas a queixarem-se de não conseguirem aplicar medidas porque o PS não concorda e este a lamentar-se por que as suas ideias não são bem recebidas pela maioria parlamentar.
No limite talvez entenda o que pretendeu Cavaco com esta tomada de posição, mas creio que o fez tarde demais. Em 2011, teria sido um bombeiro salvador.
A crise política e governamental criada com a demissão de Vítor Gaspar e a nomeação de Maria Luís Albuquerque para o lugar deixado pelo técnico do Banco de Portugal, colocou a Portas uma série de (boas) premissas de forma a ascender no governo.
Era evidente que a sua quase permanente ausência de Portugal, devido ao Ministério que encabeçava, deixava-o fragilizado e sem grande capacidade de negociação numa futura remodelação (que se previa!).
Com os dados lançados com a demissão do Ministro das Finanças, Portas espreitou a oportunidade de, lançando ainda mais confusão no governo com a sua demissão, ascender alguns lugares no elenco liderado (?) por Passos Coelho.
Ao contrário daquilo que alguns comentadores dizem dele, Portas sabe como tudo reage. E creio que ao demitir-se, o líder do CDS teve perfeita consciência dos custos financeiros que a sua decisão teria para o país, mas sabia que ganharia outra força dentro do governo.
Uma jogada de mestre, digo eu!
Deixou assim que Maria Luís Albuquerque se mantivesse no governo mas açambarcou com essa cedência algumas pastas que se prevêem num futuro como assaz importantes.
O “flic-flac” político desta semana foi inteligente por parte de Portas, mas com custos evidentes. Deu-lhe mais poder sim, mas quiçá queimou-o perante um eleitorado demasiado conservador e pouco apreciador deste tipo de “tricas” políticas.