Este fim de tarde, início de noite saí de casa para ir à farmácia aviar-me de... saúde!. Corria um vento frio e pouco agradável ao qual contrapus alguma roupa mais quente.
Mãos nos bolsos aí fui eu e mais os pensamentos, principalmente os derivados da escrita em busca de uma qualquer ideia para um próximo conto de Natal.
Entrei no bairro da farmácia e deparei logo com sinais luminosos. Todavia estava tão absorvido nas minhas ideias que nem liguei ao semáforo vermelho para a passagem pedonal e atravessei sem parar. Do lado contrário aguardavam dois peões.
Mal acabo de atravessar a passadeira oiço:
- Porque passaste?
Percebi logo que a crítica era comigo. Eu espantado, o puto zangado, a mãe envergonhada. Mas ao invés de seguir o meu caminho recuei uns passos e assumi:
- Tens toda a razão! Não deveria ter atravessado a passadeira com o sinal vermelho. Muito bem observado.
A mão aliviada pela minha postura acabou por me confessar:
- É um desbocado...
- Não faz mal. Eles também nos ensinam!
Finalmente e em jeito de remate perguntei-lhe:
- Como te chamas?
O que eu percebi foi um nome estranho e por isso ousei perguntar à mãe:
- Como?
- Angélico!
- Ahhhh!
Na verdade não percebera mal. Depois terminei.
- Boa noite e obrigado!
Segui o meu caminho até à farmácia enquanto pensava no coitado do miúdo que não teve culpa alguma no nome que lhe deram!
A minha neta entrou esta semana na pré-primária, num infanário com essa valência. Vivaça e extrovertida a cachopita ambientou-se muito bem mostrando uma postura educativa muito acima dos seus coleguinhas.
Portanto hoje iniciou o primeiro fim de semana... sem escola, mas que ela não desejava! Pudera... brincadeira até mais não, muitas crianças para conviver e outros tantos desafios, após mais de quatro anos a lidar com gente mais velha, será certamente muito mais tentador!
Espero que continue assim! Que prefira sempre os bancos da escola para aprender e não siga o péssimo exemplo do avô que nunca gostou de estudar!
Há cá em casa uma imagem muito antiga que representa a descrição bíblica da "Fuga para o Egipto" de Jesus Cristo, ainda muito pequeno, acompanhado de sua Mãe Maria e seu Pai José.
Hoje a minha neta olhou para a criança que representa o menino Jesus e perguntou-me com a natural inocência infantil:
- Quem é aquele menino, avô?
Ui e agora pensei? Se bem que pai e mãe tenham feito todos os mandamentos de igreja, é certo que ainda têm os filhos por baptizar. Uma opção que aceito, mas gostaria que fosse diferente. Bom então lá tentei explicar quem foi Cristo, o que fez no Mundo e o que representa para mim. Até aqui foi tudo pacífico, ela escutou interessada só que haveria de se alterar no preciso momento em que usei a palavra fé!
- E o que é a fé, avô?
Pronto e agora como descalço esta bota, perguntei a mim mesmo. Mas nesse preciso instante fui salvo pela cadela que entrou na sala e chamou a atenção da miúda. Porém como sei que a catraia tem memória de elefante arrisco dizer que daqui a dias voltará à questão da saber o que isso da fé.
Tenho assim, entre mãos, um problema bicudo para resolver porque, como já escrevi noutros postais, a fé é algo que não se descreve apenas se sente. E como explicar este sentimento a uma criança de quatro anos?
Enfim, nada como as crianças para nos colocarem as perguntas certas. Espero apenas ter a capacidade de conseguir esclarecê-la.
Como automobilista prefiro andar mais um ou mais quilómetros para fugir aos centros urbanos que atravessar uma cidade em pleno dia. Tudo por causa das passadeiras de peões que, como todos sabem, são para mim horríveis.
É verdade que este meu despeito advém de um acontecimento (leia-se atropelamento) que eu causei numa passadeira vai para mais de uma dezena de anos. Um momento que marcou a minha vida para sempre, não obstante o peão ter ficado bem (esteve uns dias em observação no hospital de Santa Maria, mas saiu sem mazelas).
Todavia há algumas que não posso evitar, como por exemplo ao fim da minha rua onde há uma passadeira sempre com muita gente a passar.
Ora um destes dias parei nessa zebra rodoviária para permitir que uma mãe a atravessasse em segurança, levando uma criança pela mão. Enquanto percorriam os três a quatro metros da rodovia, o menino olhou para mim e fez-me adeus sorrindo, num agradecimento que me envergonhou, já que não o costumo fazer quando sou peão.
Fiquei a matutar naquele gesto tão genuíno e tão puro e concluí que mesmo com esta idade ainda tenho muito para aprender! Mesmo que seja cidadania!
Caiu no meu telemóvel através de uma rede social um pequeno filme onde um menino americano de 4 anos manuseava uma arma como quem monta um Lego Duplo.
