Uma das dificuldades que sinto quando estou a escrever as minhas estórias (leia-se contos!) prende-se com os nomes das personagens.
Desde já assumo que detesto usar mais do que uma vez o mesmo nome, mas já me aconteceu. Também é sabido que mesmo nas famílias há muita gente com o mesmo nome.
Enfim... esta é uma espécie de bravata que vou alimentando, sempre no sentido positivo de angariar nomes novos para adaptar às personagens que vou criando.
Mas há uma regra que tento respeitar ou seguir e que tem a ver com a existência real de alguém com esse nome. E quem diz nome diz alcunha. Portanto todos os nomes que apresento são ou foram de alguém, por muito estranho que possa parecer.
Um dos mais invulgares que consegui foi um tal de Portazio que não imagino quem tenha sido e se encontra sepultado dentro da pequena capela da minha aldeia. Pois é... os cemitérios e demais sepulturas são lugares fantásticos para se obterem nomes bizarros. Pode parecer mórbido, mas de alguma forma, ao dar um nome proveniente de alguém sepultado, estou postumamente a homenagear esse defunto.
Entretanto e para terminar confesso que no meu mais recente livro tive de inventar 119 nomes, já para não falar de alcunhas.
Não sei se corresponde à verdade esta máxima, mas está prestes a aparecer o meu terceiro livro. Uma vez mais, e a exemplo dos anteriores, um livro de contos e que também não estará à venda numa qualquer livraria. Provavelmente um dia poderei até encontrar um exemplar num alfarrabista, mas ainda assim acredito que deverá ser difícil.
Com esta terceira aventura termino a minha trigolia de contos. O passo seguinte será eventualmente ousar em escrever algo diferente ou pelo menos mais longo como são geralmente os romances. Atenção que eu não estou a assumir que irei escrevê-lo já, todavia corresponde a um desejo mui pessoal. E assaz antigo.
Daqui a mais uns dias (não imagino quantos!) terei mais umas caixas para abrir e distribuir por alguma família e amigos os meus pobres livros. Aindo hoje entreguei dois exemplares do livro do ano passado.
Entretanto este ano há, ainda, um prefácio muito bem assinado por uma amiga de muuuuuuuuuuuuuuuitos anos e de muitas escritas.
Por fim a dedicatória deste livro recaíu sobre todos os elementos da família Xã. Estejam eles vivos ou tenham já partido. Era o mínimo que poderia fazer por quem, sem contudo o saber, me fez chegar aqui.
Uma das "vítimas" do meu último livro é um velho amigo que depois de o ter lido me perguntou:
- Como consegues inventar todas estas estórias?
- Basta imaginação...
- Mas muita...
É verdade que já por diversas vezes me perguntei onde vou buscar estas ideias, como consigo decalcar a minha imaginação num simples texto?
A resposta estará algures na minha infância. Naquele tempo as crianças eram educadas sob um regime autoritário sem direito a serem defendidos por APAV's e associações congéneres.
Em casa com um pai sempre a navegar por mares quase sempre alterosos e sem irmãos nem primos próximos, passava o dia sozinho com meia dúzia de brinquedos, maioritariamente "carrinhos" da marca Matchbox com os quais me entretinha o dia inteiro. Foi com estes que, durante anos, brinquei. Sem companhia ia inventando estórias e mais estórias para com elas dar vida às minhas brincadeiras.
Recordo sem saudade esse tempo triste e sem graça, mas provavelmente foi aí que estimulei a minha imaginação e que hoje uso amiúde. Também é certo que sempre absorvi tudo o que me rodeava... fossem factos, palavras ou singelos momentos que depois transferi para alguns dos meus contos.
Finalmente e em jeito de rodapé, gostaria de aproveitar esta imaginação que ainda me sobra e saltar para um patamar de escrita bem superior. Diria que esta fórmula quase "cor-de-rosa" que tenho usado nos meus livros estará quase esgotada. Portanto das duas uma: ou dou agora o salto ou dificilmente sairei deste nível.
(Adoraria ler o livro de contos com que Mia Couto ganhou o prémio Branquinho da Fonseca).
Tenho entre mãos os "Contos" escritos pelo rei do Romance português. Sendo eu um apaixonado por aquete tipo de literatura e um admirador confesso de Eça de Queirós será (quase) certo que irei gostar deste livro.
Até pode ser que se proporcione a leitura de outras ficções queirosianas! Que também as cá tenho!
Ainda há pouco tempo sonhava em ver algo que eu tivesse escrito publicado em livro para de um momento para o outro tudo se alterar muito por força de um desafio blogosférico e de um concurso literário organizada pelo Grupo Desportivo e Cultural da empresa onde trabalhei muitos anos.
Obviamente e em relação ao concurso não ganhei qualquer prémio, mas ainda assim o meu texto foi incluído neste simpático livro.
Ora, e de um momento para o outro estou em dois livros diferentes com estórias e projectos (quase) antagónicos.
Como diz e bem o povo: não há fome que não dê em fartura!
E em vez de escrever aqui mais uma das muitas parvoíces com que vou preenchendo este pobre espaço, decidi acabar uma antiga história e publiquei-a aqui.
No sítio do costume. E não foi necessário qualquer passarada!