Há muitos anos costumava dizer aos meus colegas e amigos: sempre tive bom gosto, mas faltou-me sempre o dinheiro para o provar.
Curiosamente um destes dias vi "en passant" numa qualquer série televisiva uma senhora a dizer: que o relógio e os sapatos definem um homem!
Quanto ao relógio estou plenamente de acordo desde que não seja um daqueles "cachuchos" com 1 milhão de pedras preciosas e pesado como a consciência de muitos. Quanto aos sapatos... continuo a preferir o calçado luso que sempre mostrou ser melhor que o estrangeiro.
Isto para dizer que o dinheiro tem sido o pior mal de toda a humanidade! Desde sempre. O vil metal compra casas, carros, relógios ou sapatos. Mas compra também ideias e consciências. No entanto não compra a vida por inteiro. Talvez por isso os cemitérios estão repletos de gente convencida do contrário!
Ora por ter receio de um dia vender a minha alma ou consciência por uns estúpidos euros, prefiro ter a certeza que a minha verdadeira riqueza está naqueles com quem lido, sejam eles família ou imensos e bons amigos.
O dinheiro serve naturalmente o nosso bom gosto, mas deveria servir, acima de tudo, o nosso bom viver... com os outros!
Há 40 anos quando estava a poucas semanas de ingressar num novo trabalho, um tio próximo deu-me o seguinte conselho: toma cuidado como entras na empresa, já que a primeira imagem que deres aos teus colegas será aquela que irá perdurar para sempre.
Fiquei um tanto apreensivo, mas depressa percebi quão verdade havia sido aquele aviso, já que anos mais tarde alguns dos colegas que tinham entrado comigo no mesmo dia receberam outros desafios, enquanto eu me mantinha no meu local de trabalho original.
É certo que jamais usei de subterfúgios para alcançar outros cometimentos, como alguns usaram. Nunca foi do meu feitio pois sempre gostei de ser sério... comigo mesmo. De pouco me valeu esta postura já que muitos ultrapassaram-me pela direita e pela esquerda, enquanto mantinha o mesmo caminho. O dinheiro para mim não é tudo, nunca o foi, e a minha consciência tinha e tem muito mais valor que uns meros euros a mais no fim do mês.
Talvez por isso (ou provavelmente não!) ainda hoje sou recordado por antigos colegas com quem trabalhei, não obstante já estar reformado há dois anos. De tal forma que marcaram um churrasco e convidaram-me para fazer parte do convívio. Podiam perfeitamente não o ter feito, já que não têm qualquer obrigação para comigo.
Tudo isto para dizer simplesmente que a vida também nos dá alguns prémios. Não serão Óscares “hollywoodescos”, mas ainda são prémios. E boooooooons!
Fica por dizer, porque nunca o soube, qual foi a imagem que os colegas tiveram de mim naquele dia de Outono, há 40 anos.
Cada dia que passa desta pandemia que se vai alastrado a todo o mundo, sem excepção, temos (ou deveríamos ter) uma maior consciência de que esta doença é demasiado mortífera para o nosso gosto ou melhor para o nosso tipo de vida.
Não sou possuidor de dados estatísticos, mas provavelmente haverá no final deste ano de 2020 mais mortes a nível mundial devido ao cancro ou a problemas cardíacos que devido ao Convid19. Todavia esta doença tem-nos limitado as vidas, começando no trabalho e terminando nas nossas relações mais próximas.
A liberdade que tanto idolatramos resume-se agora unicamente às palavras que vamos dizendo, ouvindo, lendo ou escrevendo. Tudo o resto está-nos vedado.
Mas tem de ser… De outra forma poderemos estar a criar uma bola de neve semelhante à que existiu há 100 anos e que matou milhões de humanos por todo o mundo.
Custa ficar confinado? Custa.
É difícil trabalhar em casa? É.
Todavia esta é uma causa profunda e de todos para todos.
Sejamos assim conscientes do nosso lugar, função e atitude não só para os nossos mais próximos, mas essencialmente para os outros.