A senhora que o entrevista parece feliz por uma criança tão pequena se mostrar tão competente no uso de uma espingarda.
Recuso-me, por objecção de consciência, a divulgar tais imagens porque não sendo sangrentas apontam para uma violência quase gratuita.
É certo que a nossa cultura baseada em brandos costumes não se revê nesta estranha filosofia americana onde um inocente lida com uma arma verdadeira como se esta fosse um mero brinquedo. E claro com o concluio familiar, arriscando-me mesmo a afirmar com o estímulo dos pais.
Não percebo nem concebo esta visão tão bélica dos americanos, mas tomando este filme como exemplo não admira o caso do início desta semana no Texas, com os trágicos resultados que todos sabemos.
É a hora de regressar a casa para o almoço que já está feito, basta aquecer!
Pego no saco, chapéu, sandálias e bolsa onde dorme o telemóvel, chave do carro e carteira e ponho-me a caminho para a saída. Máscara colocada entro no passadiço de madeira em busca de um lugar onde possa sacudir a areia antes de me calçar.
Um gesto simples, comum e sem nada de mais. Encontro um banco de madeira, sento-me e vou aliviando-me da areia.
Estou nestes preparos quando passa por mim uma menina de 4/5 anos:
- Olá - cumprimenta ela sem me conhecer.
Espantado de início respondo logo:
- Olá!
A mãe passa por mim, ri mesmo por detrás das máscara, quiça também espantada com o cumprimento. Já estou no fim da minha actividade, recupero as coisas e sigo a jovem mãe a quem digo:
- Mais educada que a maioria dos adultos.
Ultrapasso-as e devolvo à menina:
- Bom almoço!
A mãe responde:
- Obrigada!
A menina acompanha a mãe:
- Obrigada.
Encaminho-me para o carro com o pensamento neste breve diálogo e concluo como as crianças têm tanto para nos ensinar!
Pois é... à beira mar olho para as crianças e percebo que nenhuma delas tem frio quando entra na água do mar.
Deste modo penso muitas vezes que gostaria de voltar a ser miúdo, não para escutar ralhetes, mas para não ter qualquer medo da água gelada, que vai invadindo as nossas praias.
Sou pai de dois filhos, hoje homens. Porém quando crianças foram muito difíceis de lidar. Especialmente de noite pois adoravam atazanar a vida aos progenitores não os deixando dormir.
Após essa fase veio a escola com diferentes posturas. Um muito "baldas", nada atento e sempre com o sentido na brincadeira, outro mui interessado em tudo, compenetrado e responsável.
Finalmente já crescidos os grandes decisões da vida: este ou aquele emprego? O que gosto de fazer ou o que quero ganhar? E mais uma vez cada um decidiu à sua maneira.
Ser pai ou mãe não é fácil! Especialmente numa altura destas em que o desemprego grassa em muitas famílias e nada há para tapar a boca os inocentes.
Ser pai ou mãe deve ser um acto de grande empenhamento e responsabilidade. A criança não pediu para vir ao mundo.
Ser pai ou mãe é maravilhoso.
Por tudo isto não entendo o que passou pela cabeça daquele energumeno que navalhou uma criança de seis meses. Para mim não devia ter direito a prisão. Não quero pagar para que esse tipo esteja preso. Tirem-no deste país e desterrem-no para uma ilha deserta donde nunca mais possa sair.
Ao contrário do que é costume nem tudo o que vem lá de fora é positivo!
Tenho dois filhos, hoje homens. Mas criei quatro crianças, os meus infantes e dois sobrinhos um pouco mais velhos. Andei anos com estas quatro crianças quase sempre atrás de mim. A vida profissional dos meus cunhados abrigava-os a longas ausências e assim foi comigo que todos viveram.
Mas nunca, repito nunca desapareceu um deles, nem os perdi fosse na praia ou em qualquer lado. Com uma disciplina não assaz rígida mas eficaz, controlava os miúdos.
Obviamente nunca estava descansado, mas é um preço que temos de pagar. Adiante...
Hoje fui à Baixa Pombalina. Repleta de estrangeiros até mais não, a aproveitarem este sol com que somos brindados quase todos os dias. Gente de todos as nações e cores. Novos, menos novos, crianças... tudo a passear numa cidade que é das mais bonitas da Europa.
A certa altura cruzei-me com uma criança de tenra idade - entre os três e os quatro anos - envolta numa espécie de trela que a mãe segurava a distância de metro e meio. Senti que o ser humano não podia descer mais baixo. Nem aos animais concordo com a prisão a um cinto, quanto mais uma criança.
Ao almoço relatei o que vi com a família e responderam-me que no estrangeiro é costume ver-se este tipo de "ligação" entre pais e filhos.
E a justificação de raptos de menores não colhe.
Uma mão bem firme segura sempre a mais frágil enquanto ao mesmo tempo dá e recebe... carinho